O título desse artigo pode causar algum estranhamento para quem não tem familiaridade com o tema. Mas, para quem já passou por alguma situação do gênero, não se preocupe, somos milhares distribuídos por esse mundo afora, cada qual lutando contra seus próprios transtornos alimentares.
Antes de entrar na relação Pilates – Corpo – Transtornos alimentares, vou atualizá-los a respeito desses distúrbios:
“São muitos os transtornos alimentares existentes, mas os mais comuns são a anorexia, bulimia e a obesidade. De acordo com estimativas do Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos (NIMH, na sigla em inglês), 70 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de algum tipo de transtorno alimentar. Em estudos de longo prazo, o índice de mortes provocado por esses transtornos é alto: entre 18% e 20%. De acordo com o Centro Nacional de Informações sobre Transtornos Alimentares do Canadá (Nedic, na sigla em inglês), a incidência mundial de mortes relacionadas à anorexia em mulheres entre 15 e 24 anos é 12 vezes maior que qualquer outra causa nessa faixa etária”.
Fonte: UOL
Os fatores que caracterizam os transtornos alimentares são classificados em predisponentes: biológicos, psicológicos, culturais, familiares e genéticos; principiantes: dietas restritivas, insegurança e insatisfação; e fatores mantenedores: alterações neuroendócrinas e neurais, distorção da imagem e esquema corporal e alteração psicológica.
Junto aos transtornos alimentares (TA) podemos associar outros tipos de transtornos: depressão, retraimento social, irritabilidade, insônia, desinteresse no sexo, bipolaridade, ideação suicida, transtorno depressivo crônico, personalidade tipo “Boderline”, automutilação e inanição.
Você já foi vítima ou conhece alguém que teve/tem esses distúrbios? Se sim, você deve saber bem que reconhecer o diâmetro real do nosso corpo é uma tarefa muito árdua – porém é o primeiro passo a ser conquistado.
Imagem corporal x Representação do corpo
Os distúrbios alimentares certamente vêm acompanhados de uma imagem corporal distorcida, onde o espelho é o pior inimigo e a balança o seu chefe mais criterioso. Dessa forma, não importa quantas pessoas digam a você que está magra, linda, e radiante… essa imagem não será aquela que você vê no espelho. Há uma diferença entre imagem corporal e esquema corporal. A imagem é como você se sente com seu corpo e em seu corpo – julgamento, aceitação, normas e valores. E o esquema é a representação do corpo gerada a partir de um sistema de retroalimentação de informações exteroceptivas, proprioceptivas, visuais e vestibulares, que serve como guia do movimento.
Mas qual a relação direta da prática de um método de movimentos corporais, como o Pilates, com uma agressão corporal (anorexia, bulimia, compulsão alimentar, entre outros)? Digo agressão corporal considerando agressão tudo que viola a naturalidade do ser humano, inclusive psicológica.
Pilates e distúrbios alimentares
O Pilates, além de trabalhar a questão de autoconhecimento corporal, equilíbrio e controle das ações, trabalha também a mente e o poder de concentração, ação que pode facilmente ser desconectada por conta dos transtornos alimentares. O ato de concentrar-se se torna único e exclusivo em perder peso, comer compulsivamente e regurgitar, não comer, dependendo do transtorno em questão.
A conexão é que a prática do Pilates para interação corporal, conhecimento e desenvolvimento da mente em sinergia com o corpo em portadores de distúrbios alimentares é de extrema importância. A técnica auxiliará o indivíduo a entender o seu corpo, suas conquistas e desafios.
Para este tipo de aluno, o instrutor precisa promover uma aula com foco na relação corpo-espaço, onde sejam aplicados desafios possíveis de serem conquistados – uma vez que a sensação de frustração já se torna presente fisicamente, não será de bom grado fazer com que o aluno saia da aula frustrado ou decepcionado com seu desempenho. Definitivamente, ele precisa da nossa ajuda para recuperar a autoconfiança! Cabe a nós, instrutores de Pilates, adquirirmos a sensibilidade e o “feeling” de enxergar nossos alunos com outros olhos, e isso se aplica ao que chamamos de multidisciplinaridade.
Distúrbios alimentares: um tratamento detalhado
Todos sabemos que a multidisciplinaridade é o caminho do futuro, e trabalhar em equipe é sempre muito valioso. Vale ressaltar que os possuidores desses tipos de transtornos devem ser acompanhados por psicólogo, para lidar com as questões emocionais, médico para avaliar a situação do paciente, nutricionista atuando diretamente em uma reeducação alimentar e instrutor de Pilates ou qualquer outro método, técnica ou prática que caiba no momento, desde que acompanhada por um profissional adequado e qualificado para atender as necessidades do portador. A recuperação desses males é lenta e, às vezes, vitalícia. Portanto, ter um acompanhamento é fundamental para evitar riscos. O tratamento atinge com mais facilidade a imagem corporal, mas não o esquema corporal, portanto, muitas vezes, a internação se faz necessária.
Concluindo…
A prática de atividades relacionadas ao corpo e a mente como o Pilates é o caminho para a recuperação da autoestima de forma saudável, equilibrada e coerente, sem riscos, com amor e, principalmente, com muito respeito ao problema que o indivíduo apresenta.
Já ouvi julgamentos relacionados aos distúrbios alimentares, tais como: frescura, falta de laço ou brincadeira. Nem de perto passa a ser alguma dessas três opções. Ninguém escolhe ficar doente. Já vimos anteriormente que muitos fatores colocam o indivíduo em situações de risco como essas, que podem, inclusive, levar à morte. São casos sérios e que precisam de auxílio real. Digo isso por uma questão pessoal. Não por ser psicóloga, nem médica, nem nutricionista, mas por ter sido vítima da situação uns anos atrás.
Não vou listar uma série de exercícios específicos a serem trabalhados, como gosto de fazer. Dessa vez vou deixar a seu critério, instrutor, a decisão de quais exercícios farão bem ao seu aluno, levando em consideração que ele/ela precisa aprender a relacionar-se, tanto com ele mesmo, quanto com o espelho (se o Studio possuir), quanto com o instrutor. Sabe-se que pessoas com distúrbios tem repúdio ao toque, então certifique-se de que não invadirá, em um primeiro momento, o espaço do aluno. Tenha em mente que cautela, paciência e bom senso fazem parte do nosso trabalho e da nossa rotina e que antes de tudo, colocar o seu aluno para respirar e entrar em sintonia com ele mesmo será primordial.
Leia esse texto com carinho e atenção, e procure, sempre que puder, enxergar seu aluno além do que se vê. Isso é conexão.
Até breve!