*Este conteúdo é científico e pode ser utilizado para pesquisas*
A diástase abdominal é um alargamento do espaço entre os músculos retos abdominais na região da linha alba.
Geralmente, ocorre durante a gravidez sendo, efetivamente, visível no pós-parto. Segundo dados estatísticos, 60 a 100% surge no final do terceiro trimestre de gravidez, 53% surge nas primeiras 24 horas após o parto e 36% foi verificada nos primeiros 12 meses após ser mãe.
No entanto, a diástase abdominal é uma condição não só observada em condições obstétricas mas, também, em condições uroginecológicas, menopausa e envelhecimento e em casos de aneurisma da aorta abdominal.
A distância entre os retos abdominais superior à 2,2 e 2,3 cm identificada por ultrassom é clinicamente significativa. Este alargamento é documentado como associado à instabilidade lombo-pélvica, dor lombar e incontinência.
Mas afinal, é importante reabilitar a diástase abdominal ou trata-se apenas de uma questão estética? Ficou curioso? Então continue lendo esta matéria para saber mais!
Como acontece a diástase abdominal?
Desmistificando a diástase abdominal, esta é compatível com um estiramento da linha alba. A linha alba é o ponto de inserção central do tecido conectivo fascial dos retos, oblíquos e transverso abdominal.
A linha alba é uma estrutura de fibras de colágeno desde o apêndice xifóide até à sínfise púbica. No entanto, a maior percentagem de diástases ocorre na região supra e infra umbilical.
Na gravidez, o estiramento da linha alba ocorre como consequência das alterações hormonais sobre o tecido conectivo elástico, as forças mecânicas exercidas na cavidade abdominal pelo crescimento do feto, aumento de peso e as alterações da posição dos órgãos abdominais.
Este estresse altera o comprimento e distensão dos músculos abdominais e fáscia modificando e reduzindo a sua linha de ação óptima para gerar força. Ou seja, gera-se um desequilíbrio muscular pela alteração da capacidade de gerar força e ser flexível.
A manutenção da tensão da linha alba é necessária para garantir a proximidade dos retos e o torque no transverso, retos e músculos oblíquos.
Um desequilíbrio entre a força e a flexibilidade dos músculos da parede abdominal e consequente alteração da tensão fascial estão relacionados com padrões de movimento alterados resultando em dor e disfunção.
Por que realizar o tratamento da diástase abdominal?
Para avaliação de uma diástase abdominal é fundamental a história pessoal. São considerados fatores de risco a multiparidade, a idade materna, os cuidados ao bebé, o levantamento de pesos e o IMC.
As alterações hormonais comuns na gravidez e a idade influenciam o tecido conectivo possibilitando o estiramento e reduzindo a resistência, tornando-o mais susceptível às alterações de colágeno, disfunção e fraqueza miofascial.
Segundo a evidência científica, diástase abdominal, dor musculoesquelética e disfunções podem coexistir mas podem, também, não se influenciar umas às outras.
A diástase parece ter um impacto negativo na saúde influenciando a qualidade de vida dado uma força muscular alterada do core e uma dor lombar severa.
Neste sentido, procurar avaliação e tratamento contribuirá para minimizar estes detalhes. Não é apenas uma questão estética mas, sim, uma questão de saúde e qualidade de vida.
O músculo transverso abdominal é responsável pela estabilidade lombo-pélvica e intra-pélvica e trabalha sinergicamente com os músculos do pavimento pélvico para dar suporte aos órgãos pélvicos.
Uma alteração na sua tensão concomitante com as alterações patofisiológicas pode colocar todas estas funções em perigo, já que a estabilidade alterada promova alterações na contenção dos órgãos pélvicos.
É comum na presença de diástase abdominal se detectar mais facilmente disbiose intestinal. Um crescimento anormal de bactérias patogênicas no intestino delgado interfere com a digestão e absorção do alimento ingerido.
Esta má absorção produz fermentação e gás, tal como, o hidrogénio. Essa fermentação irá distender o intestino que, não sendo contido pela musculatura responsável pela estabilidade lombo-pélvica, irá tornar a barriga mais proeminente e será um fator que interfira na recuperação da diástase.
