O aquecimento físico de uma aula de Dança Árabe segue alguns procedimentos que envolvem mais do que “aquecer” o corpo.
Esse momento é crucial para a “chegança” das alunas e é onde ela desconecta do mundo e começa a acionar os mecanismos corporais para entrar com o código da Dança Árabe.
Assim, ele segue alguns processos para enfoques diferentes e que juntos potencializam o andamento da aula. Os procedimentos são:
- Acordar o Corpo
- Fortalecimento de Centro de Força – Membros Inferiores e Superiores
- Alongamento
- Ativação de Movimentos de Grupos Específicos de Dança Árabe
1) Acordar o Corpo
O momento do acordar o corpo é muitas vezes ignorado por muitos profissionais durante o aquecimento físico.
Esse momento é muito importante, pois estimula a conexão emocional com aquele momento e desconecta do mundo “fora aula”.
Ele serve também para evitar lesões, e acionar os líquidos sinuviais do corpo como um todo, ou seja, é momento de estabelecer a relação holística que a Dança Árabe já proporciona.
Esse momento também pode ser produzido e estimular o sistema sensório através de procedimentos de organização corporal, ou mesmo que estabeleça ações do corpo que exerçam o poder de desconectar a mente do mundo externo.
Como fazer?
Se eu tiver pouco tempo?
Caso você tenha pouco tempo para o aquecimento físico, o ideal é “sacudir” cada membro ou região, acionar “pequenos pulos” que estimulem os líquidos do corpo. Geralmente essa dinâmica é usada para turmas maiores, com mais tempo de dança, que já possuem certa consciência corporal.
Para acordar órgãos internos e também dependendo da energia da turma, é legal utilizar brincadeiras como pequenos gritos usando palavras curtas e motivadoras como “feliz”ou “linda”, e até mesmo gritos de luta como “Rá”. Esses gritinhos extravasam e ajudam o processo cognitivo da aluna.
DICA: Não é recomendado para turma iniciante ou primeiros dias de aula de Dança Árabe! A turma que inicia na dança precisa se “apropriar do corpo” com maior clareza e direcionamento e por isso é interessante que você escolha determinada região do corpo para ser acionada nesse acordar.
Se eu tiver um tempo maior?
Quando você reserva um tempo maior para o momento de “acordar” é interessante estabelecer uma sensibilização direcionada.
Escolha uma região do corpo e inicie a conscientização pela parte óssea, pois ela intensifica a sensação compacta e profunda do corpo.
Aulas de Deslocamentos com Apoio e Base Plantar
- Pegue uma bola de tênis com os pés paralelos, cedendo o peso do corpo para o chão.
- Deixe a bolinha no chão pisando sobre ela por uns 3 minutos.
- Direcione o início da sensibilização pelo centro do pé (metatarsos), segundo momento nas pontas dos pés direcionando o espaços entre as falanges procurando não tencionar os dedos. E por último no calcanhar e apoio dos dedos no chão.
- Volte para o centro do pé e realize pequenas rotações en dehor (para fora) e en dedan (para dentro) já acionando acetábulo do fêmur.
- Importante que a aluna entenda que essa rotação vem do quadril não dos pés.
- Após sensibilizar esse pé induza o apoio do mesmo e solicite que a aluna perceba a diferença de um pé para o outro.
Aulas de Movimentação de Braços
- Sugiro um trabalho em dupla que mobilize os ossos clavícula, escápula, úmero, radio ulna e ossos das mãos, direcionamento das espirais do braço acionando principalmente tríceps, bíceps e romboides.
- Em pé uma aluna massageia a região trapézio, bíceps/tríceps, antebraço e mãos.
- Após uma massagem muscular a sensibilização pela parte óssea se inicia.
- Comece com clavícula, onde a aluna possa sentir o osso, descendo pela escápula, indo para cabeça do úmero, o próprio úmero, cotovelo, radio ulna e quando chegar às mãos estimular a “continuidade do braço” pelo falange mediana.
- Propor os espaço das articulações sem hiperestender.
- Sugira que a aluna puxe levemente o dedo mediano para garantir os espaços articulares e amplitude do braço.
