O Método Pilates de uns anos para cá tem se mostrado muito eficiente como atividade física! Trazendo excelentes resultados para quem pratica.
A prova disso é o número crescente de pessoas que se encantam com o método. Podemos ver nos estúdios pessoas de todas as idades: crianças, adolescentes e idosos.
Agora também, podemos contar com o Pilates como uma excelente ferramenta no processo de reabilitação.
O Método tem se tornado uma ótima pedida quando o assunto é tratamento de algumas Disfunções Neurológicas. Neste artigo vamos abordar o Pilates e a Doença de Parkinson.
Isso porque, o dia 4 de abril é tido como o “Dia Nacional do Parkinsoniano”, utilizado para conscientizar e alertar a população sobre os males da disfunção.
Se você não conhece nada sobre esta disfunção neurológica ou quer obter mais conhecimento sobre o assunto, este post foi feito para você! Leia mais.
Disfunções Neurológicas
Para começarmos a falar sobre essa patologia neurológica temos que entender primeiramente como é o funcionamento do nosso Sistema Nervoso.
Sistema Nervoso
O sistema nervoso é responsável por controlar e coordenar as funções de todos os sistemas do organismo. Além de interpretar os estímulos recebidos e enviar respostas adequadas.
Podemos dividi-lo em 2 partes:
- Sistema Nervoso Central – SNC (encéfalo e medula espinhal), que é responsável por processar todas as informações recebidas. É o local onde acontecem pensamentos, memórias, emoções. E de onde saem a maioria dos estímulos para a contração muscular.
- Sistema Nervoso Periférico – SNP (nervos, gânglios e terminações nervosas), que se encarrega de levar as informações recebidas pelo SNC para todo nosso corpo.
E quando ocorre uma disfunção neurológica?
Qualquer alteração neste complexo sistema de receber e enviar informações vai ocasionar comprometimentos físicos, emocionais ou comportamentais.
Isso, dependendo da área onde ocorreu a lesão. Elas podem ocorrer de forma isolada ou combinada.
Estas alterações podem ser de origem Genética (embrionária ou fetal) ou Adquirida ao longo da vida, desde o período neonatal até a velhice.
Doenças Neurodegenerativas
Ocorrem devido à destruição progressiva e muitas vezes irreversível dos neurônios responsáveis por alguma função do SNC. Podem ser hereditárias ou adquiridas.
Nos casos mais graves apresentam um caráter degenerativo, marcado pela piora progressiva do quadro motor.
Comprometendo o desempenho da pessoa por perder autonomia e independência na realização das atividades de vida diária.
Doença de Parkinson
É a mais comum das doenças degenerativas, caracteriza-se pelo acometimento dos neurônios da substância negra e diminuição da dopamina (neurotransmissor).
Afeta a região do sistema extrapiramidal responsável pela perfeição dos movimentos.
O Parkinson é uma doença lenta e progressiva, podendo evoluir por anos e neste período vai diminuindo o grau de independência do indivíduo.
Segundo a OMS é mais comum em homens acima dos 65 anos.
De etiologia ainda pouco conhecida parece estar ligada a fatores genéticos e ambientais.
Os sintomas são o tremor em repouso, a rigidez, lentidão anormal dos movimentos (bradicinesia), face inexpressiva e alterações posturais tais como postura em flexão. Além de não possuir rotação de tronco e ter ausência de reações de equilíbrio.
Podem estar presentes sintomas não relacionados com os movimentos como ansiedade, depressão, incontinência urinária, sudorese, dores e outras.
É uma doença crônica, inflamatória e progressiva que pode atingir principalmente a substância branca e promovendo lesões dispersas no SNC.
Apresenta períodos de surtos seguidos de remissão total ou parcial dos sintomas.
A etiologia é desconhecida. Algumas teorias sugerem a ligação entre os fatores imunológicos, genéticos, ambientais e infecciosos.
Acomete com mais frequência mulheres jovens.
Os principais sintomas são fraqueza muscular – prejudicando muitas vezes a marcha -, alterações sensitivas, alterações esfincterianas, sinais cerebelares (alteração do equilíbrio) e disfunção cognitiva.
Como o Pilates pode auxiliar no Tratamento do Parkinson?
