Sabe o que qualquer profissional minimamente qualificado deve oferecer ao seu aluno? Resultados. Inclusive no tratamento da dor lombar, algo tão comum nos nossos Studios.
Quando falo de resultados não quero dizer um alívio temporário da dor. Qualquer um consegue isso através de analgésicos ou relaxantes musculares, e isso sem sequer serem formados em fisioterapia.
O que quero dizer é resolução da patologia, melhora nos padrões de movimento e retorno às atividades diárias e esportivas. Se você consegue isso para seu aluno, ele se lembrará muito bem, estará disposto a dar indicações e a continuar com você. Caso contrário, tenho certeza que ele consegue encontrar outro Studio de Pilates a duas quadras do seu.
Por isso, é importante conhecer alguns erros que às vezes cometemos ao tratar nossos pacientes. Preste muita atenção em cada um deles, porque eles são capazes de acabar com todo seu tratamento.
Nesse artigo você verá com detalhes cada um desses erros comuns no tratamento da dor lombar e também, aprenderemos como evitá-los para melhorar cada vez mais.
Se você quer continuar aprendendo e dar o melhor atendimento para seus pacientes continue lendo!
1. Esquecer de testar articulações próximas
O corpo é um conjunto de articulações e musculaturas conectadas. O que quer dizer, que desequilíbrios em articulações próximas certamente podem estar por trás do problema na lombar.
Quem me acompanha sabe o que sempre digo: qualquer tratamento ou reabilitação precisa ser global. De nada adianta tratarmos a lombar de maneira isolada. Se o desequilíbrio permanece em outro local a dor pode até desaparecer temporariamente, mas voltará. E pior: o aluno talvez desenvolva novos desequilíbrios pelo corpo.
Nesse tópico focarei no quadril e na coluna torácica para entendermos melhor como isso acontece.
Quadril e tratamento da dor lombar
O quadril é uma articulação extremamente estável que, às vezes, acaba com movimentos dificultados. Essa situação é muito comum, especialmente por passarmos muitas horas do dia sentados.
Se o problema ficasse claro e a dor ficasse somente no quadril seria mais fácil de tratar. Mas nem sempre as dores ficam limitadas ao quadril, na maioria dos casos elas nem aparecem no quadril.
É extremamente comum encontrarmos casos com dor referida do quadril para a coluna lombar. Isso acontece porque para compensar a pouca mobilidade do quadril, a lombar acaba com mobilidade em excesso.
Além disso, encurtamento de musculaturas do quadril podem gerar compensações na região da lombar. Isso acaba levando a dor e ainda mais compensações.
Até problemas na articulação sacroilíaca podem ser facilmente confundidas com dor lombar. Portanto, uma só uma avaliação completa te ajudará a determinar o real problema desse aluno.
Coluna torácica e dor lombar
Como a lombar é a continuação da torácica conseguimos facilmente entender que dificuldades em uma região afetam a outra. Além do efeito das cadeias musculares e fáscias, também podemos citar a influência que essa continuidade das articulações gera.
Assim como o quadril, a torácica é mais rígida que outras partes da coluna. Isso acontece por sua junção com a caixa torácica, que limita seus movimentos. Apesar disso, ela ainda precisa se mover.
Seus movimentos estão relacionados com o funcionamento dos ombros, a respiração e diversos outros fatores. E quando ela não consegue realizar suas funções alguém terá de compensar com mobilidade, nesse caso será a lombar.
Uma coluna torácica imóvel gera tensões musculares importantes para a coluna lombar e também falta de estabilização. Ou seja, é bastante comum encontrarmos alunos com pouca mobilidade de coluna torácica que sofrem com dor lombar.
Para um bom tratamento da dor lombar precisaremos reabilitar também a coluna torácica.
2. Esquecer de trabalhar membros inferiores
Não são só as articulações próximas à coluna lombar que tem capacidade para gerar a dor. Uma musculatura tem importância especial: o glúteo máximo.
Pense direitinho e decida, quantos dos seus alunos iniciantes apresentam ativação de glúteos pouco eficiente. Fique sabendo que essa condição é bastante comum e é conhecida como amnésia glútea.
Existe uma grande probabilidade de a amnésia glútea estar por trás de muitos casos de dor lombar inespecífica. Comecemos entendendo o papel dessa musculatura no movimento.
O glúteo máximo está por trás de ações tanto do quadril quanto da lombar. Assim, em praticamente qualquer processo de reabilitação, quando ele está pouco ativado teremos uma compensação importante por parte dos isquiostibiais
Os isquiotibiais também conseguem realizar a extensão do quadril e muitas vezes substituem os glúteos nessa ação. Porém, não é uma compensação eficiente para o corpo. Ao realizar a extensão do quadril essa musculatura também aumenta a curvatura da lombar.
É importante lembrar também que o glúteo máximo e o músculo Psoas auxiliam na estabilização da região lombo-sacral. Sem sua ação a articulação sacroilíaca perde estabilidade. A partir da disfunção da sacroilíaca podemos ter problemas em algumas regiões da lombar que ficam comprometidas.
