*Este conteúdo é científico e pode ser utilizado para pesquisas* Você já ouviu falar em Ataxia? A palavra significa incapacidade de coordenação e é usada para designar os sintomas de diversas condições neurológicas degenerativas do sistema nervoso.
Uma das principais características da Ataxia é a perda de coordenação durante a realização dos movimentos voluntários que são aqueles constituídos por ações que foram planejadas e serão executadas de forma consciente e organizada, como por exemplo: pegar um copo, levantar da cadeira e até mesmo trocar de roupas.
A perda de coordenação pode afetar os membros, a fala, os movimentos dos olhos ou de outras regiões do corpo. Os sintomas geralmente decorrem de disfunções do cerebelo (parte do cérebro responsável pela coordenação motora), lesões na medula espinhal, neuropatia periférica ou de uma combinação desses fatores.
Gostaria de aprender mais sobre a Ataxia e saber como o Método Pilates pode ser um ótimo aliado no tratamento? Então continue lendo esta matéria e confira!
Origens da Ataxia
A ataxia pode ter duas origens: adquirida e hereditária.
As ataxias adquiridas geralmente ocorrem em indivíduos que não têm histórico familiar e podem ter causas diversas como:
- Trauma craniano;
- Alguns tipos de câncer;
- Exposição a certas drogas;
- Alcoolismo;
- Deficiência de determinadas vitaminas.
As ataxias hereditárias são causadas por uma anormalidade genética e são também conhecidas como ataxias progressivas porque os sintomas costumam se agravar com o passar do tempo.
Existem diversos tipos de ataxias hereditárias classificadas pelo modo de herança, podendo ser:
- Autossômico dominante: a doença se manifesta devido à alteração em um dos dois alelos de um gene;
- Autossômico recessivo: a manifestação da doença só ocorre na presença de mutações nos dois alelos do mesmo gene;
- Ligado ao X: o gene alterado está localizado no cromossomo X;
- Mitocondrial: a mutação ocorre no DNA das mitocôndrias, organelas presentes no citoplasma das células que são importantes para a respiração celular e possuem seu próprio DNA.
As formas mais comuns são as autossômicas dominantes e as autossômicas recessivas.
Quais são as classificações e sintomas?
A idade de início dos sintomas e a evolução do processo degenerativo, são fatores primordiais para classificação das ataxias:
Ataxia episódica (EA)
Incoordenação motora e a perda do equilíbrio são os sintomas mais evidentes, além de tontura, dores de cabeça, dores muscular e nas articulações, distúrbios visuais, fala enrolada, enjoo e vômito.
Podem se manifestar em qualquer idade, mas geralmente aparecem na adolescência e costumam silenciar na meia idade.
É caracterizada por episódios de surtos, podendo ser de curta ou longa duração, vale lembrar que estresse, exercícios físicos extenuantes, certos medicamentos e consumo de álcool podem funcionar como gatilho das crises.
Ataxia espinocerebelar
Doença genética neurodegenerativa causada por herança autossômica dominante, que afetam o cerebelo e suas conexões.
As manifestações clínicas surgem, em geral, na vida adulta e variam muito de um tipo para outro da doença.
Em comum, permanecem a perda progressiva da coordenação da marcha, dos movimentos da mão, dos olhos, os distúrbios da fala e o início tardio das manifestações clínicas. Outros sintomas possíveis são a rigidez muscular, diminuição da sensibilidade nos pés e nas mãos, incontinência urinária, perda da memória e cegueira.
Ataxia telangiectasia (AT) ou síndrome de Louis-Bar
Acomete bebês e crianças pequenas, tendo como principal sinal o aparecimento de telangiectasias (vasos sanguíneos dilatados, conhecidos popularmente por aranhas vasculares) nos cantos dos olhos e na pele do rosto e das orelhas.
Os sintomas são dificuldades motoras progressivas, fala arrastada e oscilação rápida e involuntária dos olhos, além de um comprometimento do sistema imunológico que os tornam mais vulneráveis a infecções respiratórias e ao câncer.
Ataxia de Friedreich (FRDA)
É o tipo mais comum de ataxia genética progressiva, transmitido por via hereditária autossômica recessiva.
O início dos sintomas ocorre, geralmente, na infância e adolescência (entre 5 e 15 anos) e, num menor número de casos, na idade adulta.
A disfunção é causada por mutações em ambas as cópias do gene FXN, que codifica uma proteína denominada frataxina.
Além da dificuldade na coordenação dos movimentos para caminhar apresenta sintomas indicativos de comprometimento neurológico. Entre eles, vale destacar a disartria, a perda de reflexos, da força e das sensações nos braços e nas pernas, a rigidez muscular, as deformidades ósseas na coluna e nos pés, o enfraquecimento do músculo cardíaco (miocardiopatia hipertrófica) e diabetes, porém a memória, raciocínio e cognição permanecem preservados;
Ataxia cerebelar idiopática de início tardio (ILOCA)
A desordem geralmente se manifesta depois dos 20 anos de idade. Entretanto, nesses casos, a causa das alterações degenerativas progressivas, que acometem o cerebelo, permanece desconhecida.
