Se os exercícios de Pilates já promovem o alongamento e flexibilidade, porquê será que devemos trabalhar algo específico durante as aulas?
Entre os seus alunos talvez existam aqueles poucos que são tão flexíveis e alongados que parecem dançarinos. Mas também encontramos aqueles extremamente rígidos que mal conseguem se alongar.
O mais comum hoje em dia é encontrar alunos com pouca ou nenhuma flexibilidade. Isso acontece devido ao estilo de vida sedentário que muitos seguem. Ficar quase o dia inteiro parado na mesma posição certamente não é muito indicado.
No Pilates um dos objetivos é recuperar características funcionais do movimento. Será que ele também é capaz de dar maior alongamento e flexibilidade ao aluno?
É o que buscamos responder no artigo a seguir. Vamos entender neste artigo os tipos de flexibilidade que existem, sua importância no Pilates e como a modalidade pode ajudar com isso. Vamos lá?
O que é flexibilidade?
A flexibilidade está relacionada à elasticidade muscular e capacidade de movimento articular. Ou seja, ela depende da capacidade máxima da amplitude de movimento dos músculos ou articulações.
Um indivíduo com boa flexibilidade é capaz de realizar movimentos articulares mais amplos sem sentir dor. Mas a característica não é algo que acontece no corpo inteiro, alguém pode apresentar flexibilidade em uma articulação e rigidez em outra.
Ela também depende diretamente do estado da articulação. Um aluno com problemas em um ombro, por exemplo, certamente terá sua flexibilidade afetada.
Tipos de flexibilidade
Por ser um termo tão amplo, precisamos dividir a flexibilidade em determinados tipos. Confira todos eles abaixo.
Flexibilidade geral e específica
Quando nos referimos à flexibilidade geral, estamos falando da que é necessária para a amplitude normal de movimento das articulações. Ela pode ser observada em todos seus movimentos, envolvendo os principais conjuntos articulares do corpo.
Já a flexibilidade específica refere-se à mobilidade necessária para realizar certos movimentos de uma articulação. Ou seja, alguém talvez tenha boa flexibilidade geral, mas dificuldades para realizar alguns movimentos específicos.
Entendendo esses conceitos, o instrutor consegue definir os melhores exercícios para cada aluno. Considerando sua mobilidade específica também fica mais fácil escolher quais movimentos devem ser trabalhados entre todos que encontramos no Método Pilates.
Flexibilidade simples e composta
O tipo de articulação com o qual trabalhamos também define o tipo de flexibilidade.
O primeiro desses tipos é a flexibilidade simples. Seu nome é autoexplicativo, usamos o termo para falar de movimentos que envolvem somente uma articulação.
O segundo tipo, composto, é a flexibilidade de movimentos que envolvem mais de uma articulação. Quer um exemplo? Os movimentos do ombro precisam de flexibilidade composta por envolverem um complexo conjunto de articulações.
Flexibilidade dinâmica e passiva
Comecemos falando sobre a flexibilidade dinâmica. Ela é aquela que tem origem em forças internas. Toda vez que as musculaturas entrarem em ação para realizar um movimento articular você está observando esse tipo de flexibilidade.
Já a passiva não utiliza as forças internas do corpo para acontecer, ela utiliza forças externas. Quando o aluno faz um exercício com a ajuda de um colega, por exemplo, é sua flexibilidade passiva entrando em ação. Ela também está presente em alguns exercícios com aparelhos e acessórios.
Lembre-se que a flexibilidade passiva é sempre maior que dinâmica. Portanto, não devemos avaliar as capacidades do aluno a partir da primeira.
Fatores que influenciam na flexibilidade
O condicionamento físico é o primeiro e mais importante fator que influencia na flexibilidade de um indivíduo. Mas existem outras condições que levam a uma variação da característica. Preste atenção nelas na hora de avaliar seu aluno.
- Hora: logo depois de acordar pela manhã a flexibilidade do aluno costuma ser menor.
- Idade do aluno: conforme a mobilidade articular diminui com a idade, a flexibilidade também decresce. Isso quer dizer que um idoso flexível não será a mesma coisa que um jovem flexível.
- Sexo: é comum encontrarmos mulheres com um nível de flexibilidade levemente superior aos homens.
- Temperatura: quando o corpo está mais frio a flexibilidade diminui ligeiramente.