- Quando acabar a massagem de um braço e quando for trocar de aluna peça que elas percebam a diferença de um para o outro e que percebam a diferença de receber e realizar a massagem sensibilizadora.
Aulas de Movimentação de Quadril
- Para essa sensibilização sugiro que aluna deite no chão, com colchonetes finos ou algum pano.
- Com uma bola de tênis na região sacral ela realize o exercício do relógio pélvico de Feldenkrais1 (teórico da dança que estabeleceu um método próprio para o acionamento/engajamento da região pélvica – muscular e óssea – através do exercício do relógio pélvico.
- Esse exercício consiste em estabelecer a imaginação de um relógio sobre a pelve sendo 6 horas a região do assoalho pélvico, 12 horas a parte pubiana, 3 e 9 horas as espinhas ilíacas.
- Com a bolinha no sacro estimule que a aluna contraia o assoalho pélvico na movimentação que vai acontecer.
- Peça que ela aponte para 6 horas realizando leve anteversão (desencaixe) da pelve.
- Peça que aponte para 12 horas realizando a retroversão (encaixe Maximo) da pelve.
- Após isso peça que a aluna estabeleça um meio termo entre as duas movimentações estabelecendo assim a “pelve neutra”.
- Peça que aponte para as 3 e 9 horas realizando uma leve queda lateral do quadril e volte para a pelve neutra.
- Em seguida brinque com as horas peça que ela passe por todas as horas, sem perder o acionamento da contração do assoalho pélvico.
Aulas que Trabalhem Região Torácica
Para essas aulas é necessário dois tipos de mobilização: coluna e costelas.
COLUNA: Em duplas e de costas, peça que a aluna mobilize a outra. Inicie a sensibilização da região cervical indo para lombar. Peça que a aluna perceba cada espinha vertebral e balance-as delicadamente.
COSTELAS: Em duplas e sentadas peça à aluna que mobilize posicione as duas mãos em volta da costela da outra. Solicite algumas respirações profundas para que ambas as alunas percebam o trabalho dos músculos intercostais e diafragma.
Obs.: Para as duas mobilizações é necessário que a aluna fique um pequeno tempo se apropriando da sensibilização que a outra moveu nela.
Obs2.: Na Dança Árabe é comum que necessitemos sensibilizar uma ou duas regiões que alcancem o objetivo final de aprender determinado movimento do código da Dança Árabe. Para deslocamentos, por exemplo, será necessário o trabalho de pés e torácica ou para movimentações do quadril talvez seja necessário estimular a base plantar para que a aluna entenda o peso gravitacional gerado pela pelve.
2) Fortalecimento de Centro de Força
O centro de força ou powerhouse na Dança do Ventre é algo novo.
A proposta é utilizar esse mecanismo para melhorar a performance do corpo, acionar, controlar os movimentos, melhorar equilíbrio, intensificar os gestos expressivos e a totalização do corpo para a movimentação dançante.
Esse centro acionado também possibilita que a bailarina desenvolva maior clareza para as movimentações dos quadris, durante as aulas de Dança Árabe.
Como fazer?
1) Hundred
Objetivo: Melhorar o core, auxiliar no equilíbrio, fortalecimento do abdome, melhora a potência da energia.
Posição: Deite em decúbito dorsal. Esse exercício pode ser realizado com as pernas flexionadas ou estendidas.
Execução: Com as pernas flexionadas – mantenha os joelhos flexionados na largura do quadril. Estenda uma das pernas a 90 graus e, logo em seguida, estenda a outra, mantendo as 2 pernas estendidas nesse ângulo. Inspire e eleve a cabeça do colchonete (ao mesmo tempo). Movimente os braços estendidos ao longo do corpo para cima e para baixo, como em um bombeamento. Inspire e expire durante 5 movimentos e, em seguida, retorne à posição inicial.
Com as pernas estendidas – Realize o mesmo procedimento acima, porém, partindo da posição inicial com as pernas estendidas.
2) Swimming
Objetivo: Fortalecimento de glúteos e paravertebrais, melhora a movimentação do quadril l e mobilização da coluna.
Posição: Deite em decúbito ventral, com as pernas em paralelo e os braços ao longo do corpo. A ponta do nariz deve ficar voltada para o colchonete. Tome cuidado para não arquear a coluna lombar.
Execução: Inspire e eleve a perna direita e o braço esquerdo lentamente. Expire e retorne à posição inicial. Inspire e, dessa vez, repita o movimento com a perna e o braço contrário. Expire e retorne à posição inicial.
3) Banquinho
Objetivo: Fortalecimento de pernas e centro de força
Execução: Encostada na parede, a aluna mantém a flexão de 90° dos joelhos e quadris, com as pernas na linha dos quadris. O sacro desencosta da parede. Solicitar uma serie de 3 repetições permanecendo sentada durante 30 segundos.
4) Meia Ponta – Fortalecimento de Panturrilha
Objetivo: Fortalecer gastroecnemio
Execução: Com a ajuda do centro de força na primeira posição, ou em paralelo, solicitar a elevação na meia ponta. Série de 3 repetições com 10 elevações para cada.
5) Flexão de Joelhos
Objetivo: Quadríceps, glúteos e posteriores
Execução: Pode ser realizado da maneira tradicional em paralelo, com joelhos na linha dos pés, flexionando os joelhos e levando o quadril para trás realizando séries de 20 a 30 flexões com 3 repetições.
Pode ser realizado também em segunda posição com rotação para fora e quadril alinhado e flexionando para um plie.
Manter o plie realizando leves bombeamentos. Repetir um bombeamento que 30 a 40 segundos dependendo da resistência das alunas.
6) Braços
Geralmente os braços são trabalhados nos exercícios de flexão de joelhos, banquinho ou meia ponta alta, em isometria, mantendo-os posicionados contribuindo inclusive com o alinhamento do corpo no exercício.
Caso necessite de um fortalecimento direcionado solicite que as alunas fiquem em prancha com flexão de joelhos e cotovelos realizando leves bombeamentos.
3) Alongamento
O momento para o alongamento, diferente do que se pensa, acontece melhor durante os exercícios. Ou seja, indico a realização dos alongamentos nos intervalos dos exercícios de fortalecimento.
Obs.: Nunca realizar alongamento com o corpo frio.
Como fazer?
Braços: Alongar braços lateralmente estimulando espaço articular e mobilização da coluna.
Pernas: Flexão de quadril, pernas em triângulo, soltar coluna e o peso da cabeça. Fazer variação transferindo peso para uma das pernas e depois flexionando cada perna estendendo a outra.
Quadril:
1- Ficar alguns segundo de “cococas”, variar esticando uma das pernas com a base do calcanhar no chão e virando lateralmente, produzindo uma rotação de acetábulo.
2 – Sentada com as pernas em abertura elevar o quadril usando o apoios dos braços pelas costas e torcer as pernas.
4) Ativação de Movimentos de Grupos Específicos de Dança Árabe
Após todos os procedimentos anteriores é que entramos com o aquecimento tradicional, também importante, de movimentações características do código da dança árabe.
Reserve uma música agitada e dinâmica para trabalhar movimentos dos grupos de diretos ou subdiretos como batidas laterais e tremidos ou uma música intermediaria para trabalhar com o grupo de sustentados.
Nesse momento é interessante retomar o que foi passado na aula anterior ou já propor movimentos novos para aula, desde que não seja super elaborados e as alunas consigam acompanhar na dinâmica da “cópia e reprodução”.
Esse tipo de aquecimento é importante, pois é onde nos relacionamos com a musica de maneira mais “descompromissada” e aqui também já estabelecemos conexão com a expressividade tornando esse momento divertido.
Repare se as alunas estão conseguindo acompanhar esses movimentos da dança árabe e, caso não estejam, mude rapidamente para uma movimentação mais fácil ou realize-os mais devagar.
Esse momento traz um “bem estar” à aluna de conseguir acompanhar sua professora portanto movimentações muito elaboradas podem resultar o efeito contrario, sendo frustrante para aluna.
Não elabore demais esse momento, repita os movimentos algumas vezes até que a aluna entenda sua dinâmica e principalmente divirta-se dançando com elas.