Olá pessoal!
Este é o primeiro artigo que escrevo para o Blog Pilates.
Apaixonada por Pilates aplicado à Saúde da Mulher, optei por falar sobre Tratamento do Câncer de Mama por ser um tipo de atendimento bastante comum em meu Studio e, por ainda haver pouca literatura a respeito, quis contribuir um pouquinho com a área.
Espero que gostem!
O que é o Câncer de Mama?
O câncer de mama é o tipo de câncer que mais causa a morte em mulheres em todo o mundo. A estimativa mundial mostra que, em 2012, ocorreram 14,1 milhões de casos novos de câncer. Sendo o de mama responsável por 1,7 milhão da amostra.
Estima-se, para o Brasil, no biênio 2018-2019, a ocorrência de 600 mil casos novos de câncer em cada ano. Os cânceres de próstata (68 mil) em homens e mama (60 mil) em mulheres serão os mais frequentes.
Múltiplos fatores estão envolvidos na etiologia do câncer de mama:
- Idade da primeira menstruação menor do que 12 anos;
- Menopausa após os 55 anos;
- Mulheres que nunca engravidaram ou nunca tiveram filhos (nuliparidade);
- Primeira gravidez após os 30 anos;
- Uso de alguns anticoncepcionais e terapia de reposição hormonal na menopausa (especialmente se por tempo prolongado);
- Exposição à radiação ionizante;
- Tabagismo;
- Consumo de bebidas alcoólicas;
- Dietas hipercalóricas;
- Sedentarismo;
- Predisposição genética.
No entanto, o envelhecimento populacional tem sido amplamente associado ao aumento no número de casos.
Objetivando amenizar o sofrimento físico e emocional, desmistificar e minimizar as possibilidades de incapacidade funcional, aumentar a autoestima, promover a sociabilização e assim melhorar a qualidade de vida dessas mulheres que receberam o diagnóstico.
O Pilates pode convir como tratamento complementar de fundamental importância antes e/ou após a cirurgia. Ou, até mesmo, para pacientes que não passarão pela intervenção cirúrgica, ajudando-as a melhor enfrentar esse momento tão conturbado.
Tipos de Tratamento do Câncer de Mama
Com a evolução de melhores métodos diagnósticos, a detecção precoce foi viabilizada, levando a tratamentos mais específicos e eficazes, prognóstico favorável e, consequentemente, maior sobrevida às pacientes.
Porém – apesar de proporcionar maior sobrevida -, o Tratamento do Câncer de Mama (feito em várias etapas), pode causar efeitos adversos e deixar algumas sequelas.
De forma bem simples, podemos dividir os tratamentos em três etapas:
- O tratamento cirúrgico, que pode ser conservador (setorectomia ou tumorectomia, onde são extraídos apenas o tumor e as áreas imediatamente adjacentes a ele) ou não conservador (mastectomia, em que a mama toda é retirada).
No momento da cirurgia para o Tratamento do Câncer de Mama é feito um teste na região dos linfonodos axilares para avaliar se a região está comprometida ou não. Caso não esteja, os linfonodos são preservados. Caso a área também tenha sido atingida, toda essa cadeia de linfonodos será extraída.
Ainda durante a cirurgia de mastectomia ou mais adiante, pode-se optar pela reconstrução da mama. A técnica consiste na implantação de uma prótese de silicone e na utilização de tecido muscular, adiposo e cutâneo da própria paciente para tornar as duas mamas o mais semelhante possível.
Assim otimizando o aspecto estético, beneficiando a vaidade e autoestima. Pode ser que a quantidade de pele, gordura e músculo não seja suficiente para cobrir o implante e aí a necessidade de um expansor cutâneo se fará necessária.
Mas não entrarei nesses detalhes aqui, o cirurgião plástico fará a melhor opção. O que realmente nos importa será o quanto e como essas reconstruções impactarão nos músculos e movimentos envolvidos.
