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Quando aceitei o convite para participar do blog, junto com a euforia veio um turbilhão de pensamentos: sobre qual tema vou escrever?

Sou fisioterapeuta apaixonada pela profissão e encontrei no Pilates um caminho a seguir para poder ajudar meus pacientes. Como a maioria dos fisioterapeutas, adoro uma história inspiradora e de superação.

Escolhi então estrear no blog com um assunto que me foi apresentado logo no início em minha caminhada mais íntima com o Método Pilates.

Tinha acabado de me mudar de cidade e começado a trabalhar exclusivamente em um Studio e logo de cara, em meio a tantas mudanças peguei uma turminha que tinha uma aluna com deficiência.

Além de mudanças e novas experiências pessoais, veio em minha bagagem uma experiência profissional incrível!

Pela Legislação Brasileira, o Decreto 3298/89, que regulamentou a Lei 7853/89, em seu art. 4º classifica em 5 tipos as deficiência:

  • Deficiência Física
  • Deficiência Auditiva
  • Deficiência Visual
  • Deficiência Mental
  • Deficiência Múltipla

Fui então apresentada ao Pilates para Deficientes. Nesse caso especificamente, na deficiência visual. Inspirada nela, a minha escolha em escrever um pouquinho em relação ao nosso trabalho.

Minha aluna enxergou até a fase adulta quando foi atingida por fungos de papel velho decorrentes do trabalho que exercia, os quais foram inalados e acabaram por atingir o nervo óptico e desde então aprendeu uma nova forma de “ver” o mundo.

No início fiquei insegura e pensando que precisava treinar mais meus comandos, uma vez que não tinha como gesticular ou demonstrar o exercício, além de treinar minha agilidade (morria de medo dela se machucar).

Bobagem da minha parte, mal sabia que era ela quem ia me apresentar um leque de novos aprendizados diante do meu próprio receio. Afinal de contas, ela possuía mais experiência no Pilates para Deficientes que eu mesma. Fui então estudar para que conseguisse direcionar minhas aulas e descobrir como poderia ajudá-la.

Princípios do Pilates aplicados à Deficiência Visual

Sabemos que no Pilates para Deficientes, as aulas devem ser direcionadas de acordo com a necessidade de cada indivíduo sempre sem deixar de lado os princípios descritos por seu criador.

Contrologia: primeiro nome dado por Joseph Pilates à sua metodologia tendo como definição manter o foco na atividade que está sendo realizada, com a máxima consciência nos músculos que estão sendo trabalhados. A mente controlando o corpo.

Centro: também chamado de “Power House”. Responsável pela estabilização do tronco, através do fortalecimento de alguns grupos musculares: abdominais (reto abdominal, oblíquo externo, oblíquo interno e transverso do abdômen) assoalho pélvico, eretores profundos da coluna, flexores e extensores do quadril.

Respiração: deve-se fazer uma expiração forçada, o que ajuda na ativação de toda a musculatura profunda do Power House estabilizando assim a região lombo-pélvica durante os exercícios, e a inspiração deve ser feita da maneira mais natural possível.

Concentração: em função dos diversos estímulos, o indivíduo deve manter-se concentrado para realizar a contração da musculatura que deve ser trabalhada no momento, evitando que ocorra contração desnecessária desviando o foco do exercício.

Precisão: conseguir contrair a musculatura a ser trabalhada de forma eficiente sem que ocorra um gasto de energia desnecessário.

Fluidez: iniciar e terminar o movimento com o mesmo ritmo e intensidade, conseguindo assim aproveitar tanto a fase concêntrica quanto a fase excêntrica e seus benefícios.

O sistema visual e o sistema vestibular são duas das portas de entrada, também chamados de captores, para que o indivíduo consiga ter noção espacial e controle postural.

Quando tirado um dos captores é preciso que trabalhemos com maior ênfase outras formas que facilite tanto a noção espacial quanto o controle postural para que o indivíduo consiga atingir o quanto antes sua independência para as atividades de vida diária (AVD).

O captor visual está relacionado às adaptações do corpo na tentativa de manter a bipedestação com equilíbrio.

Quando anulado, existe uma tendência de que o individuo faça oscilações na tentativa da correção postural afetando assim diretamente seu equilíbrio na bipedestação e o sistema vestibular relaciona-se com a posição da cabeça também para a manutenção do corpo em busca do equilíbrio.

Daí a maior importância do trabalho da Contrologia e do centro do indivíduo no Pilates para Deficientes. Mostrar ao aluno que ele consegue executar os exercícios de forma eficiente e consciente mesmo que algum captor esteja afetado ou inutilizado.

E para minha surpresa qual é o aluno que eu tenho que é mais “fácil” dar aula? Isso mesmo, para ela! A consciência corporal que ela adquiriu ao longo desses anos de treino com o Pilates é incrível!

Os três últimos princípios ajudam a treinar tanto a noção espacial e controle postural, como também ajudam no treino da noção da força e ritmo que deve ser aplicado para execução de suas AVD’s.

Fjellvag et al. (1986, cit. por Monteiro, 1999) referem que as adaptações posturais adquiridas por deficientes visuais são devidas à falta de atividade física e falta de controle visual, o uso da audição combinado com o medo de chocar-se com objetos duros, uma imagem corporal distorcida, uma percepção incorreta da vertical, tensões musculares generalizadas e ansiedade.