Além disso existem características individuais que podem levar à um aumento ou diminuição da flexibilidade no aluno. Isso inclui patologias ou dores que possam ter como consequência uma diminuição na mobilidade articular.
Um fator muito importante e que damos bastante atenção é a respiração e a concentração. Alguém pouco concentrado sentirá mais dificuldade para alcançar uma maior flexibilidade.
A hora em que o aluno realiza a inspiração ou expiração também facilita ou dificulta o movimento. Vamos testar. Tente fazer um spine stretch alongando a torácica na inspiração. Percebeu que fica mais difícil?
Agora faça o mesmo movimento, mas alongue a coluna na expiração. Ao inspirar seu corpo automaticamente corrige a postura, enquanto a expiração leva a um arredondamento da torácica.
Essa é uma boa dica para aqueles alunos que têm muita dificuldade nos exercícios de mobilidade e flexibilidade.
Benefícios da flexibilidade
Os tempos em que treinar força e resistência cardiorrespiratória era o mais importante de tudo está no fim. Atualmente já conhecemos a importância que alongamento e flexibilidade têm na saúde de um aluno.
Em primeiro lugar, gostaríamos de lembrar que essa é uma característica importante tanto no corpo quanto na mente. Alguém com um psicológico mais flexível é capaz de se adaptar melhor a situações, mesmo as complicadas. Isso se reflete em seu corpo através de melhor mobilidade articular e habilidade para se mover.
Enquanto isso alguém extremamente tenso costuma apresentar um corpo mais rígido e com alongamento e flexibilidade muito piores.
Se quiser entender um pouco mais sobre a influência do psicológico no corpo sugerimos uma visita à este artigo sobre dor psicológica . Nele você encontrará uma explicação detalhada sobre o assunto que é extremamente importante para nós que trabalhamos com movimento.
Em um nível biológico, a flexibilidade está diretamente relacionada à execução de movimentos funcionais.
Mas eu não trabalho com atletas. Meus alunos ainda precisam ser flexíveis e alongados?
Claro, quanto maior for a capacidade de mover suas articulações na amplitude máxima melhor serão seus movimentos. E isso se aplica até para atividades de rotina, sem nada esportivo.
Será que uma dona de casa conseguiria alcançar embaixo do sofá com pouca flexibilidade nos joelhos e coluna? Conseguiria, mas teria uma dificuldade muito maior e arriscaria se lesionar no processo.
Além disso, membros inferiores flexíveis e alongados ajudam a estabilizar e evitar mobilidade excessiva na lombar. Ao conseguir mover seus membros de maneira mais eficiente, o indivíduo evita compensar na coluna lombar. Sabemos que essas compensações estão entre as principais causas de lombalgias.
Alongamento e flexibilidade são essenciais para melhorar a qualidade de vida dos nossos alunos.
Importância de alongamento e flexibilidade para atletas
Você que trabalha com atletas e tem aquele aluno louco para pular o alongamento precisa tomar cuidado. Ele está muito mais propenso a se lesionar enquanto treina ou compete.
Falta de flexibilidade está relacionada à mobilidade articular deficiente. Essa última característica, por sua vez, também leva a um maior número de lesões.
Além disso, muitas técnicas específicas de cada mobilidade exigem um alto grau de flexibilidade. Um tenista sem mobilidade de ombro, por exemplo, terá dificuldade extrema para realizar boa parte dos movimentos.
Perigos do excesso de mobilidade
A rigidez é quase regra em muitos de nossos alunos, mas o excesso de mobilidade e flexibilidade também podem acontecer.
Assim como a falta é prejudicial, o excesso pode levar a lesão. Articulações muito móveis tornam-se instáveis, levando a uma possível lesão de ligamento e tendões.
Um exemplo comum é o ombro, um conjunto de articulações bastante instável. É comum encontrar lesões de ombro por esse motivo.
Percebendo isso, precisamos incentivar um ganho de mobilidade e flexibilidade na proporção ideal para um corpo equilibrado.
Alongamento e flexibilidade são as mesmas coisas?
Depois de ouvir falar tanto sobre a importância da flexibilidade, tenha certeza que vai chegar na sua próxima aula e dizer:
Vamos alongar, gente!
Mas será que alongamento e flexibilidade são as mesmas coisas?
Muitos profissionais ainda confundem esses conceitos, então imagine o que nossos alunos pensam sobre eles. Na verdade, alongamento é definido como uma atividade que incentiva a elasticidade do músculo. Bem diferente da flexibilidade, uma característica fisiológica.
