Estima-se que, só no Brasil, existam quase 11 milhões de pessoas participando de corrida de rua, número esse que se divide entre atletas profissionais e amadores. Uma das modalidades que mais ganham adeptos no país e atrai cada vez mais, principalmente por sua versatilidade, fácil acesso e dinamismo.
Assim como aumenta gradativamente o número de atletas inseridos nesse meio, também aumentam as lesões, e nessa hora o profissional mais procurado é sem dúvidas o fisioterapeuta. Mas você se sente capaz para essa demanda?!
Então eu te pergunto: você sabe a real responsabilidade que possui enquanto profissional na prevenção, reabilitação e retorno à corrida de rua, não é mesmo?! Se ainda tem dúvidas, vem comigo e confira.
Corrida de rua X impacto
O que mais ouvimos por aí é que o impacto é um fator negativo para nossas articulações, mas será que isso procede?
O impacto é fundamental para que nossas articulações sejam estimuladas para o aumento da massa óssea, já que sem ele não há o processo de desenvolvimento músculo esquelético. Entretanto, devemos ficar atentos ao excesso, porque isso sim irá provocar disfunções.
Contudo, para controlar isso levamos em consideração a capacidade x demanda do nosso corpo e suas estruturas. O desequilíbrio entre a capacidade e a demanda que irá ocasionar as lesões musculares.
Portanto, de forma explícita, precisamos buscar essa proporcionalidade entre a capacidade de suportar carga do paciente ou atleta de acordo com demanda que é imposta a ele durante seus treinamentos e competições, sejam elas amadoras ou de alto rendimento.
Biomecânica em corrida de rua
Sob um olhar mecânico e mais quantitativo do músculo, vamos compreender as funções musculares e as estruturas que se correlacionam entre si no decorrer do gesto esportivo, bem como em fases distintas, mas imprescindíveis para um atleta assim como na musculação, Pilates e outras modalidades que contribuem para a potência no esporte.
Por exemplo, quando realizamos uma flexão de quadril durante um treino de subidas em velocidade significativa, a sobrecarga é a mesma que quando reproduzimos a flexão de quadril durante uma sequência de MAT Pilates?
Se questione se a amplitude é a mesma, se as condições do tempo e espaço são parecidas e, diante dessas reflexões, traga para seu paciente o ambiente mais próximo ao real. Também se atente às fases da corrida de rua.
De forma descomplicada, temos a fase de contato em que o calcanhar toca direto ao solo e logo em sequência a fase aérea, que nada mais é que a fase do balanço.
Nessa fase inicial, nossos músculos precisam de força excêntrica para amortecer predisposição a flexão de joelho e quadril, e é justamente nessa fase onde ocorrem as lesões e fraturas por estresse.
Por isso se faz necessário avaliar a força de propulsão e estratégias musculares que seu aluno utiliza durante o esporte, buscando sempre economia de energia, uma melhor absorção de impacto e, consequentemente, um movimento mais funcional.
O aumento da fase aérea por sua vez leva a diminuição da passada, reduzindo o pico de impacto, e diminuindo a sobrecarga articular e a probabilidade de lesões.
Esses e outros padrões só devem ser alterados se forem a fim de promover eficiência muscular. Mudanças por estética só devem acontecer em últimos casos e de forma que não interfira na funcionalidade do movimento.
Avaliação biomecânica na corrida
É importante avaliar desvios posturais, tipo de pisada, encurtamentos em grupos musculares mais utilizados como flexores e extensores de quadril, hipoativação da região glútea, força dos extensores da coluna, do transverso abdominal entre outros.
É primordial levar em consideração a queixa principal do atleta e correlacionar ela com os achados clínicos acima.
Para acompanhamentos mais adequados, o ideal é solicitar vídeos do seu aluno durante o esporte ou até mesmo filmá-lo em esteira ou durante a corrida de rua, de modo que tenha em mãos uma visão ampla, sendo ela anterior, posterior e lateral.
A avaliação cardiorrespiratória, em conjunto com outros profissionais, também é muito bem-vinda e irá agregar ainda mais no decorrer da prevