Criar novos espaços é mexer no desconhecido. E o desconhecido gera dúvidas porque foge do confortável. Mas, onde esses espaços de encaixarão? Que lugar do corpo tomarão?
A minha ou sua responsabilidade, instrutor, em meio a tudo isso é permitir que esses espaços sejam criados, mas que acima de tudo, permaneçam.
É difícil? Não! É diferente! E só é diferente porque é desconhecido. Mas deixe que se instalem. Deixe que os espaços existam e eles serão preenchidos de ar e de você.
Basta se entregar, e em um trabalho corporal a entrega e a confiança em seu instrutor são obrigatórias.
Nesse texto vamos analisar melhor essa ideia da conexão corpo e mente dentro do Pilates, a importância e como adquirir. Vamos lá?
A conexão corpo e mente no Pilates
Pilates, com seu trabalho de aliar corpo e mente tentou nos mostrar que ambos podem andar separados (também).
Um corpo existe sem uma mente e uma mente existe sem um corpo, mas quando conseguimos aliar ambos equilibradamente, BINGO! Encontramos a famosa conexão.
Ter visto o filme “Tribute to Joseph Pilates” mais de 4 vezes me fez refletir que tudo que foi criado.
Por mais que “inconscientemente”, pois Joseph não sabia onde tudo isso iria chegar, tinha um proposito mais que perfeito. Como um encaixe, um quebra cabeça, um jogo, que só funciona de fato quando as peças estão encaixadas.
E se elas não se encaixam você pode até estar fazendo Pilates, mas não realizando Pilates.
“Pilates é para qualquer pessoa, mas não para todas as pessoas”
Palavras de Rael Isacowitz no filme “Tribute to Joseph Pilates”
Por que criar essa conexão?
Uma série de exercícios é só uma série de exercícios quando não existem os princípios aplicados à técnica.
Pilates não é apenas uma série de exercícios, Pilates é um conceito, é uma filosofia. Agora, você pode aprender todos os exercícios e mesmo assim não conhecer Pilates
Eve Gentry
Juntando algumas peças começamos a entender que Pilates não se trata de apenas uma série de Mat ou de Reformer. É muito mais que isso e vai além.
E para ir além não basta chegar na aula, fazer uma hora de exercícios e ir embora. E para ir além não basta você instrutor, achar que ministrar 10 aulas por dia é suficiente.
Se você não sente em seu corpo, é inadmissível que queira que o próximo sinta. Se você não sabe o que deve ser sentido, o que acionar, dicas e macetes para uma melhor performance, como cobrar que alguém o sinta?
Ou melhor, como auxiliar seu aluno a atingir a conexão se nem você não o faz e/ou não o pratica?
A conexão corpo e mente é uma prática diária, e somente será atingida depois de muito praticar. Quem não pratica não atinge é isso? Sim, é isso!
Como conectar seu aluno
Os espaços que cito no início do texto são aqueles mesmos espaços que nos referimos nas famosas frases durante as aulas: “crescer a coluna”, “buscar o teto”, “topo da cabeça para o alto” e por aí vai… (cada professor deve ter sua listinha dessas frases).
São inúmeras imagens que podemos utilizar para que o aluno tente acessar esse crescimento/espaço. Precisamos deixar nossos alunos o mais próximo possível dos objetivos dos exercícios, e para isso, verbalizar imagens é de suma importância em um trabalho corporal, pois nos aproximam metaforicamente da realidade.
Como trazer nosso aluno para a aula não somente para fazer exercício e ir embora?
Isso é didático, educativo, progressivo e gradual. Para ensinar isso ao seu aluno você precisa dos 3 “P´s” ensinados por Joseph:
- Prática
- Persistência
- Paciência
E o quarto P adicionado por Lolita San Miguel:
- Paixão
Você pode até ter os 3 P´s e lecionar uma ótima aula. Porém se o 4º P não estiver presente na sua alma, no seu fazer e no seu transmitir conhecimento, é a mesma coisa que uma lista de exercício sem os princípios do método, entende?