Por fim, o glúteo máximo também está conectado à fáscia toracolombar. Tensão ou desequilíbrios nessa musculatura também afetarão musculaturas eretoras da coluna. Portanto, a estabilidade lombar ficará ainda mais prejudicada.
Toda a coluna sofre com a amnésia glútea, mas a lombar em especial. Nunca inicie o tratamento da dor lombar sem avaliar o glúteo máximo e sua ativação. Possivelmente, esse é um dos problemas que aflige seu aluno.
Sem consertar essa região você dificilmente conseguirá resolver a lombalgia.
3. Limitar os movimentos do aluno
Pelo que percebo atendendo alunos e pacientes, muitas pessoas chegam para nós já com medo de se mover. Quando alguém levanta da cadeira e sente uma dor lombar aguda, geralmente vai se limitar naquele movimento de agachar.
E a situação piora quando esse aluno já passou por alguns médicos. A maioria recomenda repouso como parte do tratamento, então o aluno entende que não deve mais fazer alguns gestos. Ele só esquece que com o repouso seu corpo criará ainda mais compensações musculares.
Sem se mover esse corpo ficará limitado, com musculaturas enfraquecidas e incapazes de suportar a carga que precisam. E sabem qual é o resultado do enfraquecimento? Se você leu com cuidado o tópico anterior já viu como a falta de ativação de um músculo prejudica todo o corpo.
Agora imagine como está o corpo de alguém que tem medo de se mexer e prefere ficar de repouso.
“Eu vou trabalhar com o meu aluno mesmo que ele sinta dor?”
Calma, não é para tanto. A dor é um aviso de que chegou a hora de parar, independentemente do movimento que estamos fazendo. Se durante o tratamento da dor lombar a pessoa reclamar em um exercício você para e troca de técnica.
O que podemos fazer pelo aluno com dor é aliviar sua dor. Lembrando que esse é o primeiro passo no tratamento da dor lombar, e de praticamente qualquer dor. Sempre começamos aliviando a dor para depois termos maior liberdade para fazer os exercícios.
Conseguimos esse alívio através de algumas técnicas como:
- Uso de gelo ou calor;
- Terapia manual;
- Massagens;
- Liberação miofascial;
- Acupuntura;
- Dry needling.
O profissional escolhe a técnica que achar melhor e mais conectada com seu estilo de trabalho. Após o alívio chegou a hora de recuperar os movimentos do seu aluno, que não pode mais ser limitado.
Preparando o corpo para o movimento
Quero que você saiba que não podemos simplesmente evitar um movimento que causa dor. Mas também é um erro forçar o aluno a fazer um exercício dolorido. Parece que assim fica um pouco difícil de trabalhar, não?
Calma, é bem mais simples do que você pensa. Para conseguir levar o aluno àquele movimento você precisará fazer uma preparação. Comece descobrindo o que o limita e causa dor no tratamento da dor lombar. É falta de mobilidade, pouca estabilidade, encurtamento muscular, tensão muscular?
Encontre a resposta e comece a corrigir. Depois você deverá introduzir versões simplificadas do movimento que o aluno deverá fazer. Com essas versões ele treinará seu corpo e o deixará preparado para avançar.
Darei um exemplo da extensão lombar, um movimento que geralmente é difícil para os pacientes com lombalgia. Para conseguir introduzi-lo nos exercícios poderemos usar um processo de preparação que apresento nos vídeos abaixo.
4. Avaliar somente os exames de imagem
Sabe quando o aluno chega no seu espaço cheio de exames nas mãos? Ele joga tudo na sua frente e deixa que entenda qual é a patologia que tem e o tratamento através deles.
Os exames de imagem são importantes? Claro que são. Existem diversas patologias que só conseguimos confirmar através deles. Porém, os exames não são tudo, o corpo é um emaranhado complexo de fatores que levam à dor.
Você só consegue observar o corpo por completo ao observar seu movimento. Uma imagem te ajuda a se orientar em relação à patologia. Mas ele não indica que seu aluno possui o hábito de sentar com a postura errada e uma torácica pouco móvel.
Ele também não te conta que ele tem uma musculatura pouco ativada em certa região e que isso causa problemas na hora da corrida matinal dele.
Existem inúmeros fatores externos que também levam ao surgimento da patologia. Se nosso trabalho fosse tão fácil a ponto de conseguirmos manipular uma coluna e resolver a dor ninguém precisaria estudar tanto para isso.
Para que o tratamento da dor lombar seja eficiente você precisa ver o corpo como um todo. Compreenda que não está trabalhando com aquela coluna mostrada no exame de imagem, mas sim com uma pessoa.
Ao trabalhar dessa maneira você também perceberá a importância de trabalhar com o psicológico do aluno. Muitos têm movimentos limitados por insistirem nisso. Lembre que patologias como hérnia de disco e escoliose nem sempre estão ligadas à dor. O psicológico também tem muito a ver com isso.
