Os trilhos anatômicos, descritos por Thomas Myers, e o conceito de treinamento fascial, aprofundado por Robert Schleip, revolucionaram a forma como entendemos o movimento humano. Essas abordagens mostram que o corpo não funciona apenas por meio de músculos isolados, mas sim como uma grande rede interconectada.
No Pilates, essa visão abre novas possibilidades para tornar os movimentos mais eficientes, prevenir lesões e otimizar o desempenho. Quando combinamos o conhecimento sobre os trilhos miofasciais com princípios do treinamento fascial, conseguimos aprimorar a mobilidade, a força elástica e a propriocepção, permitindo que o corpo trabalhe de maneira mais inteligente e integrada.
Neste artigo, vamos explorar 4 estratégias para trabalhar os trilhos anatômicos e potencializar seus resultados. Boa leitura!
4 dicas para trabalhar os trilhos anatômicos no Pilates
Entender os trilhos anatômicos é só o começo. O verdadeiro impacto acontece quando aplicamos esse conhecimento na prática. Com apenas alguns ajustes nos exercícios, é possível ativar as cadeias fasciais de forma mais eficiente e inteligente durante as aulas de Pilates.
Confira agora 4 dicas práticas para explorar melhor essas conexões e transformar a qualidade dos movimentos dos seus alunos.
1. Explore movimentos multidirecionais e espirais
Os trilhos anatômicos são como “rodovias miofasciais” que percorrem todo o corpo, interligando músculos, fáscias e articulações. Muitas vezes, os exercícios convencionais seguem padrões de movimento lineares, o que pode limitar a ativação dessas cadeias.
Para estimular a totalidade das conexões fasciais, é importante incluir movimentos tridimensionais, como torções, espirais e oscilações suaves. Isso não apenas melhora a mobilidade articular, mas também aumenta a eficiência da transmissão de forças ao longo das cadeias musculares.
Como aplicar no Pilates?
- Mermaid no Reformer ou Side Bend no MAT: enfatize a expansão do tronco e a continuidade da rotação, garantindo que a Linha Lateral seja ativada ao longo de toda a cadeia miofascial;
- Twist no Reformer ou Spine Twist no MAT: conecte a rotação da coluna com o enraizamento dos pés, estimulando a Linha Espiral, essencial para padrões de movimento rotacionais eficientes.
A fáscia responde melhor a estímulos que envolvem variações de ângulo e tensão, pois isso ajuda a distribuir as forças de forma mais equilibrada, melhora a coordenação, a resiliência tecidual e a resposta proprioceptiva do corpo.
2. Utilize o retorno elástico da fáscia
Diferente dos músculos, que se contraem ativamente, a fáscia atua como um sistema de armazenamento e liberação de energia elástica. Esse mecanismo, conhecido como ‘recoil fascial’, permite que o corpo execute movimentos com maior eficiência energética e menor sobrecarga muscular.
Como aplicar no Pilates?
- Footwork no Reformer ou Ponte Dinâmica no MAT: experimente pequenos rebotes controlados ao pressionar as molas ou os pés contra o chão, permitindo que o tecido fascial absorva e devolva a energia;
- Running no Reformer ou Single Leg Stretch no MAT: execute com foco na elasticidade dos tendões, enfatizando a resposta natural da fáscia.
Ao treinar a fáscia para utilizar sua capacidade elástica, conseguimos melhorar a potência dos movimentos, reduzir o risco de fadiga precoce e prevenir lesões. Essa é uma estratégia poderosa para integrar os trilhos anatômicos de forma funcional e inteligente ao longo da prática.
3. Priorize a continuidade e fluidez do movimento
A fáscia não opera em segmentos isolados, ela forma uma rede contínua que conecta todo o corpo. Isso significa que qualquer interrupção na fluidez do movimento pode afetar a eficiência global do sistema.
Como aplicar no Pilates?
- Long Stretch Series no Reformer ou Swan Dive no MAT: visualize um impulso que percorre da cabeça aos pés, ativando a Linha Funcional e garantindo uma transmissão eficiente de força;
- Elephant no Reformer ou Roll Up no MAT: conecte a mobilidade da coluna ao alongamento ativo da cadeia posterior, estimulando a Linha Superficial Posterior;
- Swan no Reformer ou Swimming no MAT: explore uma transição suave entre extensão e flexão, garantindo que a fáscia anterior e posterior trabalhem de forma sincronizada.
Ao incentivar essa fluidez, promovemos maior integração corporal, reduzimos sobrecargas e ativamos com mais precisão os trilhos anatômicos durante cada exercício.
4. Aumente a consciência corporal e a propriocepção
A fáscia é um dos tecidos mais ricos em receptores sensoriais, sendo responsável por grande parte da percepção corporal e do controle motor. Quando treinamos a propriocepção, estamos estimulando essa rede sensorial, refinando a qualidade do movimento e prevenindo desequilíbrios posturais.
Como aplicar no Pilates?
- Exercícios com olhos fechados (qualquer exercício do MAT Pilates): eliminando o estímulo visual, forçamos o sistema proprioceptivo a trabalhar com maior eficiência;
- Mudanças sutis no ritmo dos movimentos (exemplo: Roll Up e Single Leg Stretch no MAT): alternar entre execuções lentas e rápidas melhora a capacidade do sistema nervoso de se adaptar a diferentes demandas motoras.
Ao aprimorar a propriocepção, melhoramos a estabilidade articular, prevenimos padrões de movimento compensatórios e aumentamos a capacidade do corpo de reagir de forma eficiente a diferentes estímulos.
Conclusão
Integrar os trilhos anatômicos e o treinamento fascial no Pilates transforma a maneira como nos movimentamos, permitindo um trabalho mais inteligente e funcional, respeitando a natureza contínua do corpo e otimizando a eficiência biomecânica.
Ao aplicar essas estratégias no Reformer e no MAT Pilates, você pode potencializar a performance dos seus alunos, melhorar a fluidez dos movimentos e garantir um trabalho mais completo para a saúde e o desempenho corporal.
Sobre o autor
Sou Renan Monteiro, fisioterapeuta, pós-graduado em Osteopatia e Terapia Manual, com formações em Pilates pela Stott Pilates e aluno da terceira geração em Pilates Clássico pela escola Dive Incorpus. Tenho especializações na área da fáscia pelos Métodos Anatomy Trains in Motion e Conceito Rolf.
Com 15 anos de experiência no ensino, sou especialista em treinamento fascial e Pilates. Sou proprietário da Hub Pilates Clássico e fisioterapia, onde aplico meus conhecimentos para aprimorar a qualidade do ensino e do treinamento no Pilates.
@renanmonteiro87 @hunpilatesefisioterapia