O Brasil é o quarto país com maior número de diabéticos do mundo, segundo o International Diabetes Federation (IDF). São 12,5 milhões (7%) de brasileiros afetados, de acordo o Ministério da Saúde.
A Diabetes Mellitus desperta grande preocupação das autoridades da saúde pública pelo alto número, pela tendência em aumentar e também devido a taxa de mortalidade.
Além de estar sempre atento ao nível de açúcar no sangue, é importante que os pacientes estejam em dia com a saúde. Praticar atividades física e manter uma alimentação balanceada são essenciais para proporcionar uma vida mais saudável e mais qualidade de vida.
Por isso, o Pilates para Diabetes pode ser um ótimo aliado no tratamento, já que acelera o metabolismo e auxilia na queima de calorias.
Quer saber mais sobre os efeitos do Pilates para Diabetes? Então continue lendo esta matéria e veja quais patologias pode estar relacionada com a DM e quais exercícios pode-se aplicar em seus alunos diabéticos!
O que é Diabetes Mellitus?
O Diabetes Mellitus (DM) é um distúrbio crônico que afeta o metabolismo endócrino provocando o aumento dos níveis de glicose sanguínea em consequência da ausência ou da baixa produção de insulina no pâncreas. A baixa concentração hormonal de insulina afeta a capacidade do organismo em conter os níveis de açúcar e suprir a demanda energética e celular.
O DM pode apresentar manifestações clinicas especificas a partir dos seguintes subtipos: Diabetes tipo I e Diabetes tipo II.
- Tipo I: é a forma genética ou hereditária da doença, caracterizado pela insuficiência na produção de insulina;
- Tipo II: é considerado o subtipo mais prevalente por incidir sobre a maior parte dos indivíduos diagnosticados com DM, adultos e idosos principalmente, nesta forma ocorre a resistência à insulina e normalmente está relacionada a hábitos de vida como alimentação, sedentarismo e obesidade, ocasionando alterações vasculares periféricas, doenças cardiovasculares, retinopatias e dificuldades no reparo de feridas.
Além das complicações metabólicas popularmente conhecidas, também são comuns a existência de desordens motoras relacionadas ao DM, estas apresentam consequências sobre o controle e a mobilidade articular, fraqueza muscular, bem como alterações sensoriais e de equilíbrio que afetam principalmente os membros inferiores, mais especificamente o tornozelo e pé, como destacaremos a seguir.
Relação entre Neuropatia Periférica e Diabetes Mellitus
A ocorrência de Neuropatia afeta aproximadamente metade dos pacientes diabéticos, demostrando que alterações teciduais nos pés são a principal causa de comprometimento funcional, com desenvolvimento de deformidades e ulcerações plantares em indivíduos com Diabetes Mellitus associado a Neuropatia periférica (DMNP). Quanto a isso, DiLiberto et al, (2015) decidiu avaliar a Cinemática do médio pé e retropé para verificar se a biomecânica nestes seguimentos estaria relacionada as deformidades e lesões no pé e antepé em portadores de DMNP.
Foram analisadas potência, trabalho e forças de reação do solo durante a caminhada e comparadas ao grupo controle, os resultados evidenciaram que a geração de força e energia estariam prejudicadas nesses indivíduos em decorrência da maior absorção de energia durante o contato do solo com o mediopé e com a diminuição da ativação muscular concêntrica tanto no médio quanto no retropé.
Sugere-se que estruturas como o arco plantar, fáscia e musculatura intrínseca estariam comprometidas, evidenciando que uma maior atenção durante a fase de impulsão inicial e fase terminal devem ser dadas no tratamento desses indivíduos, além do que a elevada absorção de energia nessas regiões poderia levar a uma maior chance de lesões e ulcerações.
Além disso, os autores também advertem que essas transformações na biomecânica do pé a longo prazo em indivíduos com a DMNP poderiam influenciar no acometimento de patologias na coluna medial.
Correlações clínicas do Diabetes com a Lombalgia
Um recente estudo publicado em 2018 destacou a incidência de dor lombar crônica com o DM tipo II, esta correlação ainda pouco destacada poderia ser justificada segundo o autor devido ao acúmulo de metabólicos e substratos finais de glicação avançada (AGEs) nos discos intervertebrais.
Estes AGEs que do inglês significam Advanced Glycated End-products são na verdade consequência da hiperglicemia crônica comum em pacientes diabéticos, como destaca Júnia Barbosa (2008), estes compostos possuem a capacidade de modificar de forma irreversível os componentes químicos, biológicos e funcionais das estruturas com as quais interage, desencadeando alterações anatômicas e morfofuncionais significativas.
Isso explica como a presença desses substratos químicos estimulam as células contidas no núcleo pulposo do disco intervertebral a produzir citocinas responsáveis pela criação e formação de novos vasos sanguíneos (angio e neurogênese), esta elevação na expressão citotóxica de mediadores inflamatórios seriam responsáveis pelas inflamações e episódios de dor lombar recorrentes nesses indivíduos como destaca Iskra (2018).
Sugerindo que tanto os fatores biomecânicos e estruturais anteriormente descritos, quanto a ocorrência de processos químicos e metabólicos oriundos da própria patologia também poderiam estar relacionados a presença de lombalgia em pacientes diabéticos.
Marcha, equilíbrio e alterações metabólicas
Além dos próprios fatores biomecânicos, as altas demandas energéticas impostas aos pacientes com DM seriam superiores durante a marcha quando comparadas a indivíduos não diabéticos.