As disfunções neurológicas causam uma série de alterações orgânicas e psíquicas. Estas podem limitar de maneira significativa o desempenho funcional do indivíduo tendo consequências em suas relações pessoais, familiares e sociais e principalmente em sua qualidade de vida.
Por isso, é preciso sempre tentar diminuir estas incapacidades ou pelo menos retardá-las. Visando sempre uma vida melhor e com qualidade para este indivíduo.
Pacientes Neurológicos são pacientes para toda vida! E por mais que as terapias sejam diferentes, acabam ficando monótonas e muito cansativas deixando o paciente desmotivado.
Pilates e a Doença de Parkison
Quando Instrutores de Pilates forem trabalhar com a doença de Parkinson é necessário utilizar muito da fala calma e pausada, explicando sempre muito bem o que vai ser feito.
Porque este comando verbal vai ajudar o aluno (paciente) a compreender melhor os exercícios. Além de diminuir um pouco a ansiedade e fazer com que o aluno relaxe um pouco mais.
A respiração deve ser trabalhada antes e durante os exercícios. É importante porque vai ajudar a relaxar o aluno, trazê-lo para a aula (muito disperso) e melhorar a rigidez do diafragma.
Sua postura é sempre com a cabeça voltada para baixo deixando toda musculatura da região do pescoço muito tensa e encurtada. E seus movimentos são curtos, com pouca mobilidade e amplitude.
Os exercícios de alongamento são muito importantes nesta situação para melhorar a flexibilidade de uma maneira geral.
Exercícios para aumentar a mobilidade devem ser realizados em todos os aparelhos (Reformer, Cadillac, Chair e Barrel) tornando a aula mais dinâmica e com uma variedade grande de exercícios, já que o Pilates permite isso.
A própria resistência da mola pode ajudar na amplitude dos movimentos.
A postura inadequada também vai levar a uma protusão abdominal e o fortalecimento nesta região pode ajudar bastante.
O equilíbrio e a propriocepção, marcha e a coordenação motora podem ser trabalhados com acessórios tipo Bola, Bosu, Disco e outros.
Exercícios de Pilates para Parkison
Vamos dar alguma ideia de uma aula inicial completa com exercícios que podem ser realizados, mas lembrando sempre que é necessário adaptá-los ao aluno.
Respiração
Começar a aula sempre com respiração. O aluno deitado no Reformer, quadril e joelho em flexão, ante-pé apoiado na barra e braços ao longo do corpo.
Explicar para o aluno a respiração e o Power House e pedir para repetir 10 vezes.
Foot Work Toes (10x)
Realizado bem devagar, muita atenção na tensão mola colocada. Fazer a extensão do quadril e joelho lentamente. Neste exercício já vai trabalhando toda musculatura dos membros inferiores.
Foot Work Tendon Strech (10x)
O aluno vai realizar a flexão plantar normal e se conseguir a alternada
Mermaid (10x de cada lado)
Ainda no reformer iniciar a flexibilização, verificar se o aluno consegue sentar nesta posição que pode ser alterada para posição de índio.
Se for necessário que ele fique com as pernas para fora do aparelho fazer o exercício no cadillac que é mais alto.
Leg Series Supine (10x com cada perna)
No cadillac colocar as alças nos pés (de preferência alças que fiquem bem presa ao pé) e realizar a extensão de quadril que pode ou não ser alternado. No Início pode ser necessário começar com uma perna de cada vez.
Leg Series One Leg (10x com cada perna)
Deitado em decúbito ventral joelho em flexão, alça apoiada no pé e braços ao longo do corpo, realizar a extensão do joelho.
Remada Pronada (10x)
Sentado no cadillac, pedir para o aluno sentar sobre os ísquios, mãos na barra móvel. Realizar a flexão do cotovelo, adução das escápulas e extensão horizontal do ombro.
Pump One Leg Front (10x com cada pé)
De frente para a cadeira, mãos apoiadas nas barras, punho em posição neutra. Quadril e joelho em flexão e ante-pé apoiado no pedal. Realizar a extensão do quadril e joelho.
Mais uma vez, muita atenção com a tensão das molas, as vezes um maior peso pode prejudicar ao invés de ajudar.
Flexibilização
De frente para a Chair, as duas mãos nos pedais, punhos em posição neutra realizar um enrolamento da coluna – flexão anterior do tronco.