Para uma pessoa que se encontra em uma situação nova, a tendência é que o gasto energético seja maior para manter tanto sua postura e centro de gravidade, quanto para realização de suas AVD’s até que aprenda e se adapte à nova realidade.

“Realize seu exercício com o mínimo de esforço e o máximo de prazer.” (Joseph Pilates)

Postura em Indivíduos com Deficiência Visual

Para Nunes (2004), em termos posturais, verifica-se um desvio lateral ou posterior do corpo em relação à posição do centro de gravidade.

  1. Corpo sobre os calcanhares, as pontas dos pés exageradamente divergentes com o apoio no bordo interno do pé, estruturando pés valgos.
  2. Os joelhos limitados na extensão fisiológica ocasionando anteversão da bacia e aumento nas curvaturas da coluna.
  3. Instabilidade em todas as situações de apoio, cabeça inclinada ou levantada para frente, muito rígida ou demasiada movimentada, pendente e balançando lateralmente.
  4. Postura do tronco muito rígido, tensão exagerada dos músculos do tronco, pescoço, e ao mesmo tempo, total relaxamento dos músculos abdominais, da anca e das pernas.
  5. Pousar do pé com toda a planta, levando geralmente o corpo para trás da linha da gravidade e irregularidade da direção de movimentos.

Construção das Aulas de Pilates para Deficientes

O principal objetivo que buscamos durante as aulas de Pilates para Deficientes é o relaxamento da musculatura, trocando a tensão muscular por fortalecimento. Uma musculatura tensa leva à deformidades estruturais e ineficiência dos movimentos, sem contar os malefícios de possíveis dores e uma estética não muito agradável.

Músculos fortes garantem saúde à coluna, eficiência nos movimentos, postura alinhada, aumento na capacidade de equilíbrio e reação frente aos diferentes obstáculos que vem a ser encontrado durante a locomoção no dia a dia.

Especificamente nesse caso, minha aluna já pratica Pilates há aproximadamente 10 anos, então ela consegue assimilar com certa facilidade os comandos dos exercícios novos que lhe são propostos.

Mesmo assim, muitas vezes opto por acrescentar novos elementos, diversificar o peso das molas ou quantidade de repetições aos exercícios que ela já está mais acostumada aumentando assim a dificuldade, ao invés acrescentar sempre muitos exercícios novos.

Já dizia Joseph: “Não interessa o que você faz e, sim, como você faz.” Seguindo esse pensamento, prefiro que seja feito o exercício na máxima eficiência do que propor um exercício difícil que acaba saindo mal feito.

Claro que exercícios novos são propostos. Para isso é treinado e aperfeiçoado os movimentos por partes até que conseguimos unir as partes e fazer por completo.

Mas a aula de Pilates para Deficientes não fica focada somente no fortalecimento do Power House visando à postura e manutenção do centro de gravidade.

Nós também treinamos exercícios com o propósito de dissociar as cinturas (escapular e pélvica), uma vez que o balanço e associação de movimento dos membros superiores combinados com membros inferiores durante a marcha estão sendo perdidos, e a marcha está sendo feita engessada, em bloco.

Confesso que durante um bom tempo fiquei focada no trabalho de fortalecimento de tronco pensando em sua mobilidade e independência.

Mas, com o tempo na prática e diante dos meus estudos mais aprofundados em postura de uma forma geral, descobri que em função de sua deficiência e adaptações adquiridas ela poderia vir a desenvolver algumas lesões, como:

  • Bursite no Ombro, Quadril e Tornozelo
  • Tendinite no Ombro, Quadril e Tornozelo
  • Básculas de Ombro e Quadril
  • Epicondilite
  • Tendinite de Quervain

Não temos confirmações e diagnósticos médicos a respeito, mas pela avaliação clínica e sintomatologia (o que nos confunde é o exame positivo para artrite reumatoide) acreditamos que ela venha desenvolvendo algum tipo de processo inflamatório em membros superiores, decorrente da postura mantida e uso prolongado da bengala (dispositivo auxiliar na marcha).

Começamos então a fazer um trabalho com um pouco mais atenção em membros superiores e mais ainda em relação a dissociação na marcha, durante o Pilates para Deficientes.

Concluindo…

Que experiência! Durante esses 18 meses que estamos trabalhando juntas superei medos, aperfeiçoei minha técnica e meu comando verbal.

Conheci uma pessoa muito querida com uma história de superação incrível, daquelas que me fez permanecer na profissão e ter certeza que fiz a escolha certa, que me apresentou um novo mundo, cheio de novos caminhos e possibilidades!

E você, já trabalhou com o Pilates na Deficiência Visual?

 

Referências
  • Nunes, J. (2004) Estudo da pressão plantar em cego total, em três situações distintas: sozinho, com bengala e com guia. Revista Horizonte: Revista de Educação e Desporto, 19 (144), 13-18
  • Monteiro, A. (1999) Análise da postura e deficiência visual: influência da pratica de atividade física organizada de forma regular e sistematizada na postura do deficiente visual. Dissertação de Mestrado em Ciências do Desporto na Área de Atividade Física Adaptada. Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física. Universidade do Porto.


























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