- O tratamento coadjuvante: a análise do tecido coletado na cirurgia definirá os próximos passos do Tratamento do Câncer de Mama e se será necessária a administração de Quimioterapia e/ou Radioterapia.
- A Hormonioterapia que se segue ao final de todo esse processo completa o benefício proveniente da cirurgia e/ou quimioterapia e radioterapia e é quando a paciente usará medicação via oral ou subcutânea específica para o seu caso por um período pré-estabelecido, objetivando minimizar o risco de reincidência do tumor ou controlar seu crescimento, quando a cura não é mais possível.
Efeitos Colaterais do Tratamento do Câncer de Mama
Como já dito, a sequência e opção dos tratamentos sempre se baseia na avaliação clínica médica e na adoção de alguns protocolos para maior especificidade e acurácia na atuação, variando em função de inúmeros quesitos (como tipo e estadiamento do tumor, idade, associações de comorbidade associadas, etc.).
Ou seja, raramente um Tratamento do Câncer de Mama é igual a outro.
Assim, nem todas as mulheres passarão pelas mesmas fases e, mesmo se passarem, cada uma delas responderá de forma diferente às intervenções e medicações.
Por isso é importante aqui enfatizar a necessidade de uma avaliação detalhada e individual das queixas relatadas para melhor oferecermos a minimização desses desconfortos.
Como consequência do Tratamento do Câncer de Mama cirúrgico, a paciente pode sentir dor, limitação de amplitude de movimento e força, sensação de peso, dormência e formigamento no membro superior homolateral à cirurgia, insegurança para movimentar os membros superiores.
Provavelmente ela adotará, a médio e longo prazo, compensações posturais importantes, heminegligenciando o lado acometido (o que pode ser explicado por estudos que evidenciaram como amplamente significativa a diferença de força contralateral nos músculos supra-espinhal e trapézio médio).
Se houver a extração da cadeia de linfonodos axilares, o linfedema aparecerá, em maior ou menor escala, dificultando ainda mais suas atividades de vida diária e lembrando-a de sua incapacidade funcional, mesmo que transitória, impactando diretamente em sua qualidade de vida e autoestima.
Pós-Tratamento do Câncer de Mama
No caso das reconstruções de mama, aderências cicatriciais, encurtamentos e fraquezas musculares fatalmente estarão presentes, agravando e limitando a capacidade de movimentação da articulação do ombro em todos os planos.
Em especial dos retos abdominais no caso da TRAM e dos músculos latíssimo do dorso, infra-espinhal, rombóides maior e menor. Peitorais maior e menor e redondos maior e menor no caso de reconstrução com tecido do tórax posterior.
Na fase de aplicação da Quimioterapia, os sintomas são mais generalizados. Náuseas, vômitos, fadiga, dor, formigamento, queimação, fraqueza ou insensibilidade de todos os membros, câimbras, incontinência urinária, tonturas e desequilíbrio.
Assim como dificuldades na realização de suas atividades de vida diária, confusão ou problemas de memória e depressão são as queixas mais comumente referidas.
Na Radioterapia, ao contrário, a aplicação é localizada na região de tumor. Por isso, no caso específico do câncer de mama, fraqueza, edema, dor, formigamento e/ou dificuldade de movimentação nos membros superiores são queixas sempre presentes.
Quando se entra no período de Hormonioterapia, o objetivo do Tratamento do Câncer de Mama passa a ser bloquear a ação dos hormônios que podem estimular as células do câncer a crescer. A falta destes hormônios poderá acarretar o surgimento de sintomas adversos nos locais do corpo a que eles comumente estão relacionados.
Os mais comuns são os fogachos, diminuição da libido, ressecamento vaginal, alterações dos níveis das gorduras do sangue, ganho de peso e maior risco de trombose. As mulheres que já estão na Menopausa sofrem ainda mais.
