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Vejo muito em meu dia-a-dia declarações do tipo: “Nossa, mas ela fez Pilates na gestação toda e não conseguiu parto normal?” Ou ainda: “Eu não vou fazer Pilates porque quero cesariana, então não adianta”.

Situações que me deixam um pouco triste e bastante preocupada em relação à quantidade de informação que essas pessoas – mais especialmente as mamães – têm em relação ao Pilates na gestação, e gostaria portanto, de compartilhar alguns pontos sobre esse assunto.

Primeiro precisamos entender que, a gestação é um período de mudanças extremas no corpo e no espírito das mulheres e que essas alterações acontecem de forma natural, mas que podem vir a incomodar, no que diz respeito a dores e desconfortos e que devem ser, acima de tudo, respeitados pelo instrutor na hora de preparar a sessão de uma gestante.

Mudanças Corporais durante a Gestação

Dentre muitas já conhecidas, destacamos algumas, como por exemplo:

  • Mecânica do Esqueleto: são devido às ações hormonais que aumentam a frouxidão ligamentar1 e promovem mudanças biomecânicas2 que provocam modificações estruturais na estática e dinâmica do esqueleto.
  • Marcha (a maneira como a gestante caminha): é uma atividade simples da vida diária e uma das principais habilidades do ser humano. Mesmo constituindo-se de um gesto natural, acredita-se que padrões diferenciados aconteçam durante sua realização com o processo de gestação. Estes podem acarretar dores e desconfortos durante outras atividades da vida diária e profissional3.
  • Equilíbrio: um bom equilíbrio é indispensável ao ser humano, pois está presente nas atividades do dia-a-dia, sendo seu controle e correto funcionamento atribuído aos sistemas sensorial, motor e sistema nervoso central4. Ajustes no sistema postural podem ser esperados com a gestação, advindos do crescimento do útero (anteriorizado dentro da cavidade abdominal), além do aumento no peso e no tamanho das mamas, que são fatores que contribuem para o deslocamento do centro de gravidade da mulher para cima e para frente, podendo acentuar a lordose lombar e promover uma anteversão pélvica e mudança na base de apoio5 provocando dores, quando o corpo da gestante não está preparado para receber tais mudanças.

Todos esses fatores podem ser evitados ou diminuídos com o advindo de uma atividade física.

Simples e fácil assim, legal né?

Qual Atividade Física deve ser feita na Gestação?

Tendo em vista todas as mudanças corporais da mulher nesse período é importantíssimo que ela prepare o seu corpo para receber essas alterações. Assim, a prática da atividade física durante a gestação complementa esse período e se torna essencial, seja qual for o exercício escolhido pela mulher.

É comprovado cientificamente que as mulheres sedentárias apresentam um considerável declínio do condicionamento físico durante a gravidez. Além disso, a falta de atividade física regular é um dos fatores associados a uma susceptibilidade maior a doenças durante e após a gestação6.

Os estudos também mostram que a manutenção da prática regular de exercícios físicos apresenta fatores protetores sobre a saúde mental e emocional da mulher, durante e depois da gravidez7.

Além do que, existem dados sugestivos de que a prática de exercício físico durante a gestação exerce proteção contra a depressão puerperal8. Ou seja, mamães ativas são mamães e bebês saudáveis!

Como o Pilates na Gestação pode ajudar?

O Pilates como forma de atividade física escolhida durante a gestação tem como objetivo principal o de cuidar da saúde da mãe e do bebê, ofertando maior conforto durante esse período mantendo a mãe ativa, seja qual for o tipo de parto desejado por ela.

Algumas mulheres preferem esperar até o segundo trimestre (12 semanas) para começar a atividade física. No Pilates, conseguimos trabalhar com essa gestante até antes desse período, com exercícios que visem a consciência corporal, respiração e contração de períneo, por exemplo.

No Pilates na gestação trabalhamos com as gestantes, o fortalecimento e o alongamento de forma geral, além de utilizar a respiração de forma consciente para melhorar a oxigenação do bebê e a conexão da mulher com as transformações do corpo.

Dividimos as aulas com gestantes de acordo com cada fase (trimestre) da gestação, adaptando para cada condição física da mulher, o que torna a sessão direcionada para gestante. Ou seja, muito mais segura do que quando compartilhada com outros pacientes que tenham outros objetivos.

