Por que o Método Pilates é adequado para o tratamento dos parkinsonianos?
Porque a doença de Parkinson é a segunda doença neurodegenerativa mais comum, cuja prevalência aumenta com a idade, chegando a 1% em indivíduos acima de 60 anos. Ela afeta uma em cada mil pessoas acima de 65 anos, e uma em cada cem pessoas acima de 75 anos.
Entretanto, indivíduos com idade inferior a 40 anos podem ser acometidos pela síndrome. Com o aumento da expectativa de vida, estima-se que por volta de 2020 mais de 40 milhões de pessoas no mundo sejam portadores de Doença de Parkinson.
A Doença de Parkinson é doença crônica e progressiva do sistema nervoso central (SNC) de etiologia ainda desconhecida, porém, atualmente, acredita-se que fatores genéticos e ambientais podem contribuir para seu aparecimento.
É caracterizada pela degeneração de neurônios dopaminérgicos da pars compacta da substância negra mesencefálica, consequente à atrofia e à degeneração dos núcleos da base.
Envelhecimento no Brasil
No Brasil nas últimas décadas ocorreram profundas transformações demográficas, especialmente em razão de alterações na estrutura etária da população brasileira.
Estudos do IBGE (IBGE, 2005) indicam que, como conseqüência da redução das taxas de fecundidade, entre os anos de 1980 e 2000 deixaram de nascer cerca de 35 milhões de crianças no pais.
Por sua vez, o contingente de idosos brasileiros, aqui entendido como a população acima de 65 anos, cresceu aproximadamente 3,7 milhões de pessoas entre 1980 e 2000, alcançando um total de 8,7 milhões de pessoas, em cem anos (entre 1950 e 2050).
O número de idosos crescerá de uma proporção inicial de 3% para cerca de 25% ao final do período, sendo que já em 2025 a expectativa é de que o Brasil tenha a sexta população de idosos do mundo.
O fenômeno do envelhecimento populacional estão associadas ao aumento da expectativa de vida como efeito do melhor controle de doenças características da terceira idade, de doenças potencialmente fatais, e da diminuição das taxas de fecundidade e mortalidade.
O crescimento na proporção de idosos requer uma atenção maior para que não faltem recursos necessários.
Deve-se evitar tratar o processo de envelhecimento como doença, especialmente aqueles associados ao acompanhamento das demências, pela existência de pelo menos dois déficits cognitivos, tendo como efeito o comprometimento do funcionamento cotidiano do indivíduo.
Os déficits cognitivos podem comprometer a capacidade funcional do indivíduo, podendo se transformar em um quadro de natureza crônica e progressiva.
A Doença de Parkinson constitui-se em um desses males degenerativos classificada como enfermidade da terceira idade, ao lado de outras doenças também comuns ao envelhecimento como a Doença de Alzheimer.
O fato é que os avanços da medicina ocidental tem proporcionado à humanidade uma longevidade maior, em função não somente da diminuição da taxa de natalidade, como também devido às constantes pesquisas na direção da cura de doenças.
No entanto, acredita-se existir ainda um longo caminho a ser percorrido entre o aumento da expectativa de vida e a verdadeira saúde dos seres humanos em idade avançada.
O que é a Doença de Parkinson?
Descrita pela primeira vez, de forma científica em 1817 por um médico inglês, Dr. James Parkinson, a Doença de Parkinson registrou os sintomas, sinais e a evolução da doença observada em um grupo de pacientes, e publicou suas observações em um artigo intitulado “Ensaio sobre a Paralisia Agitante”.
Na sociedade medica sua obra despertou grande interesse nos meios médicos e teve seu nome associado à doença.
A Doença de Parkinson é uma doença crônica degenerativa do sistema nervoso central, de caráter progressivo e lento e deve ser diferenciada das síndromes dos parkinsonianos que surgem de uma variedade de etiologias. Ela afeta uma região chamada sistema extrapiramidal, caracterizada como sendo responsável pela excelência dos movimentos.
No cérebro, a transmissão dos impulsos elétricos entre um neurônio e outro é mediada por substâncias químicas chamadas neurotransmissoras e a dopamina é um exemplo de um importante neurotransmissor.