Estou estudando variadas formas de atingir os meus alunos e fazê-los entenderem o que estou buscando – a conexão.
São pessoas diferentes, com pensamentos e propósitos diferentes. E tem alguns que não vão se interessar pelo que você diz, apenas querem repetir e repetir e ir para casa com o dever de casa “cumprido”. Outrossim, você precisa tentar, e tentar não lhe custa nada a não ser tempo.
Dizem que tempo é dinheiro, nesse caso tempo é investimento no cuidar do outro.
Doar-se para o outro. É isso que fazemos, mesmo que o doar não seja no sentido literal da palavra, pois recebemos para isso. Uso o doar no sentido de “dedicar-se à”.
Sabemos que existem alunos que não aceitam/não gostam/não se sentem confortáveis com o toque alheio. Porém, o toque é um dos elementos essenciais e que auxiliam na busca da conexão.
Inicie essa relação com toques sutis e sempre, SEMPRE, respeitosos. Nunca, em hipótese alguma o coloque em uma situação desconfortável ou constrangedora.
Como você pode fazer essa conexão
Já disse uma vez aqui que não existe receita de bolo, e todos sabem disso. Porém vale ressaltar que venho estudando e acreditando que auxilie na conexão, mesmo sabendo que somos diferentes, recebendo informações de formas diferenciadas e nos descobrindo diferentes uns dos outros.
Mas assim como o Pilates nos liga e nos une acredito que algumas dicas podem ajudar no seu/nosso processo de aprendizagem e ensinamento:
- Verbalize imagens, traga seu aluno para seu mundo.
- Não há necessidade de ser a pessoa mais formal do planeta enquanto ensina. Palavras difíceis distanciam seu aluno de você.
- Pratique o toque, de forma sutil. A propriocepção é uma grande aliada.
- Tenha paciência enquanto leciona. Sim você está lecionando, ensinando, lidando com o corpo do outro. O mínimo que se espera é que seja paciente.
- Seja receptivo e humano e saiba lidar com o corpo que está a sua frente naquele dia.
- Respire e ensine a respiração. A grande porta para a conexão começa aqui.
- Busque alguém que te inspire – um professor, um exercício, um Elder. Ter uma inspiração nos deixa mais sensíveis e instigados a chegar ao nosso objetivo.
- Trace um objetivo, estude suas aulas, sinta em você o que deseja passar adiante.
- Estude, estude, estude.
- Assista ao filme “Tribute to Joseph Pilates” 1, 2, mil vezes.
Quanto a isso, sei que sou uma manteiga derretida e que meu coração de artista fica mexido com facilidade.
Mas esse filme é passagem obrigatória para quaisquer instrutores que acreditam no método e que buscam progresso tanto profissional quanto pessoal, afinal é a história do homem que pode ter mudado a sua vida, assim como mudou a minha.
Concluindo…
Se você gosta da forma que escrevo, seja sempre bem-vindo. É assim que gosto de escrever, é dessa forma que gosto de me expressar.
Acredito que juntos, conseguiremos juntar as peças do quebra cabeça e atingir o que buscamos para nós e para nossos alunos.
Meus sinceros e profundos agradecimentos à Equipe Voll Pilates e a amiga que o Pilates me deu – Glaucia Adriana – por terem acreditado que o sonho de vocês viraria realidade e que se tornaria possível para o mundo todo.
Minha inspiração agora é esse filme, essa relíquia que vocês tornaram possível. E quem assistiu e não se emocionou, eu sinto muito. E dou graças por me emocionar toda vez que assisto e mais uma.
Mudanças acontecem através do movimento. E o movimento cura
Joseph Pilates
Gostei.
Parabéns pelo excedente texto. Muito esclarecedor, nos leva a refletir, a amadurecer, a rever nossas condutas com nossos queridos alunos.
Pilates é amor, é da para sentir o seu amor por esse método fantástico, em casa palavra, em cada frase.
Obrigada por compartilhar conhecimento.
Este texto é a objetividade dá verdade
Continue escrevendo assim