Durante a nossa prática clínica nos deparamos com algumas situações que exigem cuidados específicos, como a realização de movimentos nas extremidades inferiores.
Devemos ter sempre em mente que todo aluno é único e que é necessário que o planejamento de aulas também seja individual, e para isso, antes de tudo devemos sempre realizar uma boa avaliação.
A avaliação nos dará as informações importantes para que possamos traçar objetivos e planejar o programa de exercícios.
Sabemos que o método Pilates é um método seguro e pode ser praticado com poucas restrições, no entanto, assim como toda modalidade de exercício alguns movimentos merecem cautela em situações específicas.
Nessa breve discussão, falaremos um pouco sobre algumas precauções que devemos ter durante a realização de movimentos nas extremidade inferiores em situações específicas que podemos nos deparar durante a nossa prática profissional.
Disfunção da Articulação Sacroilíaca
Para entender melhor quais cuidados devemos ter com alunos/pacientes que possuem disfunção nessas articulações devemos ter em mente alguns detalhes sobre a região da pelve.
O ílio de cada quadril articula-se com o sacro, compondo a articulação sacroilíaca, e o ossos púbicos articulam-se entre si na sínfise púbica anteriormente. A articulação sacroilíaca, serve como ponto de intersecção entre a coluna e as articulações das extremidades inferiores.
A instabilidade das articulações que compõe a pelve pode ocorrer em qualquer cliente/aluno, mas são particularmente comuns no período pré e pós-natal devido a produção do hormônio relaxina que sofre aumento. Esse hormônio induz o aumento da frouxidão articular em várias articulações.
As articulações com movimento reduzido (hipomobilidade) exigem a utilização de técnicas de mobilização e de exercícios para recuperar o alinhamento e a mobilidade normais.
Já as articulações com movimento excessivo (hipermobilidade e/ou instabilidade) exigem o emprego de técnicas e de exercícios para estabilizar ou equilibrar as forças ao redor das articulações hipermóveis ou instáveis.
Hipo ou hipermobilidade em qualquer articulação pélvica pode ser agravada pela descarga de peso em uma perna e pelo movimento assimétrico das pernas.
Por esse motivo, devemos ser cautelosos com a realização de movimentos. Essa informação não significa que nosso aluno/paciente nunca poderá fazer tais exercícios, trata-se apenas uma precaução que devemos tomar até que ele progrida no processo de reabilitação.
Osteíte Púbica
A osteíte púbica é uma inflamação dolorosa dos ossos púbicos próximos a linha média.
É uma disfunção mais comumente encontrada em pacientes/ alunos bem específicos, como atletas que participam de atividades que realizam movimentos contínuos produzindo forças de cisalhamento na sínfise púbica.
Exemplos disso são, o apoio unilateral da perna ou forças de aceleração-desaceleração exigidas durante algumas atividades, como corrida, caminhada em pista, ginástica, futebol, basquete e tênis.
De maneira geral, essa disfunção é mais comum em homens durante a 3° e a 4° década de vida. Os sintomas (principalmente dor ou o desconforto) localizam-se na área pubiana, na região da virilha (uma ou ambas), e no músculo reto do abdome inferior.
A sobrecarga dos músculos adutores e dos abdominais superficiais pode contribuir para o aumento dos sintomas. Nesse caso, devem ser evitados exercícios de descarga de peso unipodal, movimentos assimétricos de membros inferiores e também resistência bilateral dos músculos adutores.
Entretanto, devemos sempre nos lembrar que essas restrições de realização de movimentos são importantes na fase aguda e em casos de sintomas, a medida que o quadro do paciente/aluno for melhorando esses exercícios podem ser introduzidos de forma gradual.
Artroplastia Total de Quadril
A artroplastia total de quadril é uma das intervenções cirúrgicas mais largamente realizadas para artrite avançada da articulação do quadril.
Geralmente a osteoartrite é a patologia de base responsável pela maior parte dos procedimentos totais primários de quadril. Nos últimos anos, uma variedade de modelos de implantes, materiais e acessos cirúrgicos tem sido desenvolvidos.
Ao recebermos um paciente pós-cirúrgico devemos estar atentos ao tipo de acesso cirúrgico que foi realizado.
Existem os acessos cirúrgicos convencionais que podem ser usados durante procedimentos tradicionais de artroplastia total de quadril (posterior ou posterolateral, lateral, anterolateral, anterior e transtrocantérico) e os minimamente invasivos que tendem a preservar os músculos reduzindo o trauma dos tecidos moles durante a cirurgia (acesso posterior, anterior e lateral).
Essa informação é extremamente importante, porque de acordo com a característica de cada acesso cirúrgico poderemos identificar o envolvimento dos músculos do quadril e outros tecidos moles e com isso determinar um impacto potencial na função pós-operatória.
Em geral, a principal complicação pós-operatória nesses pacientes/alunos é a luxação do quadril protético, que pode estar ligado a diversos fatores como, idade, tipo de acesso cirúrgico, equilíbrio inadequado dos tecidos moles, fraqueza muscular, entre outros.
Para minimizar esse risco devemos evitar a realização de movimentos com exercícios que trabalhem com flexão de quadril acima de 90° e realizar adução e rotação interna da perna (ao mesmo tempo ou separados) por pelo menos 6 semanas de pós operatório.
Lembre-se que cada paciente/aluno, evolui de forma individual e que a progressão da reabilitação deve ser tratada dessa forma.
Bursite Trocantérica
As bursas são sacos preenchidos com líquido sinovial que existem, em locais de fricção entre tendões e osso, bem como entre estas estruturas e a pele sobreposta. Podemos imaginá-las como um balão preenchido com óleo.