5. Não corrigir compensações durante o exercício
Sei que é chato ficar corrigindo o aluno todo o tempo, especialmente quando estamos trabalhando com alguém com pouca consciência corporal. Manter um olhar atento no seu aluno enquanto ele se exercita é essencial para identificar as compensações.
O problema é que muitos profissionais não sabem o que fazer com essas compensações depois. O ideal é corrigir seu aluno e tentar levá-lo a um movimento perfeito. Claro que você não conseguirá corrigir tudo, até porque a aula ficaria muito chata.
O que é possível, é mostrarmos o exercício perfeito para o aluno e fazer pequenos apontamentos enquanto ele se movimenta. Também podemos usar os próximos exercícios para corrigir essa compensação e mostrar como fazer direito.
O importante é em algum momento da aula conseguir consertar esse padrão errado de movimento. Imagine que você percebeu que um aluno está fazendo uma extensão exagerada de quadril para se mover. Se deixar que isso continue ele acabará piorando a dor lombar enquanto realiza atividades em casa ou no trabalho.
Também é importante lembrar que não conseguiremos corrigir todos os movimentos errados só com instruções. Muitas vezes essa compensação acontece pela ativação errada ou tensão de algum músculo relacionado. O aluno dificilmente conseguirá fazer a correção de maneira consciente.
Em casos assim também devemos utilizar outros exercícios para preparar o movimento. Mesmo que a aula inteira seja gasta para melhorar aquela característica do aluno, saiba que você está evoluindo com o tratamento da dor lombar. As compensações no movimento estão por trás da dor.
6. Deixar o aluno se automedicar
Geralmente antes de alguém procurar um instrutor de Pilates o costume é tentar dar um jeito sozinho. Infelizmente, quase todo mundo tem um analgésico em casa que é praticamente um remédio mágico.
Na hora que a dor aparece a pessoa simplesmente vai lá, toma o remédio e espera passar. Ninguém pensa que pode ser uma patologia ou desequilíbrio importante e que deve ser tratado.
Quando o paciente resolve procurar alguém para ajudar no tratamento da dor lombar ela já virou um conjunto de compensações bem complexas. E para piorar ainda mais nosso trabalho, o aluno continua a se automedicar depois de começarmos o tratamento.
Existem vários problemas com o uso de remédios para piorar a dor. O primeiro deles é o vício. Quando alguém está acostumado a sentir alívio só com remédios ele terá dificuldade em sentir alívio de outra maneira.
Na mente desse paciente o remédio é a única maneira de parar a dor, e seu corpo responde a isso. Automedicação é um grande problema que pode até colocar o tratamento em risco. E mesmo quando os remédios são recomendados por um médico, seu uso em excesso é bastante prejudicial.
Atletas que usam relaxantes musculares para dor, por exemplo, podem colocar seu corpo em risco durante o treino. O ideal é usar o medicamento somente nas ocasiões recomendadas pelo médico ou quando a dor é excessiva.
Se você tem um aluno que costuma usar medicamentos para sentir alívio na dor com frequência tente aconselhá-lo. Aproveite para ensinar alguns meios alternativos para melhorar, como autoliberação miofascial, alongamentos ou exercícios.
Você pode deixar esses exercícios como “dever de casa” do paciente, ajudando-o a prevenir a dor. É bem melhor que ficar se enchendo de analgésico e relaxante muscular por nada, concorda?
Conclusão
Percebemos como um tratamento da dor lombar localizado não é nada eficiente. Talvez você até consiga aliviar a dor a princípio, mas sem corrigir as disfunções que geraram a dor o resultado é momentâneo.
Eventualmente seu aluno voltará a sentir dor lombar e sua reputação como profissional diminuirá. Então por que insistir em tratamentos localizados, se podemos fazer uma boa avaliação, descobrir o problema real e proporcionar melhor bem-estar?
Compreendendo esse fator importantíssimo, podemos destacar alguns pontos essenciais no tratamento da dor lombar.
O primeiro deles é a influência de articulações próximas. O quadril e a coluna torácica, por exemplo, talvez estejam entre as causas.Como o corpo é completamente conectado, uma disfunção em alguma dessas partes se espalha e a lombar é frequentemente a vítima.
Também devemos lembrar da importância de algumas musculaturas de membros inferiores como o glúteo máximo.
O glúteo, em especial, é fonte de uma série de compensações maléficas quando pouco ativado. A lombar apresentará essas compensações em forma de dor, mas todo o corpo está sofrendo com elas. Portanto, lembre-se de fortalecer e melhorar a ativação dessa musculatura e todas musculaturas de sustentação do corpo.
Outro ponto que vale a pena lembrar é como a avaliação mudará os resultados do seu aluno. É só através dela que conseguimos perceber quais musculaturas estão pouco ativadas, articulações compensando, etc.
Devemos saber muito bem como os hábitos do aluno influenciam na patologia para pode corrigi-la através do tratamento.
Se você evitar cometer esses 6 erros o tratamento da dor lombar terá grandes chances de sucesso. Conheça sempre muito bem seu aluno e suas particularidades, isso é essencial antes de aplicar exercícios como os descritos nesse blog.