Rotação de Tronco (10x alternando os lados)
Sentado no Barrel sobre os ísquios, mãos segurando o bastão, joelhos em extensão. Realizar a flexão do tronco.
Flexibilização
Sentado no Cadillac, sobre os ísquios, mãos apoiadas nas barras fixas. Realizar a flexão anterior do tronco (enrolamento da coluna).
Relaxamento
Pedir para o aluno ficar em decúbito ventral e realizar massagem em sua coluna com o rolinho.
Esta é uma aula básica, que foram utilizados todos os aparelhos e o corpo todo do aluno foi trabalhado.
Como montar uma aula de Pilates?
Quando receber alunos com patologias neurológicas, automaticamente é preciso pensar em várias coisas porque este aluno vai requerer cuidados especiais.
1 – Começando pelo espaço físico, o estúdio é acessível?
Pense que muitas destas patologias são progressivas e mesmo que o aluno quando inicie esteja andando normalmente no decorrer da Doença de Parkinson ele pode precisar de bengala, andador e até cadeira de rodas.
E até o oposto, ele pode iniciar com andador e depois se tornar independente, por exemplo.
Outro ponto muito importante é pensar como este aluno vai sair de uma cadeira de rodas (se for o caso), precisará de um acompanhante para ajudar? Será que uma prancha de transferência pode resolver?
2 – Disposição dos aparelhos na sala para que o aluno não corra risco de se machucar ou até mesmo cair.
Muitas vezes estes alunos, dependendo da patologia, andam com a base mais alargada, têm o equilíbrio instável e como dito no item anterior podem estar usando algum recurso para facilitar a mobilidade.
3 – Realizar uma avaliação física detalhada.
A primeira coisa que todo profissional deve fazer, antes de iniciar as aulas de Pilates é uma avaliação.
Sendo que esta deve dar todos os parâmetros para poder estabelecer os objetivos de trabalho e os exercícios que o aluno vai conseguir realizar.
4 – Estabelecer os objetivos da aula de Pilates
Após a avaliação inicial e conhecer sua patologia temos que levantar os principais objetivos a serem atingidos.
Um aluno com uma determinada patologia as vezes difere totalmente de outro com a mesma patologia, sempre fique atento aos detalhes.
5 – Quantos alunos terão no mesmo horário?
Será que dá para colocar no mesmo horário mais alunos?
Dependerá da gravidade do quadro e da independência do aluno em questão.
Seria interessante que houvesse outro aluno, desde que isto não atrapalhe o trabalho com nenhum deles.
6 – Quais exercícios serão utilizados?
Objetivos determinados, agora escolher quais exercícios e em quais aparelhos eles serão realizados para o tratamento do Parkinson.
Este aluno normalmente é uma pessoa bastante fragilizada e acostumada com muitos fracassos então seria interessante pensar onde, em qual aparelho o aluno vai conseguir fazer aquele exercício da melhor maneira possível. Para que ele se sinta feliz e se motive a fazer o Pilates.
As aulas iniciais podem ser bem leves e devem ter o objetivo de mostrar um pouco do Pilates para o aluno, de como funcionam os aparelhos. Deixá-lo se ambientar com a respiração.
É sempre bom ter um plano B de exercícios porque nem sempre o aluno responde da maneira como estamos esperando e não seremos pegos de surpresa.
7 – Será que vou precisar de alguns recursos extras para minha aula?
Por exemplo, se o aluno tiver uma sequela de Parkinson com paralisia em todo hemicorpo D será que ele consegue segurar com as duas mãos?
Provavelmente não.
Muitas vezes nós teremos que improvisar alguma coisa par prender a sua mão no aparelho.
Sempre bom estar prevenido.
8 – Como será a finalização da aula?
É muito comum os alunos gostarem de massagem no final da aula, para este aluno será que a massagem também vai relaxar?
Provavelmente sim.
Só lembrando que algumas patologias têm alteração de sensibilidade e de repente o toque pode não ser tão agradável, vale a pena verificar na avaliação inicial.
Concluindo…
Os resultados positivos do tratamento de Parkinson são visíveis em muitos aspectos do trabalho. Inclusive para os outros alunos, sem maiores dificuldades, acaba sendo um grande aprendizado.
Mas cuidados devem ser tomados com alunos que possuem Parkinson e Instrutores de Pilates devem ter em mente alguns fatores importantes citados no texto.
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