Como diagnosticar a Ataxia?
O diagnóstico é baseado na avaliação clínica física e neurológica do paciente, no levantamento da história pessoal e familiar da doença e na idade do início dos sintomas.
Testes genéticos são úteis para determinar a presença de mutações responsáveis por alguns tipos de ataxias hereditárias, como a ataxia de Friedreich, as telangiectasias e diversas ataxias espinocerebelares.
Exames de imagem, como a tomografia computadorizada e a ressonância magnética, ajudam a identificar a presença de anormalidades no cérebro que possam explicar o aparecimento dos sintomas.
De acordo com dados fornecidos pela Associação Brasileira de Ataxias hereditárias e Adquiridas (ABAHE), atualmente cerca de 30% das ataxias ainda permanecem sem o diagnóstico definitivo.
Tratamento das Ataxias
A equipe multidisciplinar, constituída idealmente por neurologista, oftalmologista, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, psicólogo e nutricionista torna-se fundamental.
O tratamento é sintomático e tem como objetivo retardar a progressão do distúrbio, controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida, garantindo ao portador da disfunção o máximo possível de independência e autonomia para realizar as atividades diárias.
Desta forma, os programas de atividade física tornam-se fundamentais no tratamento dessas pessoas.
Segundo Ramacciotti e Nascimento (2020), a atividade física “faz parte desse tratamento e tem como objetivo manter a força muscular (FM), a amplitude articular, a capacidade vital e, por conseguinte, favorecer a qualidade de vida desses pacientes”.
Como trabalhar o Pilates nos pacientes com Ataxia?
O Método Pilates é um programa completo de condicionamento físico e mental numa vasta órbita de exercícios potenciais e os seus benefícios só dependem da execução com fidelidade aos seus princípios.
O programa de treinamento de estabilização central é criado para ajudar o indivíduo a obter ganhos de força, controle neuromuscular, potência e resistência muscular, com o objetivo de facilitar o funcionamento muscular equilibrado de toda a cadeia cinética.
A função do core é estabilizar a coluna e a pélvis durante os movimentos, manter um adequado alinhamento da coluna contra a ação da gravidade, localizar o nosso centro de gravidade, criar movimentos eficientes da cadeia cinética, propiciar uma base de suporte para os movimentos dos membros (origem do movimento), gerar força para os movimentos do tronco e prevenir lesões.
Pesquisadores comprovaram que indivíduos com ataxia podem aprender a melhorar seus movimentos. Eles concluíram que o treino de coordenação em indivíduos com ataxia cerebelar melhora significativamente a performance motora e reduz os sintomas de ataxia, possibilitando o alcance de objetivos importantes nas atividades da vida diária.
Por isso o Pilates é um Método muito indicado para pacientes com ataxia, que traz movimentos que podem ser aprimorados ou desenvolvidos, com exercícios de alta precisão, para que o aluno recupere sua autossuficiência.
O Pilates tem por característica, durante a execução dos seus movimentos específicos, a exigência de músculos abdominais, músculos estabilizadores da coluna vertebral, iliopsoas, quadríceps e também da região lombossacral e do assoalho pélvico.
Ocasionando possivelmente, em função de uma melhora no tônus muscular, o que diminui a fadiga muscular durante a realização dessas tarefas em menos tempo hábil, acarretando maior independência funcional aos atáxicos.
Conclusão
O Método Pilates mostra-se fundamental no tratamento de pessoas com ataxia. Seus benefícios como fortalecimento muscular, flexibilidade, ganho de mobilidade articular e contração abdominal traz benefícios importantes na reabilitação das ataxias, facilitando controle de tronco, auxiliando e favorecendo movimentos mais coordenados e controlados, o que proporciona maior independência funcional às pessoas com doenças neuromusculares.
Referências Bibliográficas
MARÉS, G. et al. A importância da estabilização central no método Pilates: uma revisão sistemática. Fisioter. mov. vol.25 no.2 Curitiba Apr./June 2012.
MARTINS, N.A; BORGES, G.F. A deficiência visual e a prática de atividades físicas. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 164, Enero de 2012.
Associação Brasileira de Ataxias hereditárias e Adquiridas (ABAHE) http://abahe.org.br/o-que-e-ataxia/index.html, acesso 04/01/2021.
Morelli, C. Pilates para pessoas com necessidade Especiais.Produzido por: VOLL PILATES GROUP Ed. IdeoGraf, Porto Alegre, 2020.
Tenho uma sobrinha sofrendo demais
Olá, Clarice!
É recomendado que ela busque um profissional especializado para compreender melhor o caso e indicar um tratamento efetivo 😊.