Apesar da diferença, alongamento e flexibilidade estão relacionados. O ato de alongar é uma ótima maneira de incentivar a flexibilidade de seus alunos.
Esses exercícios também ajudam a prevenir lesões durante a prática esportiva ao proteger partes moles. Sabe o que isso quer dizer? Que o alongamento é uma parte fundamental de uma aula de Pilates.
Se nosso objetivo é restaurar as características funcionais no corpo do aluno, devemos incluir maneiras de melhorar a flexibilidade.
Agora queremos corrigir outra confusão bastante comum. Quando falamos de alongamento, o aluno já pensa em ficar parado tentando alcançar os pés. Mas fique sabendo, essa não é a única maneira de alongar e ganhar flexibilidade.
Tipos de alongamento
Existem alguns tipos de alongamento e cada um é mais indicado para um tipo de atividade.
Alongamento dinâmico ou balístico
Esse é o tipo de alongamento mais indicado para quem vai praticar alguma atividade física. Ele também é ótimo para ser aplicado no Treinamento Funcional.
Como o nome diz, ele é realizado com movimentos. Por ser mais dinâmico esses exercícios trazem uma série de benefícios.
O primeiro deles é incentivar os alunos a realizarem o alongamento. Sabe aquele aluno apressadinho que quer pular o alongamento? Ele certamente ficará bem menos entediado quando você começar a usar os do tipo dinâmico.
Outra grande vantagem é que esses exercícios também servem de preparação. Além de prevenir lesões e melhorar o desempenho, você pode escolher um alongamento para gestos específicos da modalidade.
Por exemplo, podemos usar um afundo como alongamento para um corredor. Além de alongar, esse exercício prepara o corpo para os movimentos da corrida. Ele também inclui um bom trabalho de mobilidade de tornozelo, algo essencial para esses alunos.
Alongamento estático
Esse é o tipo de movimento que a maioria dos alunos relaciona ao alongamento. Ele consiste em levar uma musculatura até sua extensão máxima e mantê-la nessa posição por alguns segundos.
Realizar o alongamento estático ajuda a diminuir a resistência muscular e aumentar o comprimento muscular. Se realizado corretamente, ele aumenta muito a amplitude de movimento.
Para que o alongamento estático seja eficiente, é importante que o músculo também esteja aquecido. Como vimos anteriormente, a temperatura corporal é um dos fatores que influencia na flexibilidade do indivíduo.
O alongamento também é indicado após o treino, especialmente se for uma aula onde os alunos fiquem mais tensionados. Ele ajuda a relaxar as musculaturas e evitar fadiga muscular mais tarde.
Alongamento passivo
Esse alongamento é realizado com a ajuda de um equipamento ou acessórios. Um exemplo é usar uma faixa elástica para sustentar o membro durante um alongamento estático.
Podemos usá-lo com alunos que possuem pouca flexibilidade para realizar o alongamento estático sozinhos. O próprio instrutor também pode auxiliar no alongamento, forçando a articulação a alcançar sua amplitude máxima.
Precisamos tomar cuidado com alunos que apresentarem dor durante o alongamento passivo. Fique muito atento e peça que o aluno interrompa o exercício no caso de dor. Forçar que continue pode levar a fadiga muscular ou até uma lesão.
Conclusão
A flexibilidade é uma característica fisiológica funcional que precisamos desenvolver em nossos alunos. Muitos exercícios do Pilates ajudam a promover a flexibilidade, mas também podemos introduzir alongamentos específicos nas aulas.
Lembre-se de trabalhar alongamentos que, além de promover flexibilidade, auxiliem na preparação para os movimentos mais avançados da aula. Existem diversos exercícios que servem como alongamento dinâmico e são bastante recomendados.
Com uma flexibilidade e mobilidade articular, nossos alunos conseguirão aumentar seu desempenho e evitar lesões. A flexibilidade é importante tanto para pessoas “normais” quanto atletas, então não se engane e ignore esse fator em seus alunos.
Você verá com o tempo que alongamentos dinâmicos e estáticos introduzidos em aula ajudarão seus alunos a melhorarem inclusive a realização dos exercícios.
Além do alongamento, também existe outra parte essencial de uma aula: o aquecimento. Não podemos confundir os dois, mas ambos são necessários. Se gostou da temática e quer continuar aprendendo, visite este outro artigo do Blog Pilates e confira a diferença entre alongamento e aquecimento.