Com a vida corrida e atribulada em que estamos vivendo, têm aumentado cada vez mais a chance das gestantes apresentarem a síndrome hipertensiva durante a gestação.
Isso porque as mulheres dão prioridade para a vida profissional durante muito mais tempo e quando decidem ser mãe, ficam na dúvida sobre o que fazer com a vida profissional naquele período.
Com essa dúvida, elas continuam durante a gestação com a mesma rotina de trabalho, ou até mesmo mais intensa. Sempre pensando que precisa deixar tudo pronto, para quando saírem de licença maternidade.
Sendo assim, a síndrome hipertensiva na gestação tem se tornado mais comum entre as futuras mamães do que imaginamos.
A Síndrome Hipertensiva na Gestação
A hipertensão arterial é a complicação clínica mais comum que ocorre durante a gestação. Sendo está a maior causa de morte no país, segundo os dados do Ministério da Saúde de 2001.
A gestante é considerada com hipertensão quando a pressão arterial sistólica é maior ou igual a 140 mmHg e/ou pressão diastólica maior ou igual a 90 mmHg em uma mulher previamente normotensa, e que surge a partir da 20ª semana e sem proteinúria.
Esse é um diagnóstico temporário para as gestantes hipertensas que não satisfazem os critérios para pré-eclâmpsia ou hipertensão arterial crônica.
Esse diagnóstico será alterado para pré-eclâmpsia, se desenvolver proteinúria; hipertensão arterial crônica, se persistir a elevação por mais de 12 semanas após o parto. (Baracho, E., 2012)
A hipertensão aguda, que surge após a 20ª semana, é denominada pré – eclampsia ou eclampsia (A gestante vai apresentar convulsão ou coma). A tríade dessa doença é a hipertensão, edema e proteinúria.
A eclampsia é definida como presença de convulsões tônico-clônicas generalizadas, ou coma durante a gravidez ou pós parto em paciente com pré – eclampsia.
Os Benefícios do Pilates para a Síndrome
Não há literatura científica suficiente que mostre os efeitos da prática de atividades físicas em gestantes portadoras de hipertensão arterial crônica.
Segundo diretriz do American College of Obstetricians and Gynecologists de 2002, a hipertensão arterial crônica tem apenas contraindicação relativa à prática de exercícios.
Sendo assim, podemos trabalhar com o Método Pilates durante a gestação, desde que bem orientado e com as devidas adaptações e autorização do obstetra.
Os exercícios oferecem um efeito protetor ao surgimento desta patologia, mas o ideal seria iniciar a prática um ano antes ou pelo menos desde o início da gestação.
Eu desconheço estudos que mostram a eficácia do Método Pilates em alunas gestantes portadoras da Síndrome Hipertensiva. Porém em minha prática clínica observo muitos benefícios.
Em geral os médicos recomendam a prática com o objetivo de manter a aptidão física, prevenir dores, desconfortos musculoesqueléticos e doenças cardiovasculares, reduzir a resistência à insulina, controlar o peso corporal, diminuir a ansiedade e o estresse e melhorar a qualidade de vida.
Porém como sabemos, um dos princípios utilizados no Pilates é a respiração, e esse já é um fator contribuinte para diminuir o estresse e a ansiedade. O que consequentemente diminui assim os níveis da pressão arterial.
Durante as aulas com gestantes eu sempre enfatizo a qualidade dos princípios inicialmente. E pensando em uma aluna com hipertensão arterial crônica, devemos redobrar os cuidados e também como forma de precaução, aferir a pressão arterial no início e ao final da aula.
Cuidados Importantes durante a Aula de Pilates
Como sempre em uma aula de Pilates para gestantes devemos tomar cuidados com diversos pontos. Afinal precisamos fazer com que o Método beneficie da melhor maneira nossas alunas e proporcione conforto e bem-estar.
Sendo assim segue abaixo algumas dicas importantes de cuidados a serem tomados com as alunas com Síndrome Hipertensiva.
A Pressão Arterial
Se por acaso sua aluna gestante apresentar a Pressão Arterial acima de 140X90mmHg antes de iniciar as aulas, devemos ter alguns cuidados durante os exercícios.
Como por exemplo, não manter os MMII elevados por um tempo prolongado, pois esta posição aumenta o retorno venoso e também tem a tendência a elevar a pressão arterial.
Esse é um cuidado simples, mas que devemos prestar muita atenção. Isso porque utilizamos muito durante as aulas com as gestantes, pois é um posicionamento que favorece a diminuição do edema frequentemente observado nessas alunas.
Exercícios não recomendados
Também devemos evitar exercícios que utilizem muitos grupos musculares ao mesmo tempo. Como por exemplos algumas pranchas, o Going Up na Chair, agachamentos em isometria, entre outros.
Esses exercícios tem uma grande tendência a deixar a gestante bem cansada e consequentemente uma chance maior de aumentar a pressão e arterial.
As aulas com essas alunas poderão fluir normalmente, desde que os exercícios escolhidos sejam sempre realizados com a respiração correta. Ou seja, inspirando e expirando lento e profundamente.
Existem tempos respiratórios diferentes utilizados nos estúdios de pilates. Eu tenho uma preferência por utilizar a respiração de quatro tempos.
Essa seria inspirar parada, expirar no movimento, inspira parada e expira retornando no movimento. Dessa forma a aluna consegue realizar o movimento mais concentrado e vai influenciar diretamente na manutenção da pressão arterial.
Evitar Apnéia
Outro cuidado extremamente importante, relacionado à respiração, é evitar a apnéia.
Isso consequentemente, vai desencadear a manobra de Valsalva. Essa manobra tem como efeito o aumento da pressão intratorácica. Que vai provocar redução do retorno venoso e, como resultado, o organismo responde com elevação da pressão arterial e da frequência cardíaca para manter a adequada perfusão dos órgãos. (Baracho, E., 2012)
Exercícios que trabalham a ativação da musculatura posterior da perna (tríceps sural), como por exemplo, os Foot Works no Refomer, são muito benéficos para reduzir o edema de MMII muito presente nessas alunas.
Ou então uma variação de fortalecimento e alongamento de tríceps sural na chair, como o joelho flexionado.
Concluindo…
Enfim não existem muitos segredos para conseguir dar aulas para gestantes portadoras da síndrome hipertensiva.
Porém devemos ser muito mais cautelosos, principalmente para aferir a pressão arterial, antes e depois da aula, sempre que possível.
Além de também observar qualquer sinal diferente relacionado à aumento de frequência cardíaca ou frequência respiratória.
Lembrando sempre, que é imprescindível a liberação médica para iniciar a prática do Método Pilates. E também para continuar praticando ao longo da gestação.
Se possível mantenha um relacionamento com o obstetra da sua aluna, para que assim passe mais credibilidade e segurança.
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Referências Bibliográficas
Atividade Física na Gravidez e no Pós – parto, Marco Antonio Borges Lopes e Marcelo Zugaib, Editora Roca, 2010.
Fisioterapia Aplicada à Saúde da Mulher, Elza Baracho, Quinta Edição, Editora Guanabara Koogan, 2012.
Patrícia de Andrade Valeriano
Fisioterapeuta e Instrutora de Pilates na WP Pilates & Saúde
Integrante do grupo das idealizadoras do Projeto Mamãe Saudável
Responsável pelo curso de Pilates para Gestantes