Em uma avaliação, você identificou que seu aluno possuía pouca mobilidade torácica. Nada surpreendente até aí, esse é um caso que acontece com frequência devido aos hábitos sedentários. Inicialmente, só a falta de mobilidade articular da coluna chamou a atenção, por isso, você começou a utilizar mais exercícios para esse fim durante a aula.
Mas algo estava errado, os resultados não estavam sendo tão eficientes quanto você esperava; ele também tinha dificuldades para agachar e até se alongar. Além disso, o aluno apresentava um valgo de joelho durante a corrida. Esse era um caso bem mais complexo que combinava rigidez torácica e do quadril.
Quer aprender a conexão entre essas duas regiões e como melhorar seu tratamento em aula? Então continue lendo! Vamos entender como a falta de mobilidade articular pode causar outros desequilíbrios do corpo.
Biomecânica da coluna torácica
Ao contrário de outras articulações do corpo, as vértebras possuem uma mobilidade articular muito limitada. Por isso, só é possível ter sua mobilidade articular quando elas estão juntas do todo na coluna vertebral.
As estruturas da coluna torácica são ainda menos móveis que o restante da coluna, especialmente por conta de sua anatomia.
Uma vértebra padrão possui os seguintes elementos:
- Corpo: é um segmento cilíndrico que realiza a sustentação da coluna vertebral;
- Processo espinhoso: é um arco ósseo situado na porção média e posterior da vértebra;
- Processo transverso: prolongamentos laterais da vértebra que possuem função de sustentação;
- Processo articular: existem quatro deles e são utilizados para conectar as vértebras entre si;
- Lâmina: existem do lado esquerdo e direito e fazem a conexão entre o processo espinhoso e transverso;
- Pedículo: parte que liga o processo transverso ao corpo;
- Forame vertebral: fica na parte posterior do corpo vertebral e protege as estruturas nervosas que passam pela coluna vertebral.
Como disse, essa é a estrutura de uma vértebra padrão. Cada região da coluna vertebral possui pequenas alterações para adaptá-la às suas funções. O mesmo ocorre com a coluna torácica. Suas vértebras possuem, além de todas as estruturas, a fóvea costal. Essa região conecta a torácica com as costelas.
Existe uma conexão entre coluna torácica e caixa torácica, tanto nos movimentos quanto nas estruturas articulares. Por causa dela, a mobilidade articular da região é naturalmente mais limitada. Essa parte da coluna nunca será tão móvel quanto a lombar, por exemplo.
A região com menor mobilidade da coluna está entre T1 e T7, que também é a área na qual se encontram as costelas em que as escápulas estão fixadas. Os movimentos torácicos nessa região são responsáveis por permitir o movimento completo das escápulas e, portanto, a movimentação em maiores amplitudes dos ombros.
Biomecânica do quadril
Parece que passamos das estruturas de uma articulação para outra completamente diferente, não? Fique calmo que logo você perceberá de forma mais clara como elas estão conectadas. Aqui estamos falando do quadril, uma estrutura articular que também possui maior tendência à estabilidade. Ele é formado pela junção da pelve e do fêmur.
A pelve, por sua vez, é formada por:
- Ísquio;
- Púbis;
- Ílio.
O quadril é uma articulação em formato de esfera e de tipo sinovial. Seu formato já garante uma maior estabilidade, graças à estrutura do acetábulo. Essa cápsula é a região na qual o fêmur se conecta com o quadril. Ele possui uma cartilagem hialina recobrindo-o para aumentar a estabilidade e diminuir o impacto causado nas estruturas ósseas. Também possui uma camada de gordura fibroelástica, que é recoberta pela membrana sinovial.
Outra estrutura estabilizadora importante é o lábio acetabular. Esse é um anel fibrocartilaginoso, localizado na borda do acetábulo, que aumenta a congruência articular.
As estruturas da articulação estão rodeadas de ligamentos para aumentar ainda mais sua estabilidade. Mas existe um motivo para toda essa proteção na região: o quadril tem como função primária sustentar e transferir o peso em posições dinâmicas e estáticas.
O quadril realiza os seguintes movimentos:
- Flexão/extensão;
- Abdução/Adução;
- Rotação medial/rotação lateral.
Assim como a coluna torácica, o quadril tem uma forte tendência à rigidez e falta de movimento.
Conexão entre Coluna Torácica e Quadril
A conexão da mobilidade articular de coluna torácica e quadril acontece de diversas maneiras. A primeira delas é através da cadeia muscular reta e cruzada do tronco. Essas musculaturas realizam uma conexão direta entre quadril e ombros que, por sua vez, dependem da coluna torácica para os movimentos.
Quando encontramos um caso no qual a falta de movimento torácico impede a movimentação de ombro, é comum encontrar dor homolateral ou no lado oposto do quadril. A tensão das cadeias musculares é transferida para essa articulação, gerando desequilíbrios musculares.
E as compensações não param por aí! Apesar de tensionado e pouco móvel, o quadril não perde suas funções, por isso precisa criar condições para os movimentos do corpo. Isso geralmente se manifesta na forma de um valgo ou varo dinâmico de joelho.
Seu aluno por acaso apresenta varo ou valgo de joelho na corrida? Talvez esse seja um dos problemas causadores.
Temos que ver o corpo como uma estrutura única. Não é possível separar uma articulação sem mobilidade articular para trabalhar durante a aula porque simplesmente não seria eficiente.
As compensações geradas por uma coluna torácica imóvel se espalham, afetando o quadril e prejudicando a sustentação do corpo.
A base é inclusive uma de nossas preocupações durante o tratamento do aluno com falta de mobilidade. Falta de força em musculaturas de sustentação, como glúteos e core, são importantes causadores de desequilíbrios. Eles podem impedir a coluna torácica de se mover corretamente por não oferecerem suporte ao movimento.
Quando o glúteo máximo está pouco ativado, ele ainda gera um desvio de quadril, que também afeta a coluna lombar no movimento.
Como trabalhar mobilidade articular na aula
Já que o corpo é interconectado e precisamos trabalhá-lo de maneira global, só existe um jeito de realmente melhorar a mobilidade articular: usando exercícios integrados.
Ao invés de inserir somente exercícios para melhorar a mobilidade torácica ou do quadril, tente trabalhar as duas articulações ao mesmo tempo.
Isso é completamente possível e te deixa com opções muito interessantes de exercícios. Quer prova? Confira os exemplos de exercícios abaixo:
Os movimentos demonstrados no vídeo trabalham com mobilidade torácica e movimentos do quadril. Eles também utilizam as possibilidades do Reformer para realizar fortalecimento de core e glúteos, auxiliando na sustentação corporal.
Além de bastante eficientes, esses movimentos também servem de preparatórios para outros movimentos de torácica e quadril na aula.
Conclusão
A visão global do corpo é um princípio que devemos seguir à risca. Quando você identifica falta de mobilidade articular na coluna torácica, fique atento, o quadril também estará rígido!
O corpo reage à falta de mobilidade através de alterações complexas que prejudicam desde os membros superiores até joelhos e tornozelos. Portanto, toda a base de sustentação do corpo fica prejudicada.
Quer melhorar seus resultados? Então continue aprendendo com mais algumas matérias sobre mobilidade nas aulas de Pilates: