O joelho é uma das articulações mais complexas do corpo e também uma das articulações mais suscetíveis a lesões, em decorrência da sua estrutura anatômica, biomecânica, e das suas demandas funcionais.
Por estes motivos é muito comum receber no nosso Studio de Pilates pacientes que relatam dor e/ou lesões no joelho, como a lesão do menisco, assim também como pacientes pós cirurgia de joelho.
As lesões de menisco, juntamente com as lesões ligamentares, abrangem grande parte das lesões de joelho, dada a importância em conhecê-las, identificá-las e diferenciá-las para a elaboração de um programa de aulas adequado.
Este artigo irá abranger uma revisão anatômica e biomecânica das estruturas da articulação do joelho, os mecanismos da lesão do menisco, e a forma de reabilitação dessas lesões por Método Pilates.
Anatomia do Joelho![](https://blogpilates.com.br/wp-content/uploads/2018/01/Lesão-do-Menisco-1.png)
O joelho é uma articulação sinovial do tipo gínglimo, porém mais complexa, pois além dos movimentos de flexão e extensão, possui também um componente rotacional quando em flexão. Pode ser dividido em duas articulações:
- Fêmoro-Patelar
- Fêmoro-Tibial
A porção distal do fêmur é formada por dois côndilos que se articulam com a parte proximal da tíbia (o platô tibial), dividindo o joelho em dois compartimentos lateral e medial. A patela desliza no sulco formado entre os côndilos femorais. A fíbula não entra na articulação, ela apenas se relaciona com a parte proximal da tíbia.
Além das estruturas ósseas, a articulação do joelho é composta por:
- Cartilagem Articular
- Bursas Sinoviais
- Ligamentos
- Cápsula Articular
- Meniscos
- Músculos
- Tendões
Revestindo as extremidades ósseas há a cartilagem articular, que tem como função permitir o deslizamento normal da articulação e absorver os impactos. A estabilização da articulação é feita por fortes ligamentos (ligamentos cruzados anterior e posterior, e ligamentos colaterais laterais e mediais) e pela capsula articular.
Os meniscos são estruturas fibrocartilaginosas semicirculares localizados entre os côndilos femorais e o platô tibial, cujas funções são:
- Estabilização da Articulação do Joelho – juntamente com os ligamentos, mantendo a articulação alinhada durante a execução dos movimentos
- Transmissão de Forças – evitando que o peso corporal seja transmitido diretamente no ponto de contato entre fêmur e tíbia
- Absorção de Choques
- Nutrição da Cartilagem e Lubrificação Articular – melhora a distribuição de líquido sinovial
- Propriocepção – função não menos importante mas muitas vezes esquecida, por meio de mecanoceptores localizados na inserção da capsula articular
Os meniscos recebem vascularização apenas no seu terço periférico, o que explica a lenta resposta ao processo inflamatório e cicatricial.
Por fim, as estruturas músculo-tendinosas revestem a articulação do joelho que produzem os movimentos de flexão e extensão da perna, e também um certo grau de rotação, especialmente do côndilo lateral do fêmur em torno do eixo de rotação daquela articulação.
A flexão do joelho é realizada principalmente pelos músculos isquiotibiais (bíceps femoral, semitendinoso e semimembranoso) e por músculos auxiliares grácil, poplíteo e gastrocnêmio.
Já a extensão é realizada pelos músculos que formam o quadríceps (reto femoral, vasto lateral, vasto intermédio e vasto medial) e é auxiliada pelos músculos tensor da fáscia lata e glúteo máximo.
A rotação interna é feita pelos músculos semitendinoso, semimembranoso, sartório, grácil e poplíteo. E a rotação externa, pelos músculos bíceps femoral e tensor da fáscia lata e fibras laterais do músculo glúteo máximo.
Alguns destes músculos (reto femoral, vasto lateral, vasto medial, vasto intermédio, bíceps femoral, semitendinoso e semimembranoso) que movem a perna atuando na articulação do joelho são biarticulares, agindo sobre a articulação do quadril bem como sobre a do joelho.
O que é a Lesão do Menisco?![](https://blogpilates.com.br/wp-content/uploads/2018/01/Lesão-do-Menisco-5.jpg)
A lesão do menisco é ocasionada por forças excessivas de compressão e cisalhamento em meniscos normais ou degenerados.
A lesão meniscal na criança é extremamente rara. Em indivíduos jovens e adultos, a estrutura do menisco é mais resistente e elástica, portanto os mecanismos de lesão mais prováveis são causados por alguma atividade esportiva ou episódios traumáticos.
Causada principalmente em mudanças bruscas de direção, ou entorse com joelho flexionado ou semi-flexionado, submetendo o menisco à carga excessiva e comprimindo-o entre fêmur e tíbia.
Quando as lesões ocorrem nesses pacientes jovens e ativos (13 a 40 anos), é de extrema importância preservar e minimizar as alterações degenerativas.
Já com o passar da idade, inicia-se um processo de degeneração dos meniscos, com perda de elasticidade, hidratação e até vascularização, sendo que até movimentos de torções realizados nas atividades do dia a dia podem levar à lesão do menisco.
O menisco medial está mais aderido ao platô tibial sendo, portanto, menos móvel e mais suscetível à lesão. Já o menisco lateral é mais móvel, e mais resistente à lesão. A característica clínica da lesão é importante para determinar o tipo de tratamento e prognóstico.
A lesão do menisco pode ser classificada de acordo com o padrão de lesão ou pela vascularização. De acordo com os padrões da lesão (orientação e aparência), podem ser classificadas como obliqua, longitudinal (mais conhecida como lesão em alça de balde), transversa e horizontal.
E, de acordo com a vascularização, podem ser descritas como lesão da zona vermelha (área periférica e mais vascularizada), zona intermediária (irrigada apenas na área periférica), e zona branca (central e avascular). Vale ressaltar que quanto mais vascularizada a região, maior a probabilidade de cicatrização.
Grande parte dos pacientes com lesão do menisco apresentam também outras disfunções articulares associadas, como lesão do ligamento cruzado anterior associada à lesão do menisco medial.
Sintomas mais comuns Pós Lesão do Menisco
- Dor aguda no momento da entorse, podendo estar acompanhada de estalido;
- Dor localizada próxima ao menisco acometido ou dor generalizada na articulação do joelho;
- Dor na parte posterior do joelho (principalmente ao agachar e ao subir e descer escadas);
- Edema e derrame articular (devido ao sangramento do menisco e acúmulo de liquido sinovial);
- Bloqueio da amplitude da articulação do joelho (principalmente extensão);
- Dificuldade para deambular;
- A longo prazo paciente pode relatar atrito no joelho (devido ao desgaste articular).
O diagnóstico clinico da lesão do menisco é feito pelo médico ortopedista por meio de uma anamnese detalhada para descobrir o mecanismo de lesão e exame físico, que inclui:
- Palpação da Interlinha do Joelho
- Presença de Derrame Articular
- Limitação da Amplitude de Movimento
- Aplicação dos Testes Clássicos de Mc Murray, Apley e Steinmann
O exame de imagem mais utilizado para diagnostico complementar é a ressonância magnética, pois permite a observação de lesões associadas na cartilagem e/ou ligamentos.
Formas de Tratamento da Lesão do Menisco![](https://blogpilates.com.br/wp-content/uploads/2018/01/Lesão-do-Menisco-7.png)
As opções de tratamento da lesão do menisco variam de acordo com o tipo de lesão e acometimento meniscal.
Nos casos de lesões estáveis e parciais, cujos sintomas são bem tolerados pelo paciente, o tratamento conservador é indicado, com o uso de medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios, fisioterapia e redução/ limitação das atividades esportivas.
Porém o tratamento cirúrgico é indicado caso os sintomas permaneçam após o tratamento conservador, em casos de lesões com interposição de fragmento do menisco travando a articulação ou nos casos de lesões da zona branca (devido ao baixo potencial de cicatrização).
Hoje em dia a artroscopia é o método mais utilizado por ser minimamente invasivo, e o procedimento é escolhido de acordo com o acometimento meniscal (menistectomia total ou parcial, ou sutura meniscal), sempre preservando o máximo de menisco possível, evitando alterações degenerativas futuras.
Após liberação médica a fisioterapia é indicada tanto no tratamento conservador como no tratamento pré e pós-cirúrgico. O quanto antes for iniciada a fisioterapia, melhores serão os resultados na recuperação da função.
