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Além de todos os benefícios do Método Pilates, hoje também é utilizado como recurso terapêutico por profissionais habilitados auxiliando na prevenção de diversas lesões e patologias, dentre elas as patologias e reabilitação do quadril.

Essa, uma articulação comumente acometida por patologias que têm como fator causal alterações congênitas, a degeneração articular decorrente do uso excessivo da mesma e desequilíbrios musculares.

Além da degeneração relacionada à idade, o treinamento de alto rendimento e o aumento da prática de atividade física não orientada pode interferir na incidência de patologias do quadril em adultos jovens.

Revisão Anatômica

O quadril é uma articulação esférica formada pela cabeça do fêmur e o acetábulo, osso do quadril. O acetábulo é formado pela união dos três ossos pélvicos, ilíaco, o ísquio e o púbis.

Essa articulação é recoberta por uma camada de cartilagem, que possibilita o movimento da articulação com pouco atrito, e envolto por uma capsula articular composta por fortes ligamentos. E são eles:

  • Ligamento Iliofemural – que refreia a extensão do quadril e também limita a rotação do fêmur em torno do seu eixo longitudinal;
  • Ligamento Pubofemural – que restringe a abdução do quadril bem como a extensão e a rotação lateral;
  • Ligamento Isquiofemural – situado mais para trás que os demais, que limita a rotação medial do quadril;
  • Ligamento da Cabeça do Fêmur – sendo sua principal função conduzir vasos sanguíneos à cabeça do fêmur;
  • Ligamento Transverso do Acetábulo – que são fortes fibras achatadas que cruzam a incisura acetabular.

Devido a essa anatomia possui uma ótima coaptação, o que favorece sua estabilidade sendo considerada a articulação mais difícil de luxar no corpo humano, porém possui amplitudes de movimento limitadas quando comparada a outras articulações, como por exemplo, a articulação do ombro.

Na borda do acetábulo está situada uma cartilagem fibrosa, o labrum acetabular, que tem como função manter a pressão intra-articular e distribuir o líquido sinovial dentro da articulação.

Também existem pequenas bolsas, denominadas bursas, de material gelatinoso que são preenchidas por uma pequena quantidade de líquido sinovial e propiciam melhor deslizamento entre as estruturas articulares e a redução do impacto entre elas.

Toda essa estrutura está revestida por músculos responsáveis pela postura bípede, sendo essa uma das maiores importâncias da articulação do quadril.

E são esses músculos, que associados aos músculos abdominais e paravertebrais que compõe o CORE (centro de força), que são solicitados durante todas as aulas de Pilates para manter a estabilidade durante a realização dos exercícios.

A articulação do quadril realiza movimentos de flexão, adução (relativa ou adução combinada), abdução, rotação interna (ou medial) e rotação externa.

E como é uma articulação com três graus de liberdade por realizar movimentos nos três eixos (sagital, longitudinal e horizontal) realiza a circundução, que nada mais é que a transição pelos três planos de movimento.

Os objetivos dos componentes dessa articulação são diminuir o impacto articular e aumentar a estabilidade do movimento, porém por diversos motivos eles podem perder total ou parcialmente a sua função alterando a biomecânica articular e consequentemente gerar uma patologia como a artrose de quadril.

Todos esses movimentos são realizados em amplitudes consideradas normais, variando de acordo com o alongamento e mobilidade de cada individuo, e podem ser aumentados com exercícios e treinamentos específicos realizados, por exemplo por bailarinos.

No entanto, movimentos compensatórios podem acontecer, e se não realizados de maneira adequada e com o desgaste gerado na superfície articular lesões podem ocorrer com o decorrer do tempo, por isso é importante a reabilitação do quadril.

Principais Patologias que acometem a Articulação do Quadril

Podemos destacar algumas patologias que tem maior incidência no acometimento e necessidade de reabilitação do quadril e são elas:

Síndrome do Impacto Femoro Acetabular

Caracterizada por uma alteração no formato do osso do quadril devido a uma instabilidade articular ou a má formação durante a infância.

O desequilíbrio muscular, assim como o encurtamento dos músculos posteriores da coxa, favorece o impacto da cabeça do fêmur no acetábulo diminuindo assim o espaço intra-articular.

Esse impacto pode ainda ser fator causal de outras lesões como a lesão de labrum acetabular  e artrose de quadril, as quais comentaremos adiante.