Como o Pilates pode ajudar no Tratamento do Câncer de Mama?
Tendo como ponto de partida os déficits que o Tratamento do Câncer de Mama traz às pacientes, o método Pilates visa auxiliar no alívio dos sintomas, ajudando-as a recuperar a funcionalidade e o desempenho nas atividades da vida diária, consequentemente melhorando sua qualidade de vida.
Como?
O Tratamento do Câncer de Mama cuidadoso durante o pós-operatório imediato, respeitando sempre o limite da dor e insegurança da paciente, assim como sua continuação dosada durante a radio e quimioterapia aumenta a mobilidade articular.
Além de favorece o sistema imunológico e reduz os efeitos colaterais do Tratamento do Câncer de Mama médico, diminuindo a sensação de fadiga, combatendo as restrições motoras.
Assim como melhorando a percepção do próprio corpo, aumentando a capacidade de relaxamento e favorecendo uma atitude positiva diante das dificuldades.
Estimulada pela realização de uma conexão mente-corpo e baseada nos princípios de concentração, controle, precisão, alinhamento corporal, respiração e fluidez de movimento, a prática criada por Joseph Pilates auxilia essas pacientes em especial por enfatizar o fortalecimento da região denominada “Powerhouse”.
Parte esta que consiste no transverso abdominal, multífidos, músculos do assoalho pélvico e diafragma, oblíquos internos e externos, glúteos e quadrado lombar.
Ajudando a minimizar os riscos de uma postura inadequada, melhorar os quadros de incontinência urinária e potencializará a ação do diafragma, incrementando a qualidade da respiração e consequentemente do relaxamento obtido através dela.
Exercício como forma de Socialização
A exigência da concentração durante a realização dos movimentos a fará distrair-se do problema que a doença representa, além de evidenciar a necessidade de um excelente controle e precisão para que o movimento flua harmoniosamente em um alinhamento corporal perfeito, sem compensações posturais.
Aliado a todas essas questões, o fato de geralmente fazer aula com ao menos mais uma outra aluna (que com certeza também está enfrentando alguma situação difícil, não necessariamente a mesma).
Propicia a sociabilização, enriquece a troca de experiências, desculpabiliza o riso e promove o aprendizado de formas diferentes de encarar a vida e o momento pelo qual está passando.
Resultados do Método Pilates no Tratamento do Câncer de Mama
Os resultados são surpreendentes! Tornam-se muitas vezes confidentes, visitam-se e encontram-se para ir ao cinema ou tomar um cafezinho após as aulas ou em outros dias. Culminando na melhora da autoestima, da autoconfiança e da auto-segurança, sentindo-se novamente interessante e capaz de se inserir socialmente.
Os movimentos do método Pilates são de baixo impacto e com poucas repetições, com mais de 500 exercícios com o objetivo de alongar e fortalecer global e simultaneamente a musculatura.
Esses movimentos podem ser feitos no solo (MAT Pilates), onde se utiliza a resistência do próprio corpo, ou em aparelhos que contêm molas e polias, que podem auxiliar na prática dos movimentos ou proporcionar uma resistência extra ao aluno.
Independente de ser realizado no solo ou nos aparelhos, os objetivos são os mesmos: estimular e aperfeiçoar mobilidade, estabilidade, coordenação, equilíbrio, agilidade, condicionamento cardiovascular e respiratório.
Assim como o controle postural e emocional, flexibilidade, força e resistência globais, culminando na obtenção e manutenção do desenvolvimento uniforme do corpo.
Associado a uma boa saúde mental e à possibilidade de realizar com facilidade as atividades de vida diária – tripé que embasa a capacidade funcional. Que vai totalmente ao encontro do que buscamos oferecer às pacientes em Tratamento do Câncer de Mama.