Os objetivos do tratamento fisioterapêutico baseiam-se na redução do quadro álgico e do processo inflamatório, restauração das amplitudes de movimento e da força muscular, trabalho de equilíbrio e propriocepção, restauração da marcha, e consequente retorno às atividades de vida diária e das atividades esportivas.
A fisioterapia possui muitas técnicas que podem ser utilizadas nas lesões meniscais, dente elas estão a cinesioterapia, eletroterapia, crioterapia, massoterapia, terapias manuais, acupuntura, e também o Método Pilates.
Pilates no Tratamento da Lesão do Menisco![](https://blogpilates.com.br/wp-content/uploads/2018/01/Lesão-do-Menisco-6.png)
O Método Pilates pode ser aplicado como um método de prevenção e reabilitação de diversas patologias do joelho, como no caso da lesão do menisco, justamente pelo fato de trabalhar a precisão do controle muscular, coordenação e fluidez do movimento, sem impor desgaste articular.
O fato de os exercícios serem realizados seguindo os princípios do Método, de maneira lenta e progressiva, individualizados e supervisionados por fisioterapeutas devidamente qualificados, também fazem dele uma ótima escolha para o tratamento.
É de grande importância para o tratamento da lesão meniscal o conhecimento da fase em que o tratamento se encontra, a idade do paciente, as limitações funcionais e atividades que praticava antes da lesão.
Uma avalição criteriosa das amplitudes articulares do joelho e articulações associadas (quadril e tornozelo), das funções musculares, das limitações funcionais e do impacto da lesão na marcha devem ser realizadas para que a partir daí o instrutor possa elaborar o programa de tratamento especifico para o paciente.
Os objetivos gerais do tratamento por meio do Método Pilates incluem a diminuição da dor e do processo inflamatório, recuperação da mobilidade do joelho, estabilização articular, restauração da forca muscular, e melhora do equilíbrio, coordenação e do alinhamento corporal.
Para se ter uma articulação saudável é necessário o equilíbrio entre músculos fortes e flexíveis.
Na fase inicial do tratamento são indicados exercícios de mobilização articular passiva e ativa sem o uso de carga, e o trabalho de isometria de isquiotibiais e quadríceps.
Podem ser incluídos exercícios de alongamento ativo nesta fase, para a redução de tensões musculares, melhora da amplitude de movimento, ativação da circulação, diminuição do atrito entre as estruturas articulares e estimulação dos mecanorreceptores.
Logo após, podemos inserir gradualmente os exercícios de cadeia cinética fechada, com o trabalho de força dinâmica, inicialmente bilateral, progredindo para apoio unilateral que exige um maior recrutamento muscular.
Esses exercícios de fortalecimento são imprescindíveis para estabilizar a articulação. A estimulação proprioceptiva é também essencial, porém em fase mais avançada do tratamento, para melhora do controle neuromotor, do equilíbrio e da marcha.
Devemos lembrar sempre que o trabalho deve ser global, enfatizando também a mobilização e reforço muscular das estruturas adjacentes, como coluna, quadril e tornozelo, e também o membro contralateral à lesão, pois este também pode apresentar perda de força e função.
Progressivamente o paciente irá relatar melhora da dor e função, retornando às atividades normais.
Principais Exercícios para Reabilitação da Lesão do Menisco![](https://blogpilates.com.br/wp-content/uploads/2018/01/Lesão-do-Menisco-8.png)
1) Knee Extension
Objetivo: fortalecimento de quadríceps, glúteo máximo e abdominais.
Posição Inicial: paciente em decúbito dorsal na meia lua, cabeça apoiada no solo, e coluna lombar encaixada na meia lua. Membros superiores ao lado do corpo, membros inferiores elevados com quadril e joelhos flexionados.
Movimento: paciente deve realizar a extensão de joelho, retornando à posição inicial.
*Variação: pés em posição de V com quadril em rotação externa.
2) Alongamento Lateral no Barrel
Objetivo: alongamento de adutores de quadril.
Posição Inicial: paciente ao lado do Barrel, joelhos estendidos, um membro inferior apoiado no solo e outro membro inferior com quadril abduzido e apoiado no Barrel. Membros superiores com ombros abduzidos na altura dos ombros.
Movimento: paciente deve realizar a flexão lateral de coluna, abduzindo o ombro contralateral ao Barrel, retornando à posição inicial.