Na doença de Parkinson a redução da quantidade de dopamina reflete-se de maneira decisiva, pois a doença se desenvolve quando neurônios de uma área do cérebro denominada substância negra, morrem ou deixam de funcionar, resultando em falhas na transmissão de sinais nas estruturas cerebrais determinantes da parte motora.
Esta região do cérebro recebeu a denominação citada em função de sua cor escura, proveniente da grande concentração de um pigmento chamado neuromelanina existente nessa estrutura.
É importante lembrar que a Doença de Parkinson, assim como outras doenças degenerativas, não tem cura e é irreversível, agindo de forma lenta e progressiva, podendo evoluir durante anos. Com o passar do tempo o grau de independência dos parkinsonianos vai diminuindo, levando-os a uma carência de cuidados externos cada vez maior.
A fisioterapia e o acompanhamento dos familiares e cuidadores é fundamental para a estabilização da sintomologia da doença e, consequentemente, para a conquista gradativa de autoconfiança e recuperação da auto- estima do paciente.
Parkinsonianos
Estatisticamente dizendo há uma prevalência da Doença de Parkinson na população geral de 100 a 150 casos por 100 mil habitantes, e a cada ano ocorrem 20 novos casos por 100 mil habitantes.
Esses casos ocorrem em cerca de 1% da população acima dos 50 anos, tornando-se crescente e mais comum com o avanço da idade, chegando às proporções de 2,6% da população com 85 ou mais.
A idade média de surgimento da doença situa-se entre 58 e 60 anos, embora uma pequena porcentagem possa ser acometida pela doença na faixa dos 40, e até dos 30 anos. Os homens apresentam uma incidência maior da doença que as mulheres, numa proporção 3 de para 2.
Hoje estima que quatro milhões de pessoas em todo o mundo sejam afetadas pela Doença de Parkinson e acrescenta que, ainda que a média de idade na época do diagnóstico seja em torno dos 60 anos.
Uma em cada 20 pessoas com Doença de Parkinson desenvolve a doença com menos de 40 anos, e também pode atingir pessoas entre 21 e 40 anos ela é chamada de Doença de Parkinson de início precoce.
Sintomas da Doença
Os sinais e sintomas nos parkinsonianos são o tremores de repouso, a rigidez, a bradicinesia ou acinesia, micrografia, face inexpressiva e alterações posturais como uma postura de flexão com escassez de rotação no tronco e reações de equilíbrio ineficientes.
Muitos parkinsonianos podem apresentar sintomas que não necessariamente afetam os movimentos ou a mobilidade, sintomas não-motores e identificado após uma avaliação criteriosa, como por exemplo:
- Ansiedade
- Depressão
- Distúrbios do Sono
- Problemas de Controle Salivar
- Sudorese
- Dor
- Constipação Intestinal
- Problemas de Controle Urinário
A depressão aparece em 40 a 50 % dos casos de Parkinson, sendo consequência das limitações que acometem o paciente. Alguns pacientes apresentam um conjunto com a depressão, ansiedade e, mais raramente, episódios de agitação.
Os distúrbios do sono são um dos problemas mais comuns nos parkinsonianos, tendo uma série de sintomas, tais como: dificuldade em conciliar o sono, despertares freqüentes durante a noite, e sonhos reais quando o portador não consegue distinguir o sonho da realidade e pesadelos.
Na maioria dos casos, os portadores de Parkinson não apresentam distúrbios cognitivos, mantendo-se preservada a consciência intelectual e a capacidade de falar.
Algumas vezes notam-se alterações no processo de fala, a voz se torna mais fraca, o volume diminui e pode aparecer alguma rouquidão.
O sintoma mais freqüente, nestes casos, é a dificuldade de articular as palavras, o que pode ser bastante prejudicial para pessoas que trabalham com a fala, como professores e atores.
Em alguns casos a fala é monótona, cadenciada e sem entonação, enquanto que em outros casos, os pacientes aceleram o ritmo de sua fala de modo descoordenado diminuindo o tempo de fala, e acaba embaralhando as palavras e dificultando a compreensão.
Observa-se uma maior quantidade de saliva nos parkinsonianos, sintoma descrito como sialorréia. Isso acontece por sua dificuldade em deglutir, podendo acontecer ainda o escorrimento pelo canto da boca, e em alguns casos, medicações anticolinérgicas que inibem a acetilcolina, em geral trazem grande alívio ao paciente.