Lesão de Labrum Acetabular

Como citado anteriormente, o labrum é uma estrutura fibrocartilaginosa que reveste o acetábulo.

A região está muito inervada e pouco vascularizada, responsável pela estabilidade e propriocepção articular, porém devido a sua pouca vascularização é uma região de difícil cicatrização.

Sua lesão normalmente é decorrente de uma anatomia congênita diferenciada ou a prática esportiva que exige muita rotação de quadril ou mudança abrupta de direção.

Artrose de Quadril

É uma patologia caracterizada pela perda de mobilidade articular e muita dor devido à degeneração da cartilagem articular.

Pode ser decorrente de outras patologias como o impacto femoro acetabular, alterações congênitas do quadril, doenças inflamatórias e necrose avascular da cabeça do fêmur.

A dor é consequência dessa alteração devido à formação de osteófitos na superfície articular, ou mesmo a mudança de densidade óssea, o que gera maior contato entre as superfícies, precisando da reabilitação do quadril.

Tendinite dos Glúteos

Nesse quadro o acometimento normalmente é dos tendões do glúteo médio e mínimo, que são auxílios na estabilidade da pelve e do tronco, onde o glúteo médio tem a função de abdução e rotação externa do quadril e o glúteo mínimo faz a abdução e rotação medial do quadril.

Geralmente é uma lesão degenerativa do tendão que leva a uma cronicidade da mesma. Entre os fatores causais estão esforço repetitivo, sobrecarga, fraqueza muscular, degeneração tendínea, e raramente traumas agudos.

Os sintomas incluem dor na lateral do quadril, dor ao caminhar e aos subir e descer escadas. A tendinite tornou-se mais frequente devido ao aumento do número de praticantes da corrida.

Não que a corrida seja a causa da tendinite, porém os diferentes comportamentos biomecânicos geram alterações no gesto esportivo que podem ocasionar a lesão.

Tendinite do Iliopsoas

Caracterizada pela inflamação do tendão do músculo psoas, que tem origem na coluna lombar e se une ao ilíaco na pelve e se inserem no trocânter menor e fazem a flexão do quadril.

Essa inflamação é decorrente do desgaste do tendão devido ao uso excessivo da articulação.

É uma lesão mais frequente em esportistas, como jogadores de futebol, e os sintomas são dor na região do quadril, dor profunda na região da virilha e rigidez articular.

Síndrome do Piriforme

Devido à proximidade do músculo piriforme ao nervo ciático, alterações musculares podem desencadear alterações que caracterizam a síndrome.

As causas podem ser a contratura, o encarceramento ou a hipertrofia do piriforme. A principal característica é a dor na região das nádegas, que pode irradiar até o joelho, decorrente a compressão do nervo ciático que anatomicamente passa entre os feixes do músculo.

Responsável pela rotação externa e auxiliar na abdução do quadril, o piriforme auxilia na estabilização da pelve quando tiramos um pé do chão para trocar a passada o que aumenta o risco de lesões por esmagamentos.

Atividades que podem favorecer a síndrome do piriforme são corridas em aclives, declives e terrenos irregulares, treinamento excessivo de glúteos e ciclistas que passam um longo período de tempo sentado e podem exigir uma rotação externa do quadril se não tiverem um gesto esportivo biomecanicamente adequado.

Bursite do Quadril

A bursite consiste numa inflamação na área de atrito entre tendões e ossos do quadril onde existem as bursas (pequenas bolsas gelatinosas preenchidas por líquido sinovial).

Sua característica principal é a dor na lateral do quadril, que pode gerar desconforto durante a marcha e é decorrente do atrito excessivo entre as estruturas, fraqueza muscular, diminuição da flexibilidade e também pode ser ocasionada por traumas diretos no local.

Pubalgia

A sínfise púbica é uma região de junção dos ossos da pelve que sofre ação de forças de diversas direções por suportar e distribuir forças do compartimento superior do corpo.

Nessa mesma região estão situados a inserção dos músculos abdominais, adutores e músculos do assoalho pélvico.

Essa característica favorece que alterações nessas forças ou desequilíbrios musculares gerem inflamação dessa articulação, que pode desencadear um processo degenerativo crônico.

A dor é decorrente dessa inflamação entre os ossos, cartilagens, ligamentos ou tendões que estão nessa região, e pode ser relatada desde a parte inferior do abdômen até a virilha.

Como podemos observar, as patologias do quadril apresentam sinais e sintomas comuns entre elas, como a dor na região do quadril, que pode ou não melhorar como o repouso, e a redução da mobilidade articular.