3) Tower
Objetivo: fortalecimento de quadríceps, tríceps sural, e alongamento da musculatura posterior.
Posição Inicial: paciente em decúbito dorsal no Cadilac, membros superiores ao lado do corpo e membros inferiores com quadril e joelhos flexionados e pés apoiados na barra torre.
Movimento: paciente deve realizar a extensão dos joelhos e quadril, retornando à posição inicial.
*Variação 1: mesmo movimento e posição anterior, porem com os pés apoiados em V, em rotação externa do quadril. para ativação da musculatura adutora do quadril.
*Variação 2: mesmo movimento que o anterior e posição anterior, porém com apoio unilateral.
4) Hip Stretch
Objetivo: fortalecimento de quadríceps, glúteos, tensor da fáscia lata e alongamento de adutores.
Posição Inicial: paciente em decúbito lateral no Cadilac, membro inferior do aparelho com joelho estendido, e membro inferior contralateral ao aparelho com joelho e quadril flexionados e pé apoiado na barra torre.
Movimento: paciente deve realizar a extensão do joelho e quadril, retornando à posição inicial.
5) Front Splits – Variação
Objetivo: fortalecimento de glúteo máximo, alongamento de quadriceps, alongamento de isquiotibiais.
Posição Inicial: paciente em pé, ao lado do Reformer, o membro inferior contralateral ao aparelho como membro de apoio no solo. O outro membro inferior com quadril em hiperextensão, joelho flexionado e pé apoiado no aparelho. Membros superiores apoiados na barra a frente.
Movimento: paciente deve realizar a extensão de quadril e de joelho do membro inferior sobre o aparelho, o membro inferior de apoio realiza a flexão do quadril e joelho e, após, retorne à posição inicial.
Restrição de Exercícios para Pacientes com Lesão do Menisco![](https://blogpilates.com.br/wp-content/uploads/2018/01/Lesão-do-Menisco-4.jpg)
Exercícios que causam dor devem ser restringidos, bem como amplitudes máximas de movimento da articulação afetada. Posturas ajoelhadas não são indicadas durante o tratamento devido à sobrecarga na articulação.
Movimentos de hiperflexão e rotação do joelho com o pé fixo no solo também são proibidas, por serem os mecanismos de lesão do menisco.
Cuidados a serem tomados!
Como o tipo e evolução da lesão bem como a resposta ao tratamento variam de acordo com o paciente, devemos ficar sempre alertas aos sinais de esforço relatados pelo paciente, como dor e inchaço articular pós exercício ou desconforto durante a execução dos exercícios.
Devemos tomar bastante cuidado com os ângulos dos movimentos trabalhados, favorecendo os ângulos funcionais e evitando as amplitudes máximas nos exercícios.
As cargas e o número de repetições dos exercícios devem ser trabalhadas de forma gradual e progressiva, evoluindo também os exercícios de apoio bilateral para apoio unilateral.
Seu paciente irá ser o seu guia durante o tratamento, demos ficar sempre atentos a ele.
Concluindo…![](https://blogpilates.com.br/wp-content/uploads/2018/01/Lesão-do-Menisco-3.png)
O joelho é uma das maiores articulações do corpo e uma das mais vulneráveis à lesão, acarretando inúmeras limitações funcionais quando lesionado.
Nos casos de lesão do menisco – estrutura fibrocartilaginosa importante para estabilização da articulação do joelho – tanto o tratamento conservador como o tratamento pré e pós-cirúrgico podem ser feitos por meio do Método Pilates.
O Pilates é um ótimo recurso para a reabilitação de lesões em geral, com poucas contra-indicações relativas, o que permite sua ampla aplicação e que propõe muitos benefícios, que vão desde diminuição do processo inflamatório ao ganho de amplitude de movimento, flexibilidade e força muscular.
Os exercícios propostos pelo Pilates são livres de impacto, sobrecarga articular e compensações, e podem ser realizados por qualquer paciente, desde atletas e idosos (indivíduos mais suscetíveis a este tipo de lesão meniscal), sempre respeitando as condições suas condições individuais e os princípios do Método.
Referências Bibliográficas
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SOCIEDADE BRASILEIRA DE ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA. Projeto Diretrizes: Lesão Meniscal. 2008