Quando abordamos o assunto dor lombar, já nos deparamos com números que nos assustam um pouco, né?! Em alguma época da vida, cerca de 70% a 85% de todas as pessoas sofrerão de dores nas costas.
Segundo Teixeira, cerca de 10 milhões de brasileiros ficam incapacitados por causa desta morbidade e pelo menos 70% da população sofrerá um episódio de dor lombar.
A lombalgia é uma das principais patologias ortopédicas que atinge grande parte da população, afetando 80% das pessoas, sendo a dor mais comum e de limitação física em indivíduos com menos de 45 anos de idade.
É uma patologia multifatorial, traumática ou atraumática, que pode vir associada ou isolada com uma lesão muscular, dor referida devido a uma espondilolise, listese ou hérnia discal. Por isso, saber a causa é o passo inicial para iniciar o tratamento.
Importância dos Movimentos do Quadril
Atualmente, alguns autores identificaram a instabilidade do segmento lombar como um importante motivo envolvido no fator causal da patologia.
Abordando assim as disfunções sacroilíacas e as síndromes de hipermobilidade lombar e/ou hipomobilidade pélvico, causado pelas alterações da coordenação paravertebral e do ritmo lombo-pélvico.
E é essa hipomobilidade pélvica que iremos abordar neste texto.
Então, vamos relembrar os movimentos realizados pelo quadril, que irão basear nosso tratamento para ganho de amplitude e mobilidade.
Anteroversão
É a posição da pelve na qual o plano vertical através das espinhas ântero-superiores é anterior ao plano vertical através da sínfise púbica.
Retroversão
Onde a posição da pelve na qual o plano vertical através das espinhas ântero-superiores é posterior ao plano vertical através da sínfise púbica.
Além, é claro, dos deslocamentos laterais, importantes na fase da marcha e circulares quando acontece a associação e sinergia dos movimentos acima descritos.
Hipomobilidade Pélvica e a Dor na Lombar
Sabido disso, conseguir identificar as compensações que acontecem devido a uma lombalgia, como a síndrome da hipomobilidade pélvica, através de uma boa avaliação biomecânica merece atenção especial.
Quando, após a avaliação de quadril, conclui-se que existe um quadril hipomóvel, sendo este o fator causal de lombalgia, precisamos pensar em aumentar a mobilidade desta região para alívio dos sintomas e causa.
Na ocasião de um quadril não realizar seus graus de liberdade com amplitude de movimento total, a lombar pode ficar sobrecarregada, instável e, consequentemente enfraquecida, movimentando-se mais do que o necessário, gerando desconforto, possíveis dores e lesões nesta região.
Devemos, portanto, saber como avaliar e tratá-la da melhor maneira, respeitando a amplitude de movimento para a individualidade de dor lombar de cada paciente, sejam eles de qualquer subgrupo álgico.
A consciência corporal como princípio do Pilates na realização desses movimentos deve ser enfatizada, pois os dois primeiros movimentos da pelve, acima descritos, geram muitas vezes uma confusão por parte do paciente na hora da execução.
É aí que o instrutor deve ter segurança e propriedade ao dar o comando verbal. Ser criativo nas opções de exercícios propostos para o paciente ajudará a entender o que deve ser feito.
Nunca devemos nos esquecer da importância do trabalho de fortalecimento segmentar para diminuir o desconforto da lombar.
Exercícios com ativação do músculo transverso abdominal já obtiveram resultados satisfatórios, científica e clinicamente e, quando associados ao aumento da mobilidade pélvica, multiplicam-se os benefícios, devendo portanto, fazer parte predominante do tratamento e da prevenção no combate a essa patologia.
Aplicação do Pilates na Dor Lombar
Com a aplicação do Método Pilates, podemos reabilitar qualquer uma dessas causas, seja ela uma dor lombar crônica ou aguda, se abordada de uma maneira correta com relação à elaboração e seleção dos exercícios.
Com certeza, nos deparamos e ainda vamos nos deparar com muitos pacientes álgicos de lombares em nossa rotina de trabalho, que necessitam de atenção especial.
A seguir, veremos alguns exercícios simples do solo, bola e aparelhos, que podem ser realizados com pacientes em crise álgica ou como manutenção do ganho de amplitude pélvica.
São movimentos que passam batidos nas sessões por serem, muitas vezes, simples demais, porém com esses pacientes em específico vale a pena investir o tempo inicial da sessão.
Atenção para não os subjugar, pois são exercícios que exigem a tal famosa consciência corporal do paciente, então manter a concentração é imprescindível.
5 Exercícios de Pilates para Dor Lombar
1. Mobilização em Solo
Posiciona-se o paciente em decúbito dorsal, com as mãos ao lado do corpo, joelhos e quadril em flexão.
Pedir uma inspiração inicial para o paciente e durante a expiração, solicitar para realizar uma retroversão pélvica, com contração de glúteos e abdômen inferior, somente até que a quinta vértebra lombar deixe o contato com o chão. Manter o crescimento axial em constante manutenção, distanciando as costelas das cristas ilíacas.
Solicitar uma anteroversão pélvica, realizando uma hiperlordose lombar, utilizando a contração dos paravertebrais.
Realizar uma inspiração final e, durante a expiração, voltar à posição inicial e neutra da pelve em contato com o chão.
2. Mobilização em Gatas (The Cat)
Paciente posiciona-se em gatas com posição neutra de pelve.