É importante reforçar que um corpo com um intestino em disbiose terá, também, mais dificuldade na construção de massa muscular influenciando o torque do transverso, retos abdominais e oblíquos.
Desta forma, é necessário avaliar e tratar parâmetros nutricionais, diafragma respiratório e pélvico e conferir novamente estabilidade muscular ao core e ao cilindro pélvico.
Como realizar o tratamento da diástase abdominal?
Avaliar o estilo de vida alimentar e comportamental do paciente deve ser o primeiro passo ao realizar o tratamento da diástase abdominal.
A ingestão de alimentos processados e cozinhados a altas temperaturas, o consumo de alimentos com alta carga glicêmica, o consumo recorrente de trigo, a fermentação intestinal com possível intestino permeável, as variações de humor e o sono inadequado são fatores a avaliar e modificar no tratamento de uma diástase.
Afinal, esses hábitos impactam negativamente na microbiota promovendo a dominância de proteobactérias ligadas à inflamação, acúmulo de tecido adiposo e menos construção muscular. Portanto, a modulação intestinal também faz parte de um programa de reabilitação da diástase.
Outro parâmetro a trabalhar numa diástase é a respiração. O diafragma respiratório trabalha em concordância com o diafragma pélvico.
Um diafragma tenso irá influenciar a condição geral do corpo impactando na sua mobilidade e dinâmica do core. Um encurtamento do diafragma respiratório irá gerar uma recrutamento dominante do tórax superior com diminuição da consciência muscular do core, bem como um períneo tenso.
4 exercícios de Pilates essenciais para inserir no tratamento
1. 20 breaths
Este exercício foca no controlo muscular local com contração estática dos membros e também no movimento das costelas durante a inspiração e expiração.
Durante a expiração, ativa o recrutamento de oblíquos, glúteos e abdominal profundo em pressão intra-abdominal reduzida contribuindo para o aproximação dos músculos retos abdominais.
A intenção do exercício é corrigir o padrão respiratório e a ativação muscular abdominal realizando 20 ciclos respiratórios.
2. Squeeze the ball
Exercício que foca no recrutamento da musculatura pélvica através do uso de um acessório como a bola, por exemplo, entre as pernas.
O apertar da bola com recrutamento dominante dos glúteos em vez de adutores permite um recrutamento do abdominal profundo com redução da pressão intra-abdominal contribuindo para o reforço do core.
3. Leg lift supine
Exercício simples focado no abdominal de forma a manter o tronco estável enquanto um membro inferior se move.
O objetivo é o trabalho lombo-pélvico sendo que os abdominais são recrutados como estabilizadores. Este exercício é conciliado com respiração de forma a recrutar o abdominal profundo em reduzida pressão intra-abdominal.
4. One leg circle
Este exercício implica mais movimento do membro inferior e, deste modo, requer estabilidade lombo-pélvica.
O movimento do membro inferior requer uma firme contração dos abdominais, retos abdominais, transverso e oblíquos, para contrariar a lordose lombar que pode ocorrer durante o movimento de círculo com o membro inferior.
Assim, neste exercício há uma contração dos músculos abdominais e dos extensores da coluna para estabilizar a pélvis e impedir o tilt durante o movimento de rotação.
Conclusão
Sem trabalho respiratório numa primeira abordagem, mais difícil será a introdução de exercícios de reforço muscular sem impactar negativamente na diástase abdominal.
Uma recuperação da diástase implica um trabalho de consciência corporal, estabilidade lombo-pélvica e recrutamento muscular abdominal controlando o aumento da pressão intra-abdominal.
Sem dúvida alguma, os exercícios aplicados durante a aula de Pilates podem colaborar para o tratamento da diástase abdominal. Contudo, nunca se esqueça que a avaliação e intervenção é sempre personalizada e individualizada de acordo com as necessidades de cada mulher.
Referências Bibliográficas
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Isacowitz R, Clippinger K. Pilates Anatomy. Copyright 2011.
Lackey, D & Olefskyl J. Regulation of metabolismo by the innate immune system. Nat. Rev. Endocrinol 2015; 189.
Super gostei.
Conteúdo bastante esclarecedor!
Foi de grande valia.