Sendo assim, faz-se necessário a avaliação completa e específica para o diagnóstico preciso da doença. Nela podemos identificar as alterações, dificuldades e dor gerados no indivíduo.

Exames de imagem, desde o raio-x até a ressonância magnética, são artifícios que podem ser utilizados para observar as condições das superfícies articulares e seus componentes, e assim que o diagnóstico é fechado podemos iniciar a reabilitação.

A reabilitação do quadril pode incluir um período de tratamento medicamentoso, indicado por um médico, para redução de um processo inflamatório até o estágio final que é a adequação da biomecânica articular com exercícios específicos.

Reabilitação do Quadril

A reabilitação do quadril visa o tratamento conservador dessas patologias, no entanto, alguns casos são irreversíveis e incapacitantes e levam a abordagem cirúrgica, como é o caso da artrose de quadril que pode ser tratada com técnicas de artroplastia, onde o acetábulo e a cabeça do fêmur podem ser substituídos por próteses.

Nesses casos a reabilitação do quadril normalmente se inicia antes do tratamento cirúrgico, a fim de melhorar as condições musculares para o processo de reabilitação pós-cirúrgico, onde cuidados devem ser tomados como o simples posicionamento adequado do membro operado para evitar luxações dos componentes da prótese, e o restabelecimento das condições musculares.

Durante essa abordagem, diversas técnicas da fisioterapia são utilizadas e tem como objetivo diminuir/eliminar a dor com diferentes recursos dependendo do estágio de acometimento – agudo ou crônico -, reequilibrar a musculatura com exercícios de força e resistência.

Assim como restabelecer a mobilidade e amplitude articulares com alongamentos e técnicas de mobilização, favorecer a propriocepção articular com treinos em diferentes superfícies, e o condicionamento físico através de exercícios aeróbicos de baixo impacto como a bicicleta estacionária e hidroterapia.

Tudo isso a fim de restabelecer a função da articulação e consequentemente a atividade desenvolvida por ela, seja o simples fato de caminhar, ou o gesto esportivo.

Pilates na Reabilitação do Quadril

O Pilates é um grande aliado na reabilitação do quadril e na prevenção de novas lesões, mesmo durante a fase aguda da lesão. Nessa fase é muito importante que os exercícios sejam realizados em amplitudes que não gerem e não aumentem a dor.

Uma revisão sistemática realizada por Silva e Marrinch (2009), afirma que quando o Pilates é aplicado como forma de reabilitação precoce, tanto no período pré-operatório quanto no pós-operatório de artroplastia de quadril, o método ajuda a aumentar força, mobilidade e amplitude de movimento da articulação acometida e das adjacentes, priorizando a função e flexibilidade.

Após a artroplastia, o método pode ser utilizado com os mesmos objetivos do período pré-operatório, e é eficaz por permitir exercícios precoces que respeitam os limites de movimentação – como flexão do quadril até 90º – como também auxiliar no aumento de resistência dos músculos de todo o corpo.

Os exercícios são seguros, devem ser individualizados e adaptados quando necessário respeitando as limitações de cada paciente, como a dor e amplitudes articulares, adequando também a resistência a ser vencida, seja ela da força da gravidade ou a resistência das faixas e molas, quando são utilizados aparelhos e acessórios.

Com o método podemos atuar na manutenção da amplitude do movimento, no fortalecimento da musculatura estabilizadora não só do quadril, como do corpo como um todo, e treinos de propriocepção e equilíbrio, fundamentais para biomecânica do movimento.

A reabilitação do quadril com o Método Pilates também preconiza a correta ativação e fortalecimento dos músculos do power house (centro de força) que somados aos músculos do quadril são responsáveis pela sustentação do corpo.

Sugestões de Exercícios para Reabilitação do Quadril

Os exercícios do MAT Pilates para a reabilitação do quadril são ótimos para iniciar o tratamento, favorecendo a consciência corporal e oferecendo baixa resistência em uma abordagem inicial. Algumas opções podem ser:

  1. Single Leg Circle
  2. Side Kick
  3. Shoulder Bridge

Os acessórios, como magic circle, faixas elásticas e a bola são ótimos aliados em um segundo momento de reabilitação.

O magic circle proporciona uma variedade de exercícios recrutando outros grupos musculares enquanto se realiza um padrão de movimento, por exemplo, quando posicionado na face medial da coxa podemos solicitar a adução dos membros durante uma ponte para estimular os músculos adutores e do assoalho pélvico.