Inspira-se inicialmente e, durante a expiração, o paciente curva completamente a coluna, contraindo o abdômen e mobilizando todas as vértebras da coluna, desde coluna cervical, até a coluna lombar, com atenção especial para a cintura pélvica e na contração de glúteos para a manutenção da pelve em retroversão.
Em uma segunda expiração, solicita-se a extensão da coluna toda, com ênfase em anteroversão pélvica.
Após a terceira inspiração, voltar à posição inicial neutra.
3. Mobilização na Bola
Paciente sentado na bola, com pés no chão e mãos abraçando os ilíacos para melhor feedback dos movimentos.
Solicita-se ao paciente uma inspiração em posição neutra de pelve e, na expiração, orienta-se um deslocamento lateral aproximando o ilíaco das costelas de maneira unilateral, voltando na inspiração à posição neutra.
Durante uma segunda expiração pede-se um deslocamento lateral para o outro lado.
Nesta posição inicial também podemos solicitar ao paciente para realizar o movimento de antero e retroversão isolados.
É também um exercício em três dimensões, realizando movimentos circulares, no qual conseguimos uma movimentação completa da pelve em ante/retroversão e deslocamento latero/lateral.
4. Mobilização Deitado em Decúbito Dorsal no Cadillac
Paciente deitado em decúbito dorsal, sobre a cama do Cadillac trapézio, com as mãos ao lado do corpo, pernas em extensão e com os pés na alça.
Preparar o exercício com uma inspiração inicial, durante a expiração solicitar uma ponte de quadril.
Em uma segunda expiração, desloque as duas pernas juntas para um dos lados, realizando uma flexão lateral ipsilateral do tronco. Na terceira expiração, realize-a para o lado contralateral.
Volte para a posição neutra da ponte e desça desenrolando a coluna.
5. Mobilização em Pé/Ajoelhado no Cadillac (Spine Stretch)
Neste exercício, o paciente pode realizar tanto em pé quanto ajoelhado.
O alongamento em pé irá exigir um ganho de flexibilidade associado ao exercício, o que nos permite fazê-lo em pacientes de nível intermediário.
Já a posição de ajoelhado enfatiza mais a mobilização do quadril, e pode ser realizado desde o nível iniciante para melhor visualização e compreensão do exercício.
O aluno posiciona-se em pé/ajoelhado sobre o Cadillac Trapézio, segurando com as mãos na barra torre.
Realizar inspiração com a pelve neutra, preparando para o movimento.
Durante a expiração, realiza-se uma flexão de tronco com retroversão pélvica, até sentir um pequeno alongamento de membros inferiores. Posteriormente alongue a coluna realizando uma anteroversão pélvica, reforçando a hiperlordose lombar.
Inspire mais uma vez e, na expiração, retorne com retroversão pélvica e desenrole a coluna até a posição inicial neutra.
Conclusão
Com esses exercícios conseguimos estabilizar a lombar instável e aumentar a mobilidade pélvica necessária para melhorar a condição do paciente e, consequentemente, reduzir a dor lombar.
A progressão e regressão ficam a cargo do instrutor.
Clinicamente, tenho um resultado muito bom quando associo a mobilidade pélvica e vertebral ao tratamento de dor lombar. Por isso, espero que vocês também tenham um feedback positivo.
Já pensou em aprimorar sua carreira com o maior e mais abrangente curso de Pilates e Funcional aplicados à Coluna para profissionais e estudantes do Brasil? Tenha acesso a 218 aulas + 6 bônus e conteúdos exclusivos. Clique aqui e aprenda com o time especializado do Grupo VOLL.
Referências Bibliográficas
Andersson G. Epidemiological features of chronic low-back pain. Lancet 1999; 354:581-5.
Teixeira MJ. Tratamento multidisciplinar do doente com dor. In: Carvalho MMMJ, organizador. Dor: um estudo multidisciplinar. São Paulo: Summus Editorial; 1999. p. 77-85.
Achour Jr. A (1995). Estilo de Vida e Desordem da Coluna Lombar: Uma Resposta dos Componentes da Aptidão Física Relacionada à Saúde. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde 1 (1): 36-56.
Carpenter DM, Nelson BW (1999). Low Back Strengthening for the Prevention and Treatment of Low Back Pain. Med Sci Sports Exerc 31 (1): 18-24
Danneels LA, Vanderstraeten GG, Cambier DC, Witvrouw EE, Bourgois J, Dankaerts W, De Cuyper HJ (2001). Effects of three different training modalities on the cross sectional area of the lumbar multifidus muscle in patients with chronic low back pain. Br J Sports Med 35 (3):186-91.
Arokoski JP, Valta T, Araksinen O, Kankaanpaa M (2001). Back and Abdominal Muscle Functioning During Stabilization Exercises. Arch Phys Med Rehabil 82 (8):1089-98.
Leinonen V, Kankaanpaa M, Airaksinen O, Hanninen O (2000). Back and Hip Extensor Activities During Trunk Flexion/Extension: Effects of Low Back Pain and Rehabilitation. Arch Phys Med Rehabil 81: 32-7
PERRY, J. Análise de marcha. São Paulo: Manole, 2005.
Costa LO, Menezes LC, Cançado RL, Oliveira WM, Ferreira PH. Confiabilidade do teste palpatório e da unidade de biofeedback pressórico na ativação do músculo transverso abdominal em indivíduos normais. Acta Fisiátrica. 2004; 11:101-5.