Você já pensou em usar o Treinamento Funcional (TF) com seus alunos em reabilitação? Se ainda não tinha imaginado essa possibilidade te apresento uma nova opção: o Treinamento Funcional Terapêutico.
Ao contrário do que muitos pensam, o TF não é uma modalidade exclusiva de quem quer manter o corpo bonito e saudável. Ele também possui inúmeras características úteis para seus pacientes lesionados ou com alguma patologia.
Quer aprender mais sobre essa modalidade? Continue lendo esse artigo onde explicarei o que é o TFT, como usá-lo na reabilitação e quais são suas vantagens. Vem comigo!
O que é Treinamento Funcional Terapêutico (TFT)?
O que o Treinamento Funcional pode ter de terapêutico?
O público tem uma visão um pouco errada dessa modalidade. Pensam que ele só serve para quem já está saudável e quer melhorar o corpo ou a aptidão física. Mas eu te garanto que o TF e seus exercícios se encaixam perfeitamente bem na reabilitação.
Uso o termo Treinamento Funcional Terapêutico para falar sobre o TF aplicado à reabilitação de lesões e patologias. É só um nome diferente para não espantar os alunos do seu espaço, mas a modalidade continua a mesma.
O objetivo do Treinamento Funcional é recuperar as funções de cada parte do corpo levando em consideração as cadeias cinéticas. E não seria exatamente isso que queremos fazer com nosso aluno lesionado?
Como o Treinamento Funcional contribui para a Reabilitação
Uma aula de Treinamento Funcional busca selecionar exercícios que consigam melhorar as seguintes características:
- Resistência Cardiovascular
- Resistência Muscular Localizada
- Força Muscular
- Flexibilidade
- Equilíbrio
- Coordenação Motora
- Estabilidade
Agora quero que você pense em quais são as necessidades da maioria dos seus alunos. Estabilidade, mobilidade, força, equilíbrio, coordenação…
Muitos pacientes com patologias e lesões precisam dessas características.
O Treinamento Funcional Terapêutico nos traz todas as características necessárias para um trabalho de prevenção e tratamento. Quer outro motivo? Seus exercícios possuem grande foco no Core, assim como o Pilates. Dessa maneira o corpo mantém-se estabilizado e com uma boa base.
Durante a aula o aluno terá incentivos para desenvolver todas as características citadas acima através de movimentos funcionais. Os exercícios utilizados trabalham capacidades que o aluno utiliza em sua vida fora da aula, algo importante para quem quer evitar uma lesão.
De que adianta fortalecer os glúteos do aluno se em casa ele não consegue agachar? É por isso que exercícios do TFT nos auxiliam tanto na reabilitação.
Todo mundo pode praticar o TFT?
“Será que o Treinamento Funcional Terapêutico não é puxado demais para meu paciente?”
Você está certo em se preocupar com o tipo de modalidade que seu paciente realiza, especialmente estando em reabilitação. Mas pode ficar tranquilo, o TFT é uma modalidade que pode ser adaptada para qualquer público.
Para que uma aula seja considerada de Treinamento Funcional deve obedecer algumas regras, como:
- Frequência adequada de estímulos no treinamento: o TFT procura usar uma variedade de estímulos para melhorar a habilidade proprioceptiva do praticante.
- Volume das sessões: as sessões de treinamento devem ser em quantidade suficiente para que o corpo se exercite, mas sem levar à fadiga.
- Intensidade: uma aula precisa ser de intensidade adequada para aquele aluno de maneira que as musculaturas melhorem seu desempenho sem risco de lesão.
- Duração do esforço e pausa para recuperação: entre os exercícios o instrutor deve respeitar uma pausa para recuperação, evitando fadiga excessiva e lesões.
- Organização metodológica: os exercícios devem ser utilizados de maneira lógica, ajudando a atingir os objetivos gerais e específicos do aluno.
Obedecendo a esses princípios na preparação das aulas, o aluno estará perfeitamente seguro. Claro que o instrutor deve preparar as aulas de acordo com os limites de cada um sendo que um grupo de exercícios pode ser fácil demais para um e difícil demais para outro.
Como usar o Treinamento Funcional Terapêutico
Para usar o TFT será necessário adaptar uma aula convencional de Treinamento Funcional para a reabilitação. A parte mais importante desse processo é observar a individualidade de cada um.
Você está trabalhando com um tenista destro com uma lesão no ombro direito. Os exercícios na aula para esse cliente serão diferenciados.
Será necessário utilizar movimentos similares aos da modalidade esportiva, além de focados na reabilitação dessa lesão. Também precisamos pensar numa mistura de exercícios unilaterais e bilaterais para fortalecer seus membros superiores desiguais.
