Hoje vai ter textão com assunto polêmico? Vai sim! E é sobre a periodização no Método Pilates!
Estamos passando por uma mudança na forma como aplicamos as aulas de Pilates hoje em dia. Não temos como negar que a forma rígida e coreografada criada por Joe, está se modernizando e se baseando cada vez mais em evidências científicas e se adaptando às necessidades de estúdios e instrutores e mercado.
Não estou aqui para debater qual seria o melhor, visto que procuro praticar os dois métodos e sou completamente apaixonada pelos comandos tradicionais do clássico (ex-bailarina que sou) e também pela flexibilidade das aulas atuais. Entendo que o importante é o resultado obtido pelo aluno e o método que ele se sinta melhor em praticar.
No entanto, não podemos ignorar a grande quantidade de instrutores que hoje em dia adaptam as suas aulas à todo tipo de situação, como por exemplo, número maior de alunos numa mesma sessão, falta de experiência em estar à frente de uma sala, espaços reduzidos, materiais inovadores, necessidades e preferências individuais, oportunidade de realizar cursos etc.
Importância da Periodização no Método Pilates para as Aulas
Portanto, o fato de não sairmos do curso de Pilates contemporâneo com uma receita de “bolo” a seguir, faz com que estejamos sempre diante da seguinte pergunta: o que dar hoje na minha aula? A gama de exercícios aprendidos não podem ser apenas jogados aleatoriamente, e são tantos não é mesmo?
Quem já trabalhou com outras práticas físicas de atletas ou não, sabe que existem métodos para se elaborar um planejamento de aulas que sigam uma evolução, onde se tem como objetivo levar o aluno a conseguir realizar um repertório de movimentos saindo do básico, passando pelo intermediário e chegando ao avançado.
Além disso, todo aluno que nos procura tem seus objetivos, e somos responsáveis por alcançá-los. Não imaginamos uma ginasta conseguindo realizar um duplo twist carpado sem realizar ao menos uma “estrela” no solo não é mesmo?
Também não seremos capazes de levar nosso aluno a realizar um snake, ou uma invertida no cadillac, ou até mesmo um teaser maravilhoso, sem aprender a realizar acionamento correto de power house, melhora de flexibilidade e concentração. Ou seja, do básico para o complexo.
Para tanto, continuo batendo na tecla da organização ao longo do tempo, planejada individualmente e levando em consideração muitos aspectos como frequência semanal, individualidade biológica, consciência corporal, idade, objetivo etc. E no mundo da atividade física isso se chama periodização.
De uma forma geral, a periodização no Método Pilates é uma forma de estruturar o treinamento em um tempo determinado, por meio de períodos lógicos, em que se compreendem os regulamentos do desenvolvimento da preparação do individuo. A periodização está ligada à noção de dividir a forma esportiva em períodos (MONTEIRO E EVANGELISTA, 2015).
Mais basicamente, pegar o tempo total que teremos pra trabalhar com o aluno, listar os objetivos principais e secundários e dividir ao longo deste tempo, levando em consideração o que é mais importante para atingir o objetivo.
Estudos Científicos sobre o Método Pilates
Tenho plena consciência de que o assunto de periodização no Método Pilates é controverso, mas levando em consideração que o assunto Pilates nas pesquisas cientificas vem aumentando apenas nos últimos 10 – 12 anos, ainda temos muito o que aprender, inclusive no campo da pedagogia para o método.
Segundo Souza et. al.,(2017), apesar do aumento de artigos publicados nos últimos anos, a maioria deles tem foco na fisiologia do exercício e biomecânica, muito ainda temos que caminhar no sentido de discutir aspectos sócio culturais e pedagógicos.
O autor ainda comenta que o Método Pilates é um tipo de treinamento sistematizado, que possibilita a manutenção ou incremento da flexibilidade, postura, condicionamento cardiorrespiratório, e das valências do treino de força contra resistência, ou seja, da hipertrofia, potência, resistência e força muscular.
Mais um motivo para tudo ser organizado ao longo do tempo com a periodização no Método Pilates. Além disso, os aspectos que estão começando a ser estudados ligados ao Pilates é mais uma prova de que esta estruturação se faz necessária.
