*Este conteúdo é científico e pode ser utilizado para pesquisas*
Hoje temos no Brasil mais 311 mil pacientes recuperados do coronavírus, mas vencer a doença pode ser apenas a primeira das muitas batalhas que os sobreviventes vão ter que superar. Algumas pessoas recuperadas se queixam de dispneia, fadiga e algias pelo corpo, mesmo após meses da infecção.
Estudos Wu e Mcgoogan (2020) mostram que além dos pulmões, o coração, rins, fígado e articulações dos sobreviventes funcionam pior após a infecção pelo COVID-19.
As epidemias passadas causadas por vírus semelhantes mostram que as sequelas podem durar mais de uma década e precisamos como profissionais do movimento combater diariamente o impacto que essas “sequelas” podem trazer aos alunos.
Sendo assim, o Método Pilates traz consigo todos os efeitos necessários para recuperação físico-funcional desses pacientes recuperados do coronavírus, atuando de forma direta do sistema musculoesquelético, respiratório e psicológico.
Efeitos provocados pelo vírus
Estudos realizados em Hong Kong acompanhou um grupo de pacientes com COVID-19 por até dois meses desde que tiveram alta e verificaram que cerca de metade dos sobreviventes tinha função pulmonar comprometida, menor difusão pulmonar.
E em Wuhan, ao testarem amostras de sangue dos pacientes recuperados do coronavírus, revelou que estes não haviam se reabilitados completamente o funcionamento normal dos pulmões e capacidade física após meses, independentemente da gravidade dos sintomas de coronavírus.
A avaliação tomográfica tem demonstrado que os pulmões necessitam de cerca de dois meses para se recuperar após a cura microbiológica do vírus, ou seja, após um mês do episódio viral pulmonar eles ainda possuem uma inflamação residual.
Ainda, o processo infeccioso pode evoluir para uma fibrose pulmonar, uma doença crônica causada por cicatrizes que comprometem os pulmões, de forma irreparável, gerando disfunção pulmonar significativa para a qualidade de vida dos pacientes.
Alguns sintomas como tosse e dispneia vão persistir por alguns meses após a melhora do quadro clínico de COVID-19.
A queixa álgica está normalmente associada a desordens ocorridas no processo de recuperação desses pacientes, sendo influenciada pelos altos níveis de inabilidade funcional (repouso prolongado) e maior fragilidade corporal, acarretando de forma direta na autonomia funcional.
Uma queixa bem comum após a alta hospitalar ou recuperação clínica no isolamento domiciliar é a fraqueza generalizada, a internação em UTI traz redução de força muscular, e a partir de 72 horas de admissão na unidade, já é possível observar disfunções, e suas consequências podem durar até 5 anos após alta hospitalar.
A resposta inflamatória sistêmica causada pela doença induz o aumento da proteólise e consequente fraqueza muscular. Outros diversos fatores contribuem para a condição, como: sedação, drogas, tempo de ventilação mecânica (VM) e imobilidade no leito, estando proporcionalmente relacionados ao tempo de internação.
O repouso prolongado pode resultar na atrofia muscular por desuso, além disso, acometendo o sistema músculoesquelético nas alterações das fibras de miosina, que são inicialmente provocadas primordialmente pelo estresse oxidativo, diminuição da síntese proteica e aumento da proteólise.
A função muscular tem um papel anti-inflamatório, que se torna cada vez mais benéfica em doenças graves, como a COVID-19. Tornando importante a mobilização precoce no período hospitalar e continuidade da realização de exercícios pós alta para a melhora da condição clínica, tanto de forma precoce quanto ao longo prazo.
Como o Método auxilia em pacientes recuperados do coronavírus?
O Método Pilates melhora da flexibilidade, diminuição do nível de dor, atua de forma direta sob a condição respiratória e manutenção da qualidade de vida desses indivíduos.
Nos músculos envolvidos na respiração, o Método é capaz de melhorar a coordenação respiratória e fortalecer de forma intensa a musculatura abdominal e dos demais músculos inseridos no tronco, fazendo com que ocorra mudanças satisfatórias na função respiratória com aumento do volume pulmonar, melhora da saturação periférica de oxigênio (SpO2) e modificação do padrão respiratório dos pacientes.
Os exercícios do Método Pilates são capazes de gerar mais flexibilidade e equilíbrio postural, os quais resultam em maior força muscular, eficiência e rapidez, além de ganhos na amplitude de movimento e fluência dos mesmos, diminuindo o gasto energético para os movimentos das articulações e, melhora da estabilização dos segmentos da coluna vertebral, levando assim, a diminuição de dores.
Além dos efeitos positivos que o Método proporciona tem apresentado benefícios no que se refere à qualidade de vida, uma vez que ela está diretamente relacionada ao aspecto físico, social e emocional.
Como planejar aulas para pacientes recuperados do coronavírus?
Para planejar suas aulas de Pilates para os pacientes recuperados do coronavírus, é importante escolher exercícios globais (variedade no trabalho das articulações) enfatizando a respiração e os demais princípios do Método.
O paciente deve realizar cada movimento com controle, precisão e fluidez na execução, evitando compensações, concentrado e focado durante todos os exercícios, recrutamento de forma efetiva os músculos respiratórios.
Importante montar uma aula que seja focada nos objetivos do seu paciente (queixas álgicas, ganho de força e mobilidade, melhora da dispneia e padrão respiratório), serão eles que determinarão a melhora na capacidade físico funcional e condição respiratória!
Cuidados e precauções durante as aulas
O Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (CREFITO) orientam:
- Orientar os pacientes a chegarem no horário previsto a fim de evitar aglomerações na sala de espera;
- Abra as janelas do seu Studio várias vezes ao dia, buscando uma melhor circulação do ar;
- Deixe avisos em sua recepção solicitando que ao chegar as mãos devem ser lavadas, e ao ir embora também;
- Retire revistas que possam ser compartilhadas entres as pessoas, muito comum nas recepções;
- Evitar uso de bebedouros, mesmo que seja utilizado copo descartável, afinal de contas deverá ser acionado o comando para a água disparar. O melhor é cada paciente levar a sua garrafinha;
- Higienizar as maçanetas do consultório com álcool 70% e orientar os pacientes a evitar tocar nelas. Caso o façam, ter álcool gel à mão para a correta higiene das mãos;
- Após cada uso, estabelecer uma rotina de higienização dos materiais, equipamentos e aparelhos com álcool 70%;
- Em ambiente de grupos terapêuticos, garanta que haja espaço de ao menos um metro e meio entre as pessoas.
Conclusão
Diante de tantos benefícios, sabe-se que o Método Pilates será capaz de restaurar a condição físico funcional, melhorar as queixas álgicas e condição respiratória dos pacientes recuperados do coronavírus.
Ressaltando que o Método impactará de forma positiva na qualidade de vida desses pacientes, tanto no aspecto físico, social quanto emocional.
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Durante a prática do pilates com máscara é recomendado reduzir o tempo de cada aula?
Oi Gislene, como vai?
É recomendável realizar exercícios em torno de 45 minutos, com menor intensidade por causa da resistência respiratória que a máscara pode proporcionar para alguns pacientes. Importante atentar-se ao padrão respiratório do paciente para que não haja desconforto durante a realização dos exercícios de Pilates. Deve-se orientar a troca das máscaras sempre que ficarem úmidas. Enquanto as máscaras tendem a garantir proteção por duas a três horas em situações normais, ao praticar exercícios físicos, esse tempo tende a ser reduzido. A máscara úmida aumenta o efeito aerosol e, consequentemente, a transmissão viral.
Espero poder ter ajudado! 🙂
Beijos e até mais!