Estima-se que 30 a 50% das mulheres, mesmo jovens, são incapazes de contrair de forma efetiva os músculos do assoalho pélvico (AP).
Intervenções relacionadas ao treinamento da musculatura do assoalho pélvico baseadas no Método Pilates tem sido utilizadas pela fisioterapia, pois englobam exercícios que visam trabalhar a flexibilidade, força e resistência do corpo, associados à contração muscular pélvica. (BRODY, HALL, 2012; PINHEIRO et. al.; 2012).
A população feminina no Brasil representa 50,77%, portanto a maior parte da população brasileira. (IBGE, 2012). Estima-se que do total de mulheres, 50% desenvolvem algum tipo de disfunção pélvica ao longo da vida, devido à perda dos mecanismos de suporte do assoalho pélvico (AP). (BARACHO, 2012).
Atualmente a prevalência dessas disfunções no grupo feminino entre 20 e 59 anos, é aproximadamente de 30,8%, dado que aponta para a importância de pensar ações de promoção e prevenção voltadas a saúde da mulher, enfatizando o AP. (MASSUIA, HADDAD, MOTA, 2010; BARACHO, 2012).
Assoalho Pélvico Feminino
O AP feminino é constituído pelos órgãos pélvicos, tais como, bexiga, útero e reto, e ainda, por músculos, ligamentos e fáscias. Estes últimos por sua vez, desempenham duas funções essenciais: a sustentação dos órgãos pélvicos e o controle da função esfincteriana uretral e anal.
A integridade anatômica e fisiológica destas estruturas de suporte pélvico influenciam diretamente na continência uretral e anal e na função sexual. (METRING et al., 2014; BARACHO, 2012).
A musculatura do assoalho pélvico (MAP) atua em conjunto com fáscias, ligamentos e nervos e sua ação é coordenada por um sistema neuromuscular integrado. (METRING et al.,2014). Quanto à composição das fibras musculares do MAP, 70% são do tipo I (contração lenta) e 30% são do tipo II (contração rápida). (GLISOI, GIRELLI, 2011).
Fisiologicamente, o fechamento de emergência dos orifícios é proporcionado pelas fibras de contração rápida, já as fibras de contração lenta realizam o fechamento durante o repouso e ainda tem a função de apoiar os órgãos pélvicos. (KRUGER, 2012).
A MAP está associada a diversas funções, como o fechamento da uretra e do reto para garantir a continência urinária e fecal; a função sexual está relacionada à sensibilidade proprioceptiva dos MAP que contribuem para o prazer sexual e as contrações fortes dos MAP ocorrem durante o orgasmo, sendo que indivíduos com MAP fracos têm mais dificuldades de alcançar o orgasmo.
Além disso, a função de suporte de tronco está relacionada à contração conjunta dos MAP, transverso do abdômen e multífidos profundos aumentando a estabilidade de tronco. (BRODY, HALL, 2012).
Disfunções do Assoalho Pélvico na Mulher
A origem das disfunções pélvicas é multifatorial, dentre elas encontramos, o envelhecimento, obesidade, gravidez e parto, condições crônicas que levem ao aumento da pressão intra-abdominal, e traumas ocasionados por cirurgias ginecológicas.
Pode ser ainda, predisposição genética, onde ocorrem defeitos no tecido conjuntivo responsável por apoiar as estruturas do AP. (BARACHO, 2012 SANTOS et al., 2009).
As disfunções do assoalho pélvico (DAP) embora não coloquem diretamente a vida das pessoas em risco, podem gerar sérias implicações médicas, sociais, psicológicas e econômicas afetando de forma desfavorável a qualidade de vida.
Estudos realizados em mulheres com incontinência urinária apontaram diminuição na qualidade de vida, nos quais os pacientes referiram limitação nos aspectos físicos, tais como, praticar esportes, carregar objetos, além de alterações em atividades sociais, ocupacionais e domésticas, influenciando de forma negativa o estado emocional e a vida sexual dessas mulheres, levando a quadros de cansaço, depressão e isolamento. (KNORST et al., 2012; RETT et al., 2007).
Neste contexto, a fisioterapia tem ganhado destaque tanto na prevenção quanto no tratamento das disfunções pélvicas femininas, pois trabalha com exercícios que promovem o fortalecimento dos MAP e visam proporcionar alterações no trofismo, volume, comprimento, força e resistência dos músculos. (METRING et al., 2014).
O treinamento da musculatura pélvica aumenta o recrutamento das fibras do tipo I e II, e ainda, estimula a função da contração simultânea da MAP evitando a perda de urina e prolapsos genitais. (GLISOI, GIRELLI, 2011).
Além disso, os músculos da parede abdominal e o diafragma respiratório atuam em conjunto com o AP formando o que chamamos de “core abdominal”. Tais estruturas funcionam promovendo a estabilidade e continência durante alterações na pressão intra-abdominal. (METRING et al., 2014).
Programas que melhorem a força e a coordenação pélvica são capazes de prevenir e tratar praticamente todas as disfunções do assoalho pélvico.
Portanto exercícios direcionados a MAP são uma excelente escolha, por ser uma opção menos invasiva e de baixo risco, e quando associados a orientações sobre o estilo de vida dessas mulheres, podem contribuir na prevenção das disfunções do AP. (GLISOI, GIRELLI, 2011; KNORST, 2012).
