Você sabia que o número de adultos com hipertensão vem crescendo no Brasil? Segundo o IBGE, em 2019, 23,9% da população adulta foi diagnosticada com hipertensão, sendo que entre os idosos esse número pode chegar a 62,1% da população brasileira.
Isso significa que se a maioria do seu público for idosos, existem grandes chances de serem hipertensos e muitas vezes, por estarem medicados e com a pressão controlada, alguns acreditam estar “curados” da hipertensão e acabam nem mencionando durante a anamnese.
Existem alguns estudos em andamento pelo mundo que estimam um crescimento muito maior dessas doenças crônicas após a pandemia da Covid-19.
Assim, somente por esses fatores já se justifica o nosso olhar mais atento para essas doenças e também, como estudar maneiras que possamos ajudar de forma assertiva nossos alunos.
Pensando nisso, preparei esta matéria para te mostrar como o Pilates para hipertensão pode ser um ótimo aliado ao tratamento e compartilhar algumas dicas e exercícios para você colocar em prática durante seus atendimentos. Vamos lá?
O que é Hipertensão?
Para ficar bem claro, segundo as Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial (DBHA), um indivíduo é considerado hipertenso aqui no Brasil quando a sua pressão arterial atinge 140 mmHg e/ou 90 mmHg. Na tabela abaixo temos a classificação da pressão arterial.
Caso você não tenha um aparelho que faça essa aferição é importante que adquira, pois nunca sabemos quando uma emergência pode acontecer no meio da sua aula de Pilates.
E por que é tão importante ficarmos atentos a pressão arterial do aluno e ajudá-los a diminuir esses índices?
Por que essa doença crônica em específico acaba sendo como uma doença intermediária que desencadeia outras doenças graves e fatais como: acidente vascular encefálico, insuficiência renal crônica e infarto agudo do miocárdio.
Contudo, nós podemos reverter esse quadro com exercício de Pilates para Hipertensão e consequentemente, reduzindo esse fator de mortalidade substancialmente.
Recentemente saiu uma publicação na BMJ Open Sport & Exercise Medicine (2021), dizendo que reduções da pressão arterial de 5 – 10 mmHg diminuem o risco relativo de mortalidade cardiovascular em 16%, doenças coronária em 18% e acidente vascular cerebral em 36%.
Essa mesma publicação indica fortes evidências de que a combinação entre medicamento e atividade física potencializa os efeitos do medicamento, fazendo que a PAS e a PAD baixem mais. Nos casos em que indivíduos praticavam atividades físicas orientais (por exemplo: Yoga e Tai Chi) os valores de PAS e PAD reduziram em até 14 mmHg.
Efeitos do Pilates para Hipertensão
A DBHA recomenda a atividade física como forma de tratamento para os hipertensos em nível de pré-hipertensão e hipertensão estágio I. Isso não quer dizer que os outros estágios não possam fazer atividade física, podem, porém precisam fazer uso de medicamentos para controlar a sua pressão arterial também.
O exercício físico como o Pilates, em que podemos agregar uma sequência mais dinâmica e movimentos resistidos através das molas, ou até com o peso do próprio corpo, causa um Efeito Adaptativo ao organismo.
Esses efeitos adaptativos geram mudanças fisiológicas no nosso organismo, podendo ocorrer durante e após os exercícios, assim como também, possui uma longa duração.
Dentre esses efeitos, está a diminuição da pressão arterial, devido a contração muscular gerando uma liberação de enzimas responsáveis pela vasodilatação nos vasos sanguíneos. O tempo que essa vasodilatação beneficia o organismo é proporcional ao tipo de exercícios que esse indivíduo faz.
No entanto, é preciso tomar cuidado com o tipo de atividade que é prescrita para esse indivíduo, pois pode causar desmaios e mal-estar durante a sessão de Pilates para Hipertensão. Mais adiante falaremos dos cuidados que devem ser tomados, então, continue lendo essa matéria!
Como elaborar uma aula de Pilates para Hipertensão?
Segundo as DBHA de 2020, a recomendação para a população é de pelo menos 150 minutos por semana de atividade física moderada, sendo que o ideal é mesclar um treino aeróbico com o treino resistido.
Abaixo iremos listar algumas recomendações, não é necessário seguir à risca, são ideias para nortear o seu planejamento de aula de Pilates para Hipertensão, afinal, cada hipertenso tem a sua realidade e as suas necessidades, assim como cada instrutor também.
Treino Aeróbico
Seria interessante adicionar ao treino uma parte aeróbica, na esteira ou uma sequência curta de Pilates clássico no MAT (essa sequência depende do nível de condicionamento físico do seu aluno).
Contudo, essa parte aeróbica não pode deixar o seu aluno muito cansado, lembre-se que é intensidade moderada, ele deve conseguir se comunicar sem ficar muito ofegante.
Caso não seja possível incentive-o a fazer caminhadas, diariamente.
Treino resistido
Realize movimentos que abranjam os grandes grupos musculares. O recomendado é que não se ultrapasse 15 repetições em cada movimento e faça pausas entre os aparelhos de 1:30 à 2:00 minutos.
Fique atento! Se o indivíduo começar a realizar o movimento mais lentamente, apresentando alguma dificuldade é hora de parar as repetições.
Ah, e sempre que possível priorize exercícios unilaterais, assim a chance do seu aluno ter um pico hipertensivo é menor.
