A Condromalácia Patelar pode ser um problema sério já que o joelho é a articulação mais complexa do corpo humano, sua função está relacionada diretamente com três sistemas que compõem o sistema locomotor, a anatomia do sistema ósseo, à atividade muscular integrada e às estruturas ligamentares.
O sistema locomotor, por ser frequentemente utilizado, está sujeito a esforços e tensões, o que torna frequente a instabilidade de suas articulações.
O complexo articular do joelho é formado por quatro ossos distintos; fêmur, tíbia, fíbula e patela. Essas estruturas ósseas formam duas articulações, tibiofemoral e femoropatelar (SPENCE, 1991).
A articulação do joelho permite a sustentação de grandes cargas, assim como a mobilidade necessária para as atividades de locomoção (HALL, 2009). A articulação do joelho é um elemento que fornece estabilidade e mobilidade para todos os aspectos da cinemática.
Do ponto de vista ósseo, a estabilidade do joelho pode ser considerada fraca, esta é assegurada principalmente pelos sistemas ligamentar e muscular.
“Biomecanicamente, a articulação do joelho possui duas funções: fornecer estabilidade quando em extensão completa – posição na qual possui características de suporte de esforços devido ao peso corporal; e mobilidade partindo de certo ângulo de flexão – fornece mobilidade indispensável ao trajeto e orientação do pé relacionado às desigualdades do terreno”. (SOUZA, et al., 2015)
Segundo Andrews et al. (2000), a articulação do joelho é uma das mais lesadas em todo o corpo, em especial em indivíduos que participam de atividades físicas, por isso a importância desse artigo de hoje!
Articulação do Joelho
Vamos falar um pouco sobre a articulação do Joelho para depois podemos conversar sobre a Condromalácia Patelar e como o Método Pilates pode nos ajudar a trabalhar com os alunos/pacientes que apresentam essa disfunção.
Estrutura Óssea do Joelho
Quando falamos sobre a estrutura óssea do joelho, estamos nos referindo à patela, que caracteriza-se como a estrutura principal e central do mecanismo extensor do joelho e atua como um pivô da articulação.
Tem como função aumentar a vantagem mecânica do quadríceps femoral durante uma extensão do joelho.
A patela trabalha deslocando a direção do tendão para longe do centro articular, assim aumenta a potência do quadríceps femoral e também a vantagem mecânica da articulação (MALONE et al., 2000).
Estrutura Articular
O joelho é uma articulação sinovial classificada tipicamente como articulação em charneira ou dobradiça.
Articulação Femoropatelar
A articulação femoropatelar está localizada entre a patela e o sulco troclear do fêmur.
O principal movimento desta articulação é o deslizamento da patela sobre o fêmur, na superfície posterior da patela é recoberta por uma cartilagem, a qual é considerada a mais espessa que se tem no corpo humano (LIMA; MEJIA, 2012).
Ângulo “Q”
O Ângulo Q ou também chamado de Ângulo Quadricipital, é formado pelo cruzamento de duas linhas imaginárias.
A primeira formada da espinha ilíaca ântero-superior (EIAS) até o ponto médio patelar, e a segunda, da tuberosidade anterior da tíbia até o ponto médio patelar, sendo seu valor normal, em média, de 13° nos homens e 18° nas mulheres.
O aumento do ângulo Q cria uma maior alteração em valgo e aumenta a tração lateral da patela, causando o aumento da pressão na faceta lateral patelar.
Isso pode conduzir a uma subluxação patelar, amolecimento da cartilagem e estresse do retináculo, além de contribuir para a propagação da disfunção femoropatelar.
A mensuração desse ângulo pode ser realizada através de radiografias ou pela goniometria e de diferentes formas, com o paciente/aluno em posição supina, em ortostatismo ou sentado.
Função Biomecânica da Patela
A mais importante é a de aumentar o ângulo de tração do tendão do quadríceps sobre a tíbia, aumentando assim, a vantagem mecânica para o quadríceps realizar a extensão do joelho (HALL, 2009).
Funcionalidade dos Estabilizadores Patelares
A comparação entre os músculos Vasto Medial Oblíquo (VMO) e Vasto Lateral Longo (VLL) e Vasto Lateral Oblíquo (VLO), revelou que no exercício de extensão isométrica a 15º de flexão do joelho não há diferença na ativação destes músculos.
Por outro lado, ao realizar os mesmos exercícios com o joelho fletido no ângulo de 90º os músculos VMO E VLO apresentaram o mesmo comportamento e foram significativamente mais ativos do que o músculo VLL. (GROSSI, 2004).
Evidências clínicas demonstram que os músculos do quadríceps, ao serem submetidos aos exercícios específicos, provocam o alinhamento da patela.
Definição de Condromalácia Patelar
Historicamente, a Condromalácia Patelar (CP) era o diagnóstico dado à maioria dos pacientes com reclamações de dor na região anterior do joelho (THE INTERNATIONAL PATELLOFEMORAL STUDY GROUP, 1997).