Disfunções urinárias podem ocorrer como resultado da própria doença ou também por efeitos colaterais de medicamentos, podendo se manifestar de várias formas:
- Necessidade urgente de urinar, muitas vezes sem conseguir segurar
- Aumento da freqüência das micções
- Esvaziamento incompleto da bexiga
- Dificuldade para iniciar a micção
- Sintomas agravados ainda pelo próprio avanço da idade, ou seja, pelo aumento da próstata no homem e pela flacidez dos músculos pélvicos nas mulheres.
O aparecimento de dores musculares em várias regiões do corpo como: ombros, braços, membros inferiores e a região lombar são as áreas mais afetadas.
Isso devido a postura inadequada por muito tempo e pela disfunção motora inerente à doença, o que faz com o que os parkinsonianos precisem fazer um esforço maior para conter ou realizar corretamente seus movimentos. Em alguns casos as dores aparece antes do diagnóstico preciso da Doença de Parkinson.
Cãibras são mais frequentes, nos pés ocorrem mais no período da manhã chamadas cãibras matinais, podendo também incomodar o paciente durante a noite, a ponto de acordá-lo.
Também acontecem durante o caminhar e comprometem bastante a marcha, uma vez que causam espasmos nos músculos da panturrilha e dos pés, curvando os mesmos em arco, e posicionando os tornozelos em garra.
Frio nas extremidades do corpo é outra sensação desagradável. Esta sensação térmica anormal pode desaparecer por longos períodos de tempo, mas depois reaparecerem, uma coincidência entre o aparecimento desses sintomas e os períodos em que as dificuldades motoras também estão mais graves.
O tremor ocorre no repouso e até cessa com o movimentos dos parkinsonianos. Ele normalmente ocorre nas mãos, e somente em casos extremos, acontece um tremor excessivo, podendo acontecer em qualquer parte do corpo ou em todo ele, e que aumenta com o stress, esforço ou fadiga.
Método Pilates aplicado na Doença de Parkinson
Em busca da melhoria da qualidade de vida de pessoas idosas portadoras da Doença de Parkinson, o Método Pilates, que constitui um sistema de exercícios físicos que integra o corpo e a mente proporciona vários benefícios, como:
- Controle Postural
- Força
- Flexibilidade
- Equilíbrio Muscular
- Consciência e Percepção do Movimento Corporal
- Condicionamento Físico
Tudo isso faz com que o parkinsoniano possa ser capaz de executar suas tarefas com maior eficiência, adquirindo assim uma maior independência em suas atividades de vida diária.
O Pilates é um método de reeducação do movimento, utilizando uma técnica desenvolvida através dos princípios como concentração, respiração, ativação do power house, fluidez, precisão e controle, e tem como objetivo trazer consciência para o movimento.
Através de exercícios em aparelhos ou no solo, os músculos de todo o corpo são alongados e tonificados sem causar lesões, e desta forma contribui muito para a melhora de problemas posturais ligados ao desequilíbrio muscular.
Joseph Pilates gostava de dizer que tinha inventado uma técnica que estava anos à frente de seu tempo, o método de modo comum descrito por toda a área de saúde, como um exercício pensante, na medida em que ele exige uma sincronia incomum entre corpo e mente, que por sua vez, resulta em um sentimento de completo e de integração mais comum.
O exercício desenvolvido e ensinado por Joseph Pilates, finalmente está sendo reconhecido pela comunidade médica como um grande aliado ao bem-estar do corpo e da mente humana, aproveitando os benefícios que seus princípios incorporam ao controle motor, ao desenvolvimento psiconeural e à ciência do exercício.
O ambiente Pilates é estruturado de forma a trazer aos usuários maior conforto e funcionalidade possíveis. Os equipamentos e acessórios facilitam o trabalho dinâmico numa postura correta, e todos os fatores são planejados de forma a estimular à prática do trabalho corporal com concentração e qualidade dos movimentos executados.
Os equipamentos cumprem um papel muito importante, já que permitem desde a assistência total ao movimento até a resistência oferecida por molas ou gravidade, o ajuste do comprimento das alavancas, ao dobrar ou alongar os membros superiores ou inferiores com relação ao tronco.