O propósito das bursas é dissipar a fricção causada por duas ou mais estruturas que se movem uma contra a outra.
Pode ocorrer secundária à fricção excessiva das forças de cisalhamento, como um resultado do uso excessivo que causa um processo inflamatório nessa estrutura ou ainda acontecer após um trauma (golpes e contusões diretas) que causam sangramento nas bolsas.
Desequilíbrios de flexibilidade muscular e força e a má postura resultante da pelve podem ser fatores predisponentes levando à irritação de uma bursa.
Em geral, a bursite trocantérica é vista, na prática clínica como uma lesão por uso excessivo, encontrada em corredores e ciclistas. Também pode ser observada em indivíduos com um ângulo Q aumentado, trocanteres proeminentes ou discrepância no comprimento dos membros inferiores.
A inflamação, caracteriza-se por dor sentida na porção lateral do quadril e possivelmente pela lateral da coxa até o joelho quando a banda ilio-tibial raspa no trocanter.
A pessoa pode sentir desconforto após ficar em pé assimetricamente por longos períodos com o quadril afetado elevado e aduzido e a pelve caída no lado oposto. A deambulação e subida de escadas agravam a condição.
Diante de aluno/pacientes com bursite trocantérica, devemos ficar bem atentos durante a realização de movimentos dos exercícios, pois alguns movimentos podem agravar o quadro álgico. Exercícios em decúbito lateral geralmente não são bem tolerados, pois causam compressão da bursa gerando dor.
O programa de exercícios deverá enfatizar o alongamento de algumas estruturas, como o trato iliotibial e musculatura adutora, bem como a lenta integração aos exercícios resistidos progressivos abrangendo a musculatura do quadril.
Concluindo…
Ao longo dessa discussão vimos algumas situações específicas em que devemos ter cautela durante a nossa prática profissional.
Grande parte delas exige domínio e segurança do profissional e é claro uma boa avaliação prévia do paciente/aluno, para nos guiar durante a montagem do plano de aulas.
Outra dica importante é sempre realizar reavaliações, pois elas vão nortear as progressões do programa de exercícios.
Estar sempre atento ao aluno e as suas queixas durante o exercício e pós-sessão também nos auxiliam a identificar possíveis cuidados e contraindicações que devemos tomar.
Lembrem-se sempre que uma abordagem individualizada nos dará segurança durante o atendimento.
Referências Bibliográficas
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Voight M, L.; Hoogenboom B, J.; Prentice W, E. Técnicas de exercícios terapêuticos: Estratégias de intervenção musculoesquelética. 1st ed. São Paulo: Manole; 2014.
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Dutton M. Fisioterapia ortopédica: Exame, avaliação e intervenção. 2nd ed. São Paulo: Artmed; 2010.
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Baracho E. Fisioterapia Aplicada à Obstetrícia, uroginecologia, e aspectos da mastologia. 4th ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2007.
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Kisner C.; Colby, L,A. Exercícios terapêuticos fundamentos e técnicas. 6th ed. São Paulo: Manole; 2016.
Que texto maravilhoso, Dra Isabella. Muito esclarecedor. Espero ler mais textos seus aqui neste blog.
Muito bom!
Obrigada Gabriela.
Continue acompanhando as postagens do Blog Pilates, tem muitas informações interessantes e úteis.
Abraços fraternais.
Ótimo artigo. Parabéns.
Por meio dele consegui diagnosticar o problema que estava sentindo. Agora só preciso buscar o tratamento adequado com um profissional especializado.
Muito bom! Esse artigo vai dirimir dúvidas de muitos leitores!
Obrigada Gleidson,
Fico feliz em saber que pude ajudar.
Abraos fraternais.
Nossa, muito boa as colocações!
Ajuda muito a prática diária, obrigada por compartilhar o conhecimento!
Querida Letcia,
Obrigada pelos elogios, fico feliz em poder contribuir para sua prtica diria. Continue acompanhando as postagens pelo blog.
Abraos fraternais.
Eu estava justamente procurando por esse tipo de informação. Me ajudou muito. Continuem postando mais artigos interessantes.
Thaís,
Fico feliz em saber que as informações ajudaram você. Você pode encontrar mais informações como essa no texto “Contra Indicação de Exercícios que todo Instrutor deve saber!”. Está na categoria dicas do blog.
Abraços.
Concordo plenamente com você.. Uma abordagem individualizada e uma boa avaliação fazem a diferença. Parabéns pelo artigo.
Obrigada Celma.
Continue acompanhando as postagens do Blog Pilates, tem muitas informações interessantes e úteis.
Abraços fraternais.
Muito bom esse texto!
Flávio, fico feliz em saber que gostou do texto. Continue acompanhando as postagens do blog.
Abraços fraternais.
Ha 2 meses e meio fiz a cirurgia de ATQ E, e após alta das fisioterapias, iniciei o Pilates, há 3 aulas venho sentindo dor muscular e dificuldade de subir escadas e andar normalmente, só passa com remedio, devo continuar com as aulas? pois minha fisioterapeuta me diz que eu estava com a musculutura muito encurtada e que vai doer pois os musculos também estão fracos.
Olá, Maria!
O instrutor deve realizar uma avaliação completa do seu caso e verificar quais são as suas limitações e necessidades para passar os exercícios mais adequados. É importante também que você relate ao instrutor quando sentir dor, assim será possível adaptar o movimento para que você consiga executá-lo sem prejudicar a sua qualidade de vida.
Abraços 😊