Condromalácia Patelar ou Condropatia Patelar, refere-se à perda de cartilagem envolvendo uma ou mais porções da patela, sua incidência na população é muito alta, aumentando conforme a faixa etária, sendo mais comum em pacientes do sexo feminino e com excesso de peso (FREIRE, 2006).
Segundo Moreira e Russo (2005), a CP consiste em um processo degenerativo da cartilagem articular da patela, tornando-se amolecida, tumefeita e esponjosa.
Clinicamente, durante a movimentação do joelho nota-se a presença de crepitações articulares, em geral associadas à dor, localizada profundamente de forma difusa na região anterior do joelho.
Segundo Hall (2009) a CP, também designada síndrome dolorosa patelofemoral, envolve dor na face anterior do joelho durante e após a realização de atividades físicas, principalmente as atividades que exigem o movimento repetido de flexão do joelho, como por exemplo, a corrida, a subida e descida de escadas e o agachamento.
A Condromalácia patelar pode ser classificada de acordo com o grau de deterioração, segundo Outerbridge (1961):
Etiologia da Condromalácia
A etiologia da Condromalácia Patelar ainda não é totalmente esclarecida e pode ser multifatorial. Os fatores que podem estar relacionados com a etiologia da patologia são classificados em intrínsecos e extrínsecos.
Os fatores intrínsecos podem ser compreendidos como aqueles ligados ao corpo do indivíduo, dentre eles podemos destacar:
- Subluxação Patelar
- Desequilíbrio Muscular
- Músculo Vasto Medial Ineficiente
- Patela Elevada
- Rotação Externa da Tíbia
- Falta de Flexibilidade dos Ísquiotibiais
- Gastrocnêmios
- Sóleos e Trato Ílio Tibial
- Fraqueza dos Músculos Abdutores e Rotadores Externos do Quadril
- Pé Cavo ou Valgo
- Displasia Troclear
- Displasia da Patela
- Frouxidão Ligamentar
- Aumento do Ângulo Q
Já os fatores extrínsecos são relacionados com as condições fora do corpo humano, bem como: hábitos sociais e desportivos – mais frequentes; trauma direto; uso excessivo da articulação; tipo e intensidade da atividade desportiva; tipo de esporte praticado.
Método Pilates x Condromalácia Patelar
Não há um protocolo rígido de tratamento.
É importante analisar o grau da lesão adquirida e se direcionar às causas, sempre tentando reequilibrar o alinhamento da patela, inicialmente através de tratamento fisioterápico, podendo associar a métodos analgésicos e antiinflamatórios.
A perda de peso, em determinados casos, pode ser recomendada para diminuir o estresse sobre a articulação patelofemural.
Em casos graves muitas vezes é necessário tratamento cirúrgico, em que procedimentos combinados para tratamento do alinhamento patelar e tratamento da lesão da cartilagem podem ser realizados por via “aberta”, artroscópica ou mesmo combinada.
O Método Pilates pode ser um grande aliado para o paciente/aluno que sofre com a CP, pois é uma atividade que não impõe grande desgaste articular e cujo número de repetições de cada exercício é comumente reduzido, utilizando que baixa carga e sobrecarga constante.
Assim, promove-se a prevenção e/ou tratamento de certas patologias, especialmente as ocupacionais, bem como a condromalacia patelar.
O Método Pilates age de forma fantástica no alinhamento patelar, bem como na estabilização do quadro da condromalácia.
Já que um dos objetivos principais do Método são o fortalecimento e estabilização dos músculos centrais do corpo aliada às técnicas que potencializam a respiração e seus benefícios, atingindo assim, o objetivo do aluno através do equilíbrio muscular.
A avaliação da força e da flexibilidade dos grupos musculares do paciente/aluno é de extrema importância para que se dê início à prescrição do programa de exercícios.
No caso da condromalácia patelar são inclusos exercícios de força, alongamento e mobilização do membro inferior, sempre com o cuidado de evitar sobrecarga na articulação em questão.
Durante as atividades do Pilates desenvolve-se alongamentos empregados de forma simultânea aumentando a flexibilidade dos músculos encurtados e melhorando a função da musculatura agonista.
Para o tratamento conservador da CP o Método Pilates mostra-se ser muito benéfico quanto ao ganho de flexibilidade da musculatura isquiotibial, reduzindo assim, o atrito entre patela e fêmur e também, em ganho de força muscular do músculo quadríceps femoral.
Muitos dos pequenos movimentos terapêuticos desenvolvidos para ajudar pessoas que se recuperam de lesões podem ser intensificados para desafiar atletas experientes, a fim de melhorar sua performance (CAMARÃO, 2004).
Concluindo…
Assim, torna-se indispensável que o profissional que atua na área do Pilates tenha amplo conhecimento da técnica e da patologia em questão.
Conforme Curi (2009), “no Pilates bem orientado por um profissional habilitado, é praticamente inexistente a possibilidade de lesões ou dores musculares, pois o impacto é zero”.
O Pilates pretende criar hábitos saudáveis que perdurem por toda a vida. Com sua prática, as pessoas aprendem a manter uma postura correta em diversas situações do cotidiano, como sentar, andar e agachar (MARIN, 2009).
Ótimo artigo. Linguagem clara e objetiva. Parabéns!