Um estudo que foi publicado na Revista Carioca de Educação Física em 2016 (Perfeito et.al.), investiga a influência do tempo de intervalo entre as séries e exercícios sobre o número de repetições e volume de um programa de Pilates.
O artigo nos mostra que o tempo de intervalo de recuperação pode alterar de forma direta o número de repetições, a carga utilizada e o volume da sessão, influenciando diretamente na capacidade de se manter com qualidade e sem risco de lesão na prática dos movimentos do Pilates.
Vejam que o autor usa a palavra “qualidade” do movimento, fundamental para o método. Mas o que é o mais importante desta história é fato de esse assunto já estar sendo estudado mais profundamente fora do campo da reabilitação e nos mostrando como o nosso tão amado Pilates ainda pode instigar investigações.
Ou seja, variáveis como quantidade, ordem, tempo de intervalo, necessidade ou não de séries, número de repetições e carga que antes eram negligenciadas pelos instrutores, agora, serão mais estudadas.
O que pretendo com isso?
Espero que nós instrutores, saibamos o que dar na aula de hoje porque o plano já foi elaborado previamente, baseado em todo o conteúdo que ele estabeleceu para aquele semestre, ou trimestre, mês, semana e aula do dia.
Esperamos também que as discussões sejam baseadas em fatos verdadeiros e publicados e não em “achismos”.
Uma outra vantagem de se ter uma organização como a periodização no Método Pilates é mostrar ao seu aluno que você é um profissional comprometido com o resultado que ele espera alcançar, dá credibilidade ao instrutor e ao estúdio e de quebra ainda fica claro o quanto é importante a presença dele nas aulas.
Concluindo…
Concluindo, embora a periodização tenha sido criada para o esporte de alto rendimento, pode ser adaptada a programas de exercícios para esportistas.
A importância na utilização desse conceito da metodologia do treinamento é fazer com que aluno realmente alcance os resultados esperados através de um planejamento crescente e coerente e que respeite as individualidades das pessoas que nos procuram.
Espero que gostem da periodização no Método Pilates, e saibam que estou com vocês numa busca de conhecimento constante para cada vez mais valorizar o método mais crescente do país.
Referências Bibliográficas
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MONTEIRO, ARTUR GUERRINI. Treinamento funcional: uma abordagem prática. Phorte Editora. 3ª edição. 2015.
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PERFEITO, R. S., MONTENEGRO, L. P., GURGEL, A. V., FERREIRA, R. J. S. Influência do tempo de intervalo entre séries e exercícios sobre o número de repetições e volume de um programa de atividades do método Pilates. Revista Carioca de Educação Física. Vol. 11, 2016.
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SOUZA, C. COSTA, L. M. R., SILVEIRA, R., LOSS, J. F. Evolução do saber científico no Brasil associado ao método Pilates. Revista fisioterapia Brasil, v.18, 2017.
Gostei muito do seu texto sobre periodização no Pilates. Tenho muito interesse sobre o assunto e atualmente venho estudando sobre isto pois quero criar algum tipo de sistematização neste sentido. Tenho lido sobre o método do Rael Isacowitz, o Basi Pilates, que se aproxima desta ideia da evolução com base no planejamento. Gostaria de saber quais são as linhas que vc tem seguido, se puder compartilhar claro. Agradeço! Ivana
Oi Ivana, que bom que você gostou. Então, eu também adoro ele, quase devoro o livro dele. Sobre periodização, é uma metodologia de planejamento que já é utilizado em outras atividades físicas, entretanto, adaptei ao pilates no meu estúdio e tem dado muito certo. Leva em consideração, as características individuais, número de aulas semanais, experiência do aluno em vivências físicas, tempo para atingir o objetivo que ele busca (quando são mensuráveis), e claro, sem esquecer dos princípios do método. Levamos em consideração, inclusive aprendizagem motora e coordenação. Tudo para planejarmos com muito cuidado as aulas. Mantenha contato, esse assunto é muito interessante mesmo.