Em 2019, Petrovic et al utilizou medidas de deslocamento vertical para comparar se o custo metabólico o e comprimento do passo poderiam justificar o alto gasto energético em indivíduos sem DM, com DM e com DMN. Observando assim, que o deslocamento vertical por si só talvez não seria um fator diretamente relacionado ao aumento metabólico nesses indivíduos, já que não foram notadas diferenças entre os grupos.
Por outro lado, um estudo anterior dos mesmos autores publicado em 2018 constatou que um comportamento anormal do tendão de Aquiles e do músculo gastrocnêmio durante a marcha em indivíduos com DMNP poderia contribuir para um maior custo metabólico durante a caminhada em comparação ao controle.
Além de que nesses indivíduos foram observadas uma maior rigidez miotendínea, menor flexibilidade e força, com redução da capacidade do tendão para economizar energia e diminuir o gasto metabólico.
Efeitos do Pilates para Diabetes
O uso do Método Pilates para Diabetes Mellitus ainda não é tido como uma ferramenta indispensável frente ao uso de outras estratégicas terapêuticas, porém a atividade física de uma forma geral é destacada como um elemento necessário para o manejo terapêutico desses indivíduos.
Uma pesquisa recente destacou melhora no desempenho físico e motor após o uso dos exercícios de Pilates para Diabetes em adolescentes com DM tipo I, demostrando diferenças significativas na flexibilidade e potência em comparação ao grupo controle, porém os efeitos sobre o controle metabólico não foram satisfatórios.
Em contrapartida, um estudo realizado em mulheres idosas com o tipo 2 da doença, demostrou efeitos positivos sobre o controle glicêmico após 12 semanas de tratamento com uso do Método Pilates para Diabetes, além de uma correlação com a melhoria efetiva sobre a frequência cardíaca (FC).
A constância do treinamento foi de 3 sessões semanais com duração de 60 minutos e a média de idade entre as participantes era de 65 anos.
O uso do Método Pilates para Diabetes é viável em pacientes com DM?
Precisamos analisar antes de mais nada que o paciente diabético requer uma atenção especial quanto a prescrição de qualquer modalidade de treinamento físico, que deve ser feita somente após liberação médica e com acompanhamento de um profissional especializado, uma vez que as alterações sistêmicas próprias da patologia podem comprometer a capacidade de adaptação ao exercício físico e, portanto, a adesão ao tratamento quando feita sem as devidas precauções.
Dito isso, destaca-se que os benefícios ofertados pelo Pilates para Diabetes têm demonstrado resultados promissores com objetivo de promover melhorias clinicas significativas sobre os aspectos físicos.
E apesar dos efeitos metabólicos serem menos expressivos, o método permite a garantia de qualidade de vida e importantes progressos sobre o desempenho motor de indivíduos com DM, o que torna possível sua utilização de forma complementar ao tratamento tradicional.
Exercícios de Pilates para Diabetes Mellitus
Como podemos verificar ao longo deste artigo, alterações na mobilidade, força e propriocepção das articulações do tornozelo e pé são comumente observadas em indivíduos diabéticos independente da faixa etária.
Desta forma, exercícios como:
- A série footwork no Reformer e na Chair seriam fundamentais para serem trabalhados nesses pacientes;
- Além disso exercícios de alongamento de tríceps sural e cadeia posterior também seriam uma ótima opção;
- Promover desafios motores e estímulos sensoriais plantares também são necessários para prevenir sequelas e deformidades (uso de disco proprioceptivo, colchonetes e outras superfícies instáveis);
- Treino de marcha com uso dos pedais na Chair com apoio unipodal;
- Exercícios metabólicos em decúbito dorsal com apoio dos pés na barra torre do Cadillac ou no Reformer;
- Exercícios para mobilidade articular e de coluna com fortalecimento e alongamento global.
Conclusão
Como sabemos, a variedade de exercícios ofertados pelo Método é infinita, por isso, vale usar a criatividade e a experiência clínica de cada profissional para tratar pacientes através do Pilates para Diabetes.
Contudo, é muito importante sempre respeitar as características individuais de cada indivíduo, idealizando e elaborando o melhor programa de treinamento voltado as necessidades de cada paciente dentro das suas limitações e habilidades.
Referências
Barbosa, Junia H.P.; Oliveira, Suzane L.; Seara, Luci Tojal e. O Papel dos produtos finais da glicação avançada (AGEs) no desencadeamento das complicações vasculares do Diabetes. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & metabologia, 2008; 52(6):940-950.
Frank E. DiLiberto.; et al. Multi-joint foot Kinetics during walking in people with Diabetes Mellitus and peripheral neuropathy. Journal of Biomechanics, 2015, 48(13):3679-3684.
Iskra, D.A. Comorbidity of type 2 Diabetes Mellitus and Low Back Pain. Zh Nevrol Pisikhiatr Im S S Korsakova, 2018, 118(8):126 -130.
Melo KCB.; et al. Pilates Method training: Functional and blood Glucose responses of Older Women with type 2 Diabetes. J Strength Cond Res, 2020.
Turnar M.; Darcan S. The effects of Pilates on metabolic control and physical performance in adolescents with type 1 diabetes mellitus. Journal of Diabetes and its complications, 2012, 26(4): 348-351.
Petrovic M.; et al. Vertical displacement of the centre of mass during walking in people with diabetes and diabetic neuropathy does not explain their higher metabolic cost of walking. Journal of Biomechanics, 2019, 83(23): 85-90.