Os benefícios para as mães durante o Pilates na gestação são vários, e conseguimos através do método:

  • Auxiliar no Controle do Peso
  • Melhorar a Qualidade do Sono
  • Melhorar e Aliviar a Condição Circulatória
  • Aliviar a Prisão de Ventre e Fadiga
  • Diminuir as Dores Musculares e Articulares que possam surgir, inclusive e muito importante, da musculatura do assoalho pélvico. Na literatura há alguns estudos envolvendo exercícios para a musculatura pélvica durante a gravidez. Eles são unânimes em afirmar os benefícios deste tipo específico de exercício como forma de prevenção à incontinência urinária associada à gravidez9,10
  • Fortalecer os Estabilizadores do Tronco
  • Aprimorar a Respiração de Forma Adequada
  • Orientar Posicionamentos mais Confortáveis

Na sessão direcionada para esse público, além de interagir com outras gestantes, as pacientes tiram suas dúvidas, compartilham anseios e crescimento como mães, o que também contribui muito para uma gestação saudável.

Elas aprendem muito, assim como nós instrutores, pois cada gestante e gestação é diferente uma da outra e precisamos entender como isso nos faz crescer como profissionais. É uma fase tão delicada e ao mesmo tempo tão empolgante de trabalhar, que nos permite uma relação mais fina com a paciente.

Pilates X Parto

É óbvio que especialmente no terceiro trimestre, conseguimos direcionar alguns exercícios que podem auxiliar a mãe no parto normal. No entanto se fizermos o mesmo exercício com uma gestante que deseja cesariana, não irá trazer malefício nenhum, nem para a criança nem para a gestante.

Sempre converso com minhas gestantes com relação ao parto escolhido no sentido que, iremos fazer tudo que é indicado para que a gestação e o parto ocorram como a gestante deseja.

Mas ela precisa estar preparada para algumas situações que podem ocorrer durante ou na fase final da gestação, como por exemplo:

  • Não ter dilatação suficiente durante o trabalho de parto
  • Não aguentar a dor
  • Alteração de pressão

Essas e outras situações que não temos controle e que podem mudar os planos da gestante e comprometer o parto escolhido.

Mas posso afirmar com toda certeza, se a gestante estiver ativa durante a gestação, ela irá conseguir superar essas situações tranquilamente.

Concluindo…

Portanto, o que as gestantes e familiares precisam entender, antes de tudo, é que o método Pilates na gestação NÃO é somente indicado para aquelas que desejam parto normal/natural/humanizado e sim para TODAS as gestantes e tipo de parto, que não tenham, obviamente, nenhuma contraindicação ao método.

A conclusão a que quero chegar é que as mãe devem ter consciência da importância de qualquer que seja o exercício desenvolvido durante a gravidez. E o Pilates na gestação por abordar tão especificamente os músculos que sofrem as alteraçãos fisiologicamente normais com essa fase pode ajudar e muito as gestantes, sendo o tipo de exercício mais indicado.

Minha dica é sempre procurar um profissional especializado em Pilates na Gestação e se manter ativa, pois isso proporcionará uma gravidez saudável e sem desconfortos.

 

Referências Bibliográficas
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  • MANN, L.; KLEINPAUL, J. F.; TEIXEIRA, C. S.; LOPES, L. F. D.; KONOPKA, C. K.; MOTA, C. B. Gestação: equilíbrio corporal, dor lombar e quedas. Brazilian Journal of Biomechanics, São Paulo, v. 9, n.18, p. 14- 21, 2009. Disponível em: http://143.107.170.186/ojs/index.php/rbb. Acesso em: 1 jul. 2009.
  • HORAK, F. B.; MACPHERSON, J. M. Postural orientation and equilibrium. In: ROWELL, L. B.; SHERPHERD, J. T. (ed.) Handbook of physiology: a critical, comprehensive presentation of physiological knowledge and concepts. New York: Oxford American Physiological Society, 1996. p. 255-292.
  • CONTI, M. H. S; CALDERON, I. M. P.; RUDGE, M. V. C. Desconfortos músculo-esqueléticos da gestação – uma visão obstétrica e fisioterápica. Femina, São Paulo, v. 31, n. 6, p. 531-535, 2003. Disponível em: http://www.febrasgo.org.br/?op=paginas&tipo=pa gina&secao=8&pagina=50. Acesso em: 12 nov. 2008.
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  • Sternfeld B, Quesenberry CP Jr, Eskenazi B, Newman LA: Exercise during pregnancy and pregnancy outcome. Med Sci Sports Exerc 27: 634-40, 1995.
  • [No authors listed]: SMA statement. The benefits and risks of exercise during pregnancy. J Sci Med Sport 5: 11-9, 2002. [ Medline ]
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