“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar em uma alma humana, seja apenas outra alma humana”
[Carl Juno]
“O Câncer de Mama é o tipo de câncer mais comum entre as mulheres no mundo e no Brasil, depois do de pele não melanoma, respondendo por cerca de 25% dos casos novos a cada ano.
O câncer de mama também acomete homens, porém é raro, representando apenas 1% do total de casos da doença. Relativamente raro antes dos 35 anos, acima desta idade sua incidência cresce progressivamente, especialmente após os 50 anos.
Estatísticas indicam aumento da sua incidência tanto nos países desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento. Estimativa de novos casos: 57.960 (2016 – INCA)”.
Receber o diagnóstico de câncer de mama é uma notícia devastadora, causando forte impacto na vida da mulher. Ela e as pessoas que a rodeiam são surpreendidas com uma avalanche de emoções: sofrimento, medo, raiva, angústia, ansiedade, limitações funcionais entre outros.
O tratamento utilizado dependerá da progressão do nódulo e de suas características. Se for concluído que o nódulo se encontra em um estágio avançado, a opção poderá ser a realização de uma mastectomia.
A mastectomia é um processo cirúrgico agressivo, que ocasiona mudanças radicais na vida da mulher, comprometendo diversos aspectos psicológicos e sociais.
Existem alguns tipos dessa cirurgia, que podem vir a “não mutilar” tanto ou realmente mutilar a mulher, e em ambos os casos o corpo sofre com essas alterações independente da forma, que pode acometer uma menor ou maior proporção estrutural.
O tratamento pós cirúrgico da mastectomia é longo, e a mulher se depara com uma nova realidade e com um árduo caminho a ser percorrido, surgem novos desafios em sua vida, sempre na busca de um objetivo principal: resgatar a autoconfiança, sua qualidade de vida e sua vida.
Inspire-se
Eve Gentry foi uma bailarina e coreógrafa que estudou com Joseph Pilates em seu estúdio. Em 1955 diagnosticada com câncer de mama, realizou uma mastectomia no qual sofreu grandes consequências por ter sido muito agressiva. No pós cirúrgico ficou incapaz de elevar os braços, já que uma grande porção dos músculos peitorais havia sido retirada.
Ela retomou suas aulas com Joseph Pilates para reestabelecer a amplitude de movimento, força e função de seus membros superiores. Joseph Pilates realizou um trabalho individualizado e obteve resultados satisfatórios.
Então, decidiu filmar o trabalho que realizou com a Eve para demonstrar o efeito de seus exercícios na recuperação de Eve.
Recebendo sua cliente – Aluna Mastectomizada
Acredite, para ela chegar até nós, uma muralha já foi ultrapassada.
Mas então, o que a impede de realizar uma aula de Pilates?
Medo e Insegurança
Ela acabou de ser “invadida” por alguém da forma mais agressiva que existe para uma mulher, qualquer pessoa que ela for “se entregar”, ela terá receio, isso é um fato.
As vezes ela não irá contar toda o histórico dela na primeira sessão, nem na segunda… o tempo irá fazer com que ela se sinta segura até chegar ao ponto em que ela irá se abrir, e a partir daí os resultados vão aparecer de forma progressiva.
Vergonha e Depressão
O medo do tumor, é maior que o medo da cirurgia. Mas após a resolução de um problema, elas se deparam com outro, a sua “nova imagem” corporal. Elas distorcem essa imagem, ficam com vergonha e com a sensação de “não ser mais feminina”. Como consequência o isolamento e a depressão aparecem de forma acentuada.
Autodefesa
Já ouviram a frase: “A melhor defesa é o ataque?”
Mesmo que inconsciente, elas assumem uma postura de defesa, criam uma “armadura invisível” em sua frente, pronta para atacar qualquer pessoa que possa a vir ofendê-la.
Negatividade
Após “mutilação” os desvios posturais e as limitações de movimentos que são gerados dão a sensação de que “vou ficar assim, e não tem mais jeito”. Essa negatividade pode ser gerada também pela autodefesa “do mundo”.