Além disso, a função sexual é favorecida com o fortalecimento dos MAP, pois aumenta a sensibilidade proprioceptiva dessa musculatura facilitando alcançar o orgasmo. (BRODY, HALL, 2012).
Treinamento do Assoalho Pélvico a partir do Método Pilates
Uma das formas de treinamento da musculatura do assoalho pélvico que vem sendo utilizada pela fisioterapia atualmente é o Método Pilates, pois envolve a contração dos MAP em praticamente todos os exercícios.
Desenvolvido por Joseph Pilates no início da década de 1920. O método constitui uma abordagem que trabalha a conscientização e o controle dos movimentos e posturas concetando o corpo à mente.
Seu principal objetivo é fortalecer a musculatura abdominal, glúteos, paravertebrais lombares, músculos do AP, músculos que juntos compõem o powerhouse (centro de força). (RYDEARD, LEGER, SMITH, 2006; STELTER, FRERE, 2014).
O Método Pilates baseia-se em seis princípios essenciais, o centro de força (powerhouse), concentração, controle, precisão, respiração e fluidez.
Assim, a musculatura do assoalho pélvico é demandada principalmente durante o trabalho expiratório, sendo solicitada e contraída voluntariamente junto com a contração dos músculos abdominais, associando a mesma com cada exercício realizado. (MARÉS et al., 2012; ANDREAZZA, SERRA, 2008).
O método preconiza, através de exercícios de baixo impacto, feitos no solo ou com a utilização de aparelhos e acessórios, o trabalho conjunto de força muscular, coordenação, flexibilidade, alinhamento postural e propriocepção.
Além disso, os exercícios são realizados com o máximo de atenção direcionada ao controle do movimento, o que induz aos músculos a responderem de forma mais rápida e com maior precisão aos estímulos obtendo maior qualidade de movimento de forma controlada. (MORENO 2009; SINZATO et al., 2012).
Ainda, os exercícios abrangem contrações concêntricas e excêntricas, mas principalmente, contrações isométricas envolvendo o centro de força.
Em um estudo realizado por Diniz et al. (2014), que analisaram o efeito do Mat Pilates na força muscular da musculatura do assoalho pélvico em mulheres sem histórico de disfunção do AP, e após oito sessões, os autores identificaram aumento significativo da força muscular do AP.
Outro estudo realizado por Maggi (2011), com o intuito de verificar a influência de 20 sessões do Método Pilates em mulheres com incontinência urinária, os autores encontraram aumento significativo na força muscular do AP das participantes Barbosa (2014).
Ao verificar a existência de diferença na força muscular do assoalho pélvico entre mulheres sedentárias e praticantes do Método Pilates obteve força de contração maior no grupo que praticava Pilates, sendo a força média encontrada de 20,15 ± 8,68 cmH2O.
Tais dados demonstram que é possível encontrar resultados tanto a curto quanto a médio prazo e que os resultados tendem a ser progressivos.
Uma revisão sistemática realizada por Metring et al. (2014), apontou aumento da força muscular do assoalho pélvico, relacionando à melhora dos sintomas de incontinência urinaria, fecal e prolapsos genitais, utilizando o Método Pilates e ginástica hipopressiva.
Os autores ainda ressaltaram em seu estudo que exercícios os quais ocorrem o sinergismo durante a fase expiratória, entre os músculos do assoalho pélvico, parede abdominal e diafragma respiratório, proporcionariam maior propriocepção da musculatura pélvica.
Concluindo…
Assim sendo, é importante ressaltar que o treinamento da musculatura do assoalho pélvico através do Método Pilates tem papel importante tanto no tratamento quanto na prevenção das disfunções do assoalho pélvico.
Dessa forma, o tratamento fisioterapêutico conservador das disfunções pélvicas femininas tem ganhado destaque por envolver exercícios para o AP, que atuam no fortalecimento dos MAP e visam proporcionar alterações no trofismo, volume, comprimento, força e resistência dos músculos. (METRING et al., 2014).
olá…. ótimo texto! Só senti pela ênfase em fisioterapia! Eu, como educadora física, não vejo a diferença do trabalho com o método nesses casos!
Ótimo texto, parabéns! Acho apenas que poderia ter dado enfase também na ginastica abdominal hipopressiva. Sou instrutora de pilates e após um parto de cocoras tive uma retocele e cistocele que diminuíram consideravelmente, a ponto de cancelarem minha cirurgia, após a pratica diária de exercicios hipopressivos.
ótimo,parabéns !
Uma abordagens uma interessante e inovadora na saúde da mulher , pois percebo que esse assunto e de muita importância na gestação podendo prevenir uma futura incontinência urinaria durante o pré parto e o pós parto.
Excelente abordagem! O Pilates, quando voltado para a saude da mulher, deve, com certeza, fortalecer muito mais o assoalho pélvico. De uns tempos para cá, vemos o metodo ser poluido com exxercicios voltados mais para malabarismos do que o clássico criado por Joseph! Fico imensamente feliz em manter a originalidade dos exercicios, onde o recrutamento do assoalho pélvico é obrigatorio em todas as posturas.Eu, como fisioterapeuta, conhecedora da anatomia feminina, sei que é necessário uma abordagem especial para cada caso e cada paciente individualmente.