Mas não vamos trabalhar só o ombro no Treinamento Funcional Terapêutico. Lembram do trabalho funcional e global? Exercícios isolados não cumprem qualquer um desses propósitos se usados sozinhos.
O seu aluno também precisa de exercícios para trabalhar a base e o Core, que certamente estarão compensando por causa da lesão.
Está mais fácil de entender como o Treinamento Funcional Terapêutico nos ajuda numa reabilitação?
Para quais Patologias o Treinamento Funcional Terapêutico pode ser usado?
Só posso afirmar uma coisa: não existe uma contraindicação para o Treinamento Funcional. Idosos, gestantes e crianças podem pratica-lo, assim como todas as patologias. A modalidade é cheia de benefícios e será uma aliada para reabilitar.
Fortalecimento de Core para Patologias
O Core possui grande ênfase em todos os exercícios do Treinamento Funcional Terapêutico. Ele também é essencial para um corpo equilibrado, forte e capaz de se movimentar, como todos nós já sabemos.
As musculaturas do centro de gravidade do corpo estão envolvidas na estabilização do tronco, sustentação das vísceras e conectadas por meio de cadeias cinéticas a membros superiores e inferiores.
Quando existe uma patologia, a região merece atenção porque provavelmente estará tensionada ou compensando. Os exercícios do TF trabalham o Core incessantemente, exigindo sua ativação a todo o momento.
Outra característica muito interessante para treinar o Core na modalidade é o uso de bases instáveis. Acessórios como o Bosu e a Fitball são muito presentes, forçando o aluno a fortalecer seu centro ao mesmo tempo que trabalha equilíbrio.
Treinamento Funcional Terapêutico para Lesões
Muitas das lesões encontradas tiveram origem numa falta de estabilidade das articulações afetadas. Essa característica é a habilidade da articulação de voltar à seu estado original depois de sofrer perturbação no movimento.
Quando um paciente apresenta uma certa articulação instável é questão de tempo para que ele sofra uma lesão. E a recuperação da mesma envolverá recuperar a estabilidade e fortalecer as musculaturas responsáveis por isso.
E onde entra o Treinamento Funcional Terapêutico?
Seus movimentos são um ótimo jeito de trabalhar a estabilidade e mobilidade articular. Além disso, o TFT auxilia seu praticante a melhorar suas habilidades proprioceptivas, intimamente relacionadas à prevenção e reabilitação de lesões.
A propriocepção é a capacidade de um indivíduo de se relacionar com o ambiente através de informações sobre o próprio corpo e o que o cerca. Vemos muitas pessoas com déficit em sua propriocepção, especialmente quando tratamos com alunos sedentários.
Falta dessa habilidade leva ao uso errado de gestos motores e problemas de estabilidade dinâmica. Por serem incapazes de coordenar seus movimentos, esses indivíduos também possuem uma ativação muscular ineficiente levando a gastar mais energia que necessário.
O treino com exercícios que estimular a propriocepção procura melhorar os reflexos e movimentos voluntários do aluno em especial para movimentos multiarticulares.
Dessa maneira seu aluno lesionado estará pronto para se mover com risco diminuído. A melhora na propriocepção também ajuda a estabilizar a articulação e acelerar o processo de reabilitação.
Treinamento Funcional Terapêutico na Reabilitação
No início de um trabalho de reabilitação usando o TFT sempre começaremos observando a base. A lesão pode ser no ombro, mas como está o Core desse aluno? E os membros inferiores?
É importante fortalecer e corrigir as musculaturas de base para que sua disfuncionalidade não influencie a região lesionada. Esse trabalho é essencial, especialmente quando o aluno está com dor na região lesionada.
Saindo um pouco do foco da lesão, você conseguirá realizar muitos exercícios sem dor. Ao mesmo tempo, uma base mais forte e estável provavelmente auxiliará a aliviar o desconforto da lesão.
Trabalhar o Core e outras bases auxiliam a recuperar uma postura de qualidade, além de garantir melhor ativação muscular. Com essas musculaturas trabalhando perfeitamente os próximos passos serão mais fáceis.
Após esse fortalecimento você pode introduzir exercícios corretivos para a lesão ou patologia específica.
Para relembrar: no Treinamento Funcional Terapêutico usamos dois tipos de trabalho, corretivo e de força. Numa fase inicial de tratamento é interessante evitar o trabalho de força, dando ênfase ao corretivo.
A razão é bastante óbvia. Um aluno lesionado apresenta diversos padrões de movimento disfuncionais e musculaturas tensionadas. Ao tentar fortalecer essa estrutura posso até piorar o quadro porque é algo que o corpo não está preparado para fazer.
O corpo precisa de ambos os tipos de trabalho, mas inicialmente devemos corrigir e preparar o corpo. Mais tarde, quando seu aluno já estiver com movimentos melhores, será importante usar o treino de força para ter musculaturas fortes e capazes de estabilizar as articulações.