Mantenha calma, e mostre a ela que mudanças podem ser realizadas, é um trabalho de “formiguinha”, pode demorar um pouco, mas os resultados surgem, pode ter certeza.
Psicólogo
Todo bom Pilateiro(a) tem um pouco de Psicólogo(a), quando receber essas mulheres em seu espaço, use a alma, use o amor para atendê-las. Usando essa dupla, não terá erro em sua aula / sessão.
Importância do Pilates em casos de Mastectomia
Respiração
Estimule a respiração, ela tem um importante papel energético. Sabe quando você está bravo e faz aquela expiração prolongada e logo na sequencia você se sente leve?
Pois é, ela precisa colocar para fora tudo aquilo que está guardado, nosso osso externo centraliza todas as emoções, estimule esse movimento, estimule a expiração. Pode ser que doa, mas a sensação de leveza na sequência, supera a dor.
Concentração
Aquele momento é dela, ajude nossa aluna a esquecer dos problemas, os exercícios de Pilates são complexos, ela não conseguirá pensar em problemas durante a aula..
Centro
Um “Powerhouse” forte ajudará a minimizar as alterações estruturais causadas pela cirurgia. Um abdômen forte manterá a coluna “encaixada” e no lugar.
Limitações de Movimento
A amplitude de movimento do ombro é comprometida por consequência cirúrgica. Estudos relatam que o ombro do lado acometido roda internamente e se eleva.
A amplitude de movimento diminui e compensações musculares são realizadas para suprir a ausência parcial ou total da musculatura peitoral. É normal encontrar nesses casos contraturas na região cervical e dor.
Trabalhando na Mastectomia
Adapte os exercícios!
As molas são pesadas em determinados exercícios em um primeiro momento. Use faixas elásticas para reprogramar o músculo de uma forma eficiente e vá progredindo conforme a resposta muscular de sua aluna.
Use as molas a favor de sua aluna, para reestabelecer a amplitude de movimento, abuse das mobilizações e da propriocepção que a barra torre fornece a cintura escapular quando conectada as molas de cima para baixo.
Fortaleça todo o complexo da cintura escapular, explore os acessórios: “Magic Circle”, “Tonning Ball”, “Overball”, “faixas elásticas”, “bola”, “halteres” e claro, alças e molas.
Explore as mobilizações de coluna
As mobilizações proporcionam a liberação das tensões musculares e principalmente as tensões emocionais. Mobilizações da região torácica aflora o emocional, exercício como o Chest Expansion e Hug a Tree conseguem trabalhar bem essa energia acumulada na região do osso externo.
Movimente sua aluna, o movimento desempenha um papel fundamental no bem-estar e na autoestima. Ela irá redescobrir seu corpo após a mastectomia, com o movimento e, com isso irá recuperar sua autoestima.
Concluindo…
Quando recebi minha primeira aluna mastectomizada, estudei principalmente suas principais queixas e dificuldades. Fui lapidando e criando aos poucos a fórmula mágica feita para ela dentro do Pilates.
Infelizmente, ou melhor… felizmente, ela encontrou o Pilates após + ou – 15 anos da realização da mastectomia, e durante esse período, por consequência, outras complicações surgiram: escoliose, hérnia discal e ciatalgia crônica.
E mesmo após anos de cirurgia, conseguimos (eu e ela) estabilizar e reequilibrar todos os músculos afetados devolvendo a amplitude de movimento do ombro (cerca de 95%). Conseguimos um reequilíbrio muscular satisfatório dos paravertebrais e como resultado final: reestabelecemos sua qualidade de vida e a autoestima.
Com isso, posso afirmar a vocês que nunca é tarde para começar, todos os dias temos a oportunidade de um novo começo! Se você conhece alguém que passou por essa situação, compartilhe com ela, mostre que ela é capaz de mudar e capaz de vencer esse desafio.
Faça como a lagarta, sofra sua metamorfose e amanheça borboleta, brilhando lindamente e muito mais forte.
Espero ter ajudado vocês com a minha experiência com essas lindas mulheres, e você já teve alguém especial em sua vida? Conte para mim, vou adorar saber.