Exemplos de exercícios para o Tratamento do Câncer de Mama
Com foco nesses objetivos, seguem algumas sugestões de exercícios que podemos realizar em nossas aulas:
Cadillac
Posição inicial Flexão de ombro (trabalho sem molas para ganho de ADM ou com molas para fortalecimento)
Posição Inicial Extensão de ombro (trabalho sem molas para ganho de ADM e alongamento de peitorais)
Extensão de ombro associada à inclinação do tronco livre, com descarga do próprio peso corporal para fortalecimento de MMSS em extensão
Movimento curto de flexo-extensão de cotovelos para fortalecimento da musculatura interescapular
Alongamento de cadeia posterior associado a ganho de ADM e descarga de peso corporal em MMSS
Mermaid
Spine Stretch
Variação Spine Stretch: Associação com rotação de tronco para alongamento de cadeia cruzada e ganho de consciência corporal. Para fortalecimento, colocar Tonning Balls nas mãos.
Fortalecimento na Chair
Tríceps
Bíceps
Deltóide e Peitorais
Concluindo…
Como vocês podem conferir, o Câncer de Mama é uma doença muito série e nós, como instrutores de Pilates, podemos e devemos auxiliar mulheres no pós-operatório.
Os exercícios do método podem auxiliar no fortalecimento dos músculos do tronco além de ajudarem na reabilitação desta mulher. Espero que tenham gostado do texto, até a próxima! 🙂
Bibliografia
-
ESPINDULA, Roberta Costa et al . Pilates for breast cancer: A systematic review and meta-analysis. Rev. Assoc. Med. Bras., São Paulo, v. 63, n. 11, p. 1006-1012, Nov. 2017. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-42302017001101006&lng= en&nrm=iso>. Acesso em 03 fev. 2019. http://dx.doi.org/10.1590/1806-9282.63.11.1006.
-
GOUVEIA, Priscila Fernandes et al . Avaliação da amplitude de movimento e força da cintura escapular em pacientes de pós-operatório tardio de mastectomia radical modificada. Fisioter. Pesqui., São Paulo, v. 15, n. 2, p. 172-176, 2008. Disponível em <http://www.scielo.br/ scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-9502008000200010&lng=pt&nrm= iso>. Acesso em 03 fev. 2019. http://dx.doi.org/10.1590/S1809-29502008000200010.
-
INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA. Estimativa 2018: Incidência de Câncer no Brasil. Rio de Janeiro, 2017. Disponível em: https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files//media/document//estimativa-incidencia-de-can cer-no-brasil-2018.pdf. Acesso em: 03 fev. 2019.
-
NIARADI, Fernanda dos Santos Lopes. Imagem corporal após interrupção da atividade física Pilates. ConScientiae Saúde, São Paulo, v.16, n.1, p.82-91, 2017. Disponível em: <http://www. redalyc.org/articulo.oa?id=92952141010> Acesso em 03 Fev. 2019.
-
REVISTA PILATES. Power House: você sabe o que é? Disponível em: <http://revistapilates. com.br/2017/04/19/power-house-voce-sabe-o-que-e/>. Acesso em: 03 Fev. 2019.
-
VANZELLA, Juliana Sader dos Santos. Reeducação Funcional: Pilates de solo e acessórios. 65 p. Material didático para curso de curta duração de mesmo nome. São Paulo, 2018.
-
http://slideplayer.com.br/slide/49134/
-
http://www.oncoguia.org.br/cancer-home/cancer-de-mama/20/12/
-
https://www.hcancerbarretos.com.br/quimioterapia-2/33-paciente/opcoes-de-tratamento/ quimio terapia /108-quimioterapia-e-os-efeitos-colaterais
-
https://www.hcancerbarretos.com.br/radioterapia-2
-
https://www.hcancerbarretos.com.br/index.php/paciente/opcoes-de-tratamento/radioterapia/47-paciente/opcoes-de-tratamento/radioterapia/47-radioterapia-mama
-
https://www.hcancerbarretos.com.br/hormon