Estabilidade e Mobilidade Articular
As articulações no corpo possuem dois tipos de necessidades: estabilidade e mobilidade.
Para um funcionamento correto tudo precisa de equilíbrio. Mobilidade demais cria uma articulação propensa a lesões, enquanto estabilidade demais com pouco mobilidade cria rigidez.
Se existem duas necessidades, o que você deve trabalhar primeiro?
A abordagem joint by joint, utilizada no Treinamento Funcional, mostra que cada articulação possui um necessidade primária. Algumas tem a tendência de se tornarem rígidas, exigindo um trabalho de mobilidade durante a reabilitação. Outras se tornam extremamente móveis, como a lombar, e precisam de estabilidade.
Abaixo você pode conferir as principais necessidades:
Cervical | Mobilidade |
Ombro | Estabilidade |
Coluna torácica | Mobilidade |
Coluna lombar | Estabilidade |
Quadril | Mobilidade |
Joelho | Estabilidade |
Tornozelo | Mobilidade |
Pé | Estabilidade |
Trabalho Isolado vs. Trabalho Global
O foco do Treinamento Funcional Terapêutico é no trabalho global, o que não quer dizer que exercícios isolados são proibidos. Tudo depende da avaliação que o profissional fez do aluno e de suas necessidades.
Algumas vezes encontraremos casos em que o corpo apresenta uma disfunção extrema em certa parte. Portanto, será preciso trabalhar a região isoladamente para corrigir seus movimentos antes de integrar todo o corpo num trabalho global.
Posso usar o Treinamento Funcional Terapêutico com Pilates?
O TFT e o Pilates não são modalidades opostas, pelo contrário. Um consegue suprir falhas no outro e recomendo muito misturar os dois.
Também é ótimo lembrar que o TFT e o Pilates possuem diversas semelhanças. Uma delas sendo o treinamento do Core, ou Power House, em todos os exercícios e a preferência por movimentos integrados ao invés de isolados.
Utilizando o repertório do Treinamento Funcional Terapêutico sua aula também se tornará mais dinâmica por incorporar todos os planos de movimento contidos no TF.
Ambas as modalidades auxiliam num processo de reabilitação, portanto não ignore o que o Treinamento Funcional Terapêutico tem a oferecer.
Exercícios que podemos usar na Reabilitação
Muitos dos exercícios mais “famosos” do Treinamento Funcional são rodeados de mitos. Um exemplo deles é o agachamento. Há quem pense que esse exercício é perigoso por colocar pressão excessiva no joelho e na lombar, mesmo que ele seja completamente seguro.
Também recebo muitas dúvidas perguntando se pode usar esse ou aquele exercício do TF com alunos com X patologia. Minha resposta é: pode, contanto que ele seja executado com qualidade e cuidado.
Praticamente todos os exercícios do Treinamento Funcional Terapêutico podem ser utilizados numa reabilitação. Não importa a patologia ou lesão.
Voltemos ao exemplo do agachamento. Alguém com uma patologia no quadril pode agachar? Claro que pode, mas precisará de um trabalho preparatório primeiro. O movimento feito da maneira errada é o único perigo para nossos pacientes.
Tudo que você precisa fazer é prestar atenção na qualidade do movimento e na dor. Assim que um aluno reclamar de dor pare o exercício. Nunca passe do limite do corpo demonstrado pela dor, exagerar nisso talvez leve a uma piora no quadro do aluno.
Concluindo…
Um paciente lesionado ou com patologia precisam de um cuidado especial. Seu corpo está desequilibrado, com falta ou excesso de mobilidade e estabilidade e apresentando movimentos pouco funcionais.
Apesar de parecer um trabalho pesado demais para alguém nessa situação, o Treinamento Funcional é uma solução perfeita. Seus exercícios ajudam a recuperar os movimentos, adquirir estabilidade articular e melhorar a propriocepção.
O Treinamento Funcional Terapêutico ainda proporciona fortalecimento muscular, para criar um tratamento completo.
Boa noite! Qualquer pessoa com pode dar treino funcional terapêutico? Ou só com curso de treino funcional ou/e professores de educacao física ?
Obrigada,
Tânia Ramos
Com o objetivo de reabilitação, somente os fisioterapeutas podem! É lei! O treinamento Funcional, ao contrário do que a própria educação física não divulga, foi criado por fisioterapeutas. Porém a fisioterapia não é a dona da técnica, ela pode ser usada sim por educadores físicos. A legislação reconhece esse pioneirismo e ampara juridicamente o seu uso pela fisioterapia. Mas, como já disse a educação física também pode usar, porém com outros intuitos.