E nunca se esqueça de orientar as respirações durante os exercícios para que o seu paciente não faça uma apneia ao executar um movimento de força (manobra de Valsalva).
5 Exercícios de Pilates para Hipertensão
Abaixo, listei como exemplo 5 exercícios para você inserir nas aulas de Pilates para hipertensão. Confira e comece a colocá-los em prática nos tratamentos de seus alunos!
1. Cat
Faça variações e uso de acessórios de acordo com a necessidade do seu aluno.
2. Single Leg Stretch
Em caso de aluno debilitado ou iniciante, peça para que ele faça com o tronco apoiado e abrace a perna flexionada.
3. Single Straight Leg Stretch
Pode usar o Magic Circle como apoio dos pés e deixar o tronco apoiado no chão, assim corre-se menos o risco do seu aluno fazer uma apnéia na hora de subir a perna.
4. Shoulder Bridge
Dependendo do nível do seu aluno, peça para que ele levante uma das pernas ou que faça uma abdução das pernas quando o quadril estiver no ar.
5. Spine Stretch
Pode ser feito no solo, em pé ou girando o tronco em direção a uma das pernas.
Quais são os cuidados necessários durante as aulas de Pilates para Hipertensão?
Só para relembrarmos, quando fazemos uma atividade física a nossa pressão arterial aumenta por conta da contração muscular da execução do movimento, fazendo uma oferta reduzida de oxigênio no vaso sanguíneo muscular.
Assim, quando isso acontece, o nosso corpo manda estímulos para a produção de vasodilatadores, que fazem a pressão arterial baixar, beneficiando muito o organismo do hipertenso.
Quando forçamos muito o nosso aluno essa pressão arterial irá cair muito rápido e causar tontura, mal-estar, bocejo (efeito hipotensor agudo) e subir rapidamente, causando um pico pressórico, podendo levar seu aluno a romper aneurismas preexistentes.
Por isso não se pode fazer sessões muito intensas, com cargas muito pesadas, ou com muitas repetições.
Saber quando a aula está muito intensa é o grande problema, pois muitas vezes o aluno não se comunica com o instrutor, por isso é interessante aplicar o duplo produto cardíaco.
Duplo Produto Cardíaco
O duplo produto cardíaco nada mais é do que uma maneira de avaliar o risco cardiovascular do exercício para o seu aluno hipertenso. Ele mostra o esforço do coração para manter o fluxo de sangue e também o condicionamento físico do coração.
Quanto maior o duplo produto, significa que o coração está fazendo um maior esforço para manter o fluxo sanguíneo. Esse valor não pode passar de 30.000.
PAS X FC = DUPLO PRODUTO
Ex.: 130 mmHg x 90 bpm = 11.700
Veja abaixo alguns cuidados necessários:
- Verificar se o aluno está medicado e com a pressão arterial controlada;
- Não realizar exercícios se no repouso a PAS for maior que 160 mmHg e/ou a PAD for maior que 105 mmHg;
- Exija uma liberação médica para pessoas com pressão alta grave ou que não esteja controlada;
- Monitore o Duplo Produto na fase inicial e quando mudar a carga da sessão;
- Alguns medicamentos para controlar a pressão podem causar intolerância ao calor e hipoglicemia, assim como quedas abruptas da PA pós esforço. Fique atento ao seu aluno e não deixe ele fazer o exercício de Pilates para hipertensão sozinho;
- Fique atento às respirações durante os exercícios, não deixe que ele faça apneias!
- Converse com o seu aluno para saber se a intensidade da aula está intensa ou moderada.
Conclusão
Muitas vezes acabamos negligenciando o fato do nosso aluno ser hipertenso, pois virou uma doença corriqueira, comum e nunca ouvimos falar que “fulano” morreu por hipertensão. Porém como uma doença crônica ela acaba levando o indivíduo a outras doenças bem mais graves.
Como profissionais do movimento é de extrema importância ficar de olho em tudo que o nosso aluno está fazendo, como ele responde a cada série, como ele chegou ao seu local da aula, conversar com ele, perguntar como ele está, se passou bem o dia e se se alimentou bem antes da aula.
São coisas simples, mas que podem ajudar muito a ter um desenvolvimento e melhorar o quadro de saúde do seu aluno.
Não existe uma maneira ideal para trabalhar com a população hipertensa, aqui listamos algumas ideias e diretrizes de organizações brasileiras que são especialistas nesse tema, somente a experiência e o dia a dia podem melhorar o seu feeling de elaborar um plano de aula de Pilates para hipertensão que se encaixe perfeitamente com as necessidades do seu aluno.
Referências Bibliográficas
Sociedade Brasileira de Cardiologia, 2020. Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial. Disponível em: <http://abccardiol.org/article/diretrizes-brasileiras-de-hipertensao-arterial-2020/>.
IBGE, 2019. Pesquisa Nacional de Saúde. Percepção do estado de saúde, estilos de vida, doenças crônicas e saúde bucal. Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101764.pdf>.
Pescatello LS, Wu Y, Gao S, et al. Do the combined blood pressure effects of exercise and antihypertensive medications add up to the sum of their parts?. A systematic meta-review. BMJ Open Sport & Exercise Medicine 2021; 7:e000895. doi:10.1136/bmjsem-2020-000895