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Hoje quero fazer você pensar de forma mais abrangente. Você já teve um aluno que chegou com alguma patologia que parecia simples de tratar e, por mais que você se esforçasse, não chegava ao resultado esperado? Bom, eu já tive. E isso é extremamente frustrante porque, se era algo simples, como não foi possível “resolver”? Ou porque está demorando tanto para vermos os resultados? Eu nunca tinha pensado em trabalhar cadeias musculares no Pilates.

Quando você se depara com uma situação como essa, começa a pensar: será que era tão simples quanto parecia? E foi assim que, em busca de alternativas e explicações, achei as cadeias musculares no Pilates.

Madame Meziéres e as cadeias musculares

A definição clássica de cadeia muscular dada por Françoise Meziéres (conhecida como Madame Meziéres) é:

“Conjunto de músculos de mesma direção e sentido, geralmente poliarticulares, que se comportam como se fossem um só músculo e se recobrem como telhas de um retalho”.

Ou seja, é um conjunto de músculos cobertos pela mesma fáscia, que atuam de forma dinâmica, na mesma direção.

Madame Meziéres descreve, também, três leis relacionadas às cadeias musculares:

  1. Toda tentativa de correção local irá gerar uma compensação à distância;
  2. Toda tentativa de tensionamento de uma cadeia muscular resulta em uma tendência de rotação interna dos membros;
  3. Toda tentativa de tensionamento de uma cadeia muscular leva à tendência de um bloqueio respiratório em apneia inspiratória.

Sabendo disso, vamos pensar um pouco. Se temos cada músculo coberto por uma fáscia e cada agrupamento muscular coberto por outra fáscia que une todos esses músculos em uma cadeia sinérgica, então se há alteração de um músculo todos os outros são afetados, certo? Sim!

Então, aquele problema de lombalgia, por exemplo, pode não ser apenas local, pode ser algo mais global, que se iniciou por uma contratura de músculos extensores de quadril, seguindo o exemplo acima.

Ou, aquela condromalacia pode ser um excesso de tensão e encurtamento dos músculos extensores de joelho, mas pode também haver dor por encurtamento de sóleos e gastrocnêmios.

Ou então ainda há a possibilidade dos rotadores internos do quadril estarem tensos, trazendo as patelas mais para dentro, ou dos joelhos serem valgos… ou todas essas alterações simultaneamente.

Sendo assim, não adianta nada apenas alongar/fortalecer lombar (no caso da lombalgia); ou apenas fortalecer quadríceps no caso da condromalacia.

E ainda há muito mais alterações possíveis que não abordei para essas duas situações recorrentes no nosso cotidiano, que aparentemente são simples de resolver, mas que podem acarretar lesões.

Trabalhando a globalidade da musculatura

A proposta das cadeias musculares é a globalidade.

É um procedimento preventivo e terapêutico através da organização do sistema locomotor em grupos e cadeias, que permite uma visão unificada do corpo em situações de análise da postura.

Tais cadeias, segundo Denys-Struyf, formam conjuntos “psiconeuromusculares” que se fazem e se desfazem conforme a expressão corporal, postural e gestual.

Repare que, além dos músculos estarem ligados pela mesma aponeurose muscular, as expressões corporais, as posturas adotadas no dia-a-dia e os movimentos executados pelo seu aluno/ cliente/ paciente também vão ter influência direta nas cadeias musculares.

Portanto, é importante saber como é a vida desse indivíduo, quais são seus hábitos de vida diária, com o que ele trabalha, etc.

Entender um pouco mais sobre a vida dele(a) vai te ajudar a definir padrões e identificar possíveis alterações de cadeias.

De acordo com Bertherat, a questão do desequilíbrio postural não está na “fraqueza” da musculatura posterior, mas no excesso de força, sugerindo que a solução fosse “soltar” os músculos posteriores, liberando, assim, as vértebras que ficam presas em um arco côncavo.

Bertherat afirmava que “não é somente o esforço para ficar em equilíbrio que encurta os músculos posteriores, mas também, todos os movimentos de média e grande amplitude executados pelos braços e pernas, solidários com a coluna vertebral”

Exercícios de Pilates para trabalhar as cadeias musculares

Pensando em toda a teoria proposta acima, esse vídeo mostra o exercício de alongamento da cadeia posterior que é recomendado sempre incluir em todas as aulas.

A musculatura desta cadeia é responsável por nos manter em pé, e frequentemente está em desequilíbrio com a cadeia anterior fazendo com que muitos indivíduos sintam dores nas costas ou nas pernas.

Outro jeito de identificar esse encurtamento facilmente: peça para o seu aluno pegar os pés realizando uma flexão de coluna e quadril  com os joelhos em extensão (pode ser sentado ou em pé).

Repare que a maioria não consegue chegar com as mãos aos pés sem flexionar os joelhos, ou sem um apoio abaixo dos ísquios para promover uma diminuição da amplitude de movimento, comprovando que esta cadeia está “presa”, ou encurtada.

Ainda pensando na lombalgia, um problema recorrente em nossos Studios, quando pensamos na abordagem clássica, o tratamento é realizado de forma segmentada, envolvendo apenas os músculos dessa região.

Quando pensamos em cadeias musculares, consideramos o sistema muscular de forma integrada, sinérgica, agonistas ao mesmo movimento.

Utilizando essa técnica é possível identificar o comprometimento de cada cadeia muscular e, a partir daí, tratar as causas e as conseqüências.

Sendo assim, essa dor na região lombar pode ser causada pelo desequilíbrio das cadeias envolvidas e sua análise e tratamento vão além das estruturas da coluna lombar.

É importante ressaltar que a utilização de análise de posturas para identificação da causa através dos sintomas só poderá ser feita após terem sido supridas todas as compensações ocasionadas.

A finalidade das cadeias é utilizar os sintomas como orientação para chegar à origem da lesão. –

Conclusão

Como você já pôde perceber, há muito que se pensar a esse respeito. Tenha em mente que todos os músculos são indiretamente ligados uns aos outros.

Quando precisamos fazer uma flexão de tronco para tocar os pés há mais do que o abdômen fazendo essa ação. Se precisamos levar o tronco para trás, há mais do que os paravertebrais ativos.

Precisamos usar essa informação a favor dos nossos clientes! Tratando-o de forma global ele atingirá seus objetivos mais rápido, seja para tratamento, ou simplesmente para tonificação muscular.

Espero tê-lo feito pensar de forma mais global com este artigo, e tê-lo ajudado de alguma forma a dar mais atenção aos detalhes que as vezes passam despercebidos.

No próximo artigo vamos abordar de forma mais profunda as cadeias musculares no Pilates: os músculos que compõe cada cadeia e alguns exercícios para cada cadeia.

Fique atento! Gostou desse artigo? Deixe um comentário!

Referências bibliográficas
DENYS-STRUYF, G. Les Chaine Musculaires et Articulaires (4. ed.) ICTGDS, 1991. __. Cadeias Musculares e Articulares: O Método G.D.S. São Paulo: Summus, 1995a. __. Le Manuel du Méz.ièriste. Paris: Frison-Roche, 1995b.
http://www.methode-busquet.com/pt/


























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