Outro grande atributo do ambiente Pilates é a grande facilidade de treinar novos movimentos funcionais. Os equipamentos foram criados e desenvolvidos por Joseph Pilates, e todos os equipamento permitem uma variedade de posições.
Além de oferecer a possibilidade da simulação em diversas posições de movimentos assim diminuindo o medo do paciente e facilitando a execução dos mesmos, os aparelhos reformer, cadillac (trapézio), chair (cadeira) e barrel, além dos acessórios como molas, bolas suíças, rolos de espuma, banda elástica, e etc.
Através da prática de exercícios com o Método de Pilates, que a utilização de dicas verbais, bem como a associação a imagens, foram excelentes recursos para trazer consciência ao movimento.
Benefícios do Método Pilates para os Parkinsonianos
Para melhor aproveitamento dos benefícios, os exercícios devem ser executados de forma ampla e lenta.
Os exercícios de alongamento, força e coordenação motora utilizados no método de Pilates se tornam ideais para auxiliar na recuperação e reorganização dos movimentos dos parkinsonianos, que pela característica da doença executam movimentos de forma curta e rápida.
Os benefícios oferecidos para os parkinsonianos pelos aparelhos de Pilates facilitam a prática de exercícios com ênfase na dissociação dos movimentos e através do treinamento dos movimentos que dão origem ao gesto pretendido para execução de tarefas práticas.
Assim pode-se observar que o paciente volta a confiar em sua habilidade para a execução das AVD’s.
Estudo de Caso
O paciente A.P. 63 anos sexo masculino, procurou o Pilates por causa de dores nas costa, mas observa-se uma postura com tronco fletido, tremores nas mãos e sialorreia. Vale a pena ressaltar que o paciente é super ativo faz caminhada, musculação e trabalha junto com os filhos.
O paciente optou pela prática do Pilates 2 vezes por semana, e em poucas sessões observa-se a melhora da postura e das dores.
Mas o mais impressionante é a desenvoltura do paciente nas AVD’s assim relatado pelo paciente e pelos familiares. Um dos relatos é que nunca havia sido tão fácil caminhar nas ruas e em calçadas desniveladas.
No tratamento da Doença de Parkinson, observou aspectos relacionados à funcionalidade dos idosos com DP, dando ênfase a capacidade dos mesmos em realizar suas AVD’s.
O principal objetivo a ser atingido foi que através de um melhor desempenho de suas funções, com a compreensão e o amor de todos que o cercam, o idoso com Doença de Parkinson, tenha garantido seu lugar na sociedade de forma a ser respeitado em suas limitações e capacidades únicas.
Concluindo…
A abordagem com o Método Pilates, e a observação de sua aplicação junto aos parkinsonianos, pode comprovar as respostas positivas de um trabalho corporal bem orientado junto a idosos parkinsonianos, na melhoria da execução de suas atividades cotidianas, diminuição das dores, melhora da postura e da rigidez que causam tanto sofrimento a estes indivíduos.
A Doença de Parkinson é patologia única, de caráter crônico-degenerativa, que acarreta aos seus portadores transtornos de movimento, coordenação e força muscular, além de sintomas não motores, como distúrbios cognitivos, alterações emocionais e sociais.
Assim, o essencial do tratamento é possibilitar a garantia de independência e autonomia para os parkisonianos, o maior tempo possível.
De maneira geral pode-se dizer que o método Pilates evita o agravamento de uma série de sintomas que dificultam a vida dos parkinsonianos e podem ser grande aliado ao bem-estar do corpo e da mente humana para manter a independência funcional do indivíduo, bem como sua reintegração à sociedade.
Referências Bibliográficas
-
MATTOS, P. Demências e outros distúrbios relacionados. In: Diagnóstico e Tratamento em Psiquiatria. (BUENO, J.R.; NARDI, A.E., org.), Rio de Janeiro: Editora Médica e Científica, 2000.
-
SULLIVAN, S.B. & SCHMITZ, T.J. Fisioterapia: Avaliação e Tratamento.2 ed. São Paulo. Ed. Manole, 1993.
-
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Projeção da População do Brasil para o período 1980-2020. Rio de Janeiro: IBGE-DEPIS. Disponível em: www.ibge.gov.br.