Ou ainda, quando posicionado na face externa da coxa solicitamos a abdução do quadril com intuito de recrutar o glúteo médio.

As faixas são ótimas para iniciar uma resistência elástica, porém de baixa/média intensidade o que proporciona melhor controle para o aluno/paciente. Em alguns casos, a perda de força é acentuada e a resistência oferecida pelas molas não podem ser vencidas pelo aluno, tornando então as faixas uma ótima alternativa.

A bola pode funcionar como base instável tanto para o paciente sentar e realizar um simples exercício como a extensão unilateral do joelho mantendo a estabilidade pélvica e lombar, como solicitar a ativação dos adutores mantendo-a entre os tornozelos durante a realização de um abdominal como o Double Leg Stretch.

No cadillac, a sequência do ballet séries é uma ótima escolha para promover o alongamento dos músculos do quadril e do membro inferior como um todo. Com ela é  possível iniciar o alongamento da cadeira posterior, adutores e flexores do quadril.

Também no cadillac, podemos realizar a sequência de exercícios com alças de pés e através dela podemos fortalecer os músculos estabilizadores de quadril, joelho e abdominais.

A mesma sequência pode ser executada de maneira semelhante no Reformer, porém o carrinho é uma superfície instável o que pode ser um fator limitante para alguns alunos.

Já o footwork realizado no Reformer oferece uma gama de posicionamentos que auxiliam no processo de reabilitação do quadril.

Os diferentes posicionamentos dos pés na barra propiciam diferentes estímulos ao aluno durante a execução dos movimentos, como rotações de quadril, apoio no antepé e no calcâneo, além de exercícios clássicos como a ponte que aqui ganha amplitude e instabilidade com o movimento do carrinho.

Também é interessante a dissociação de movimentos sem perder a estabilidade pélvica, como no Single Leg Circle executado com o membro contralateral fazendo a extensão do joelho com o pé apoiado na barra.

Outro exercício muito utilizado no Reformer é o Psoas Stretch para alongamento do músculo iliopsoas. Aqui oferece uma posição confortável ao membro a ser alongado e um bom posicionamento do restante do corpo.

A Chair é um equipamento que exige atenção redobrada do terapeuta pelo risco do aluno soltar o pedal em caso de dor ou se houver uma sensação de “travamento” comum em muitas patologias do quadril.

Excluindo-se esse fato, é um ótimo aparelho para o fortalecimento dos músculos estabilizadores de quadril, proporciona o treino de equilíbrio já que alguns exercícios podem ser realizados sem o auxílio das mãos na barra, como o Front Up, ou até mesmo estando o membro de apoio sobre o disco de rotação.

Nesse aparelho também podemos trabalhar de uma maneira diferenciada os extensores de quadril e adutores de maneira isométrica, como no Swam Dive.

Outra opção muito utilizada na Chair é o alongamento do glúteo médio. Esse exercício muitas vezes é realizado no Barrel, porém em alguns casos fatores limitantes como a altura do aluno dificultam a realização do exercício no Barrel, tornando a Chair uma opção mais confortável.

Já no Barrel também podemos realizar a série de alongamentos ballet séries sem os deslizamentos oferecidos no trapézio ou alça fuzy do Cadillac.

E também o Horse, que é um ótimo exercício para equilíbrio pélvico, além do fortalecimento de adutores exige contração dos glúteos, músculos abdominais e extensores do joelho.

Concluindo…

Sendo a articulação do quadril uma das maiores articulações do corpo, que proporciona o apoio para a estabilidade corporal, suporta uma forte carga e peso, quaisquer alterações no quadril vão afetar de forma significativa não só o próprio quadril, como as articulações adjacentes devido a sua interdependência durante a execução dos movimentos, como o caminhar.

Dessa forma sua reabilitação do quadril deve ser realizada visando a qualidade de vida e retorno a atividades o mais precoce possível.

E conhecendo os objetivos que devem ser alcançados durante esse processo, o método Pilates pode ser uma ferramenta eficaz para o fisioterapeuta na reabilitação das lesões de quadril, apresentando benefícios variados, quando aplicado de acordo com seus princípios, apresentando poucas contra-indicações.

Sendo que a maioria delas não impede a aplicação do método, apenas exige algumas alterações e cuidados, enfatizando que o método seja individualizado, o que já faz parte da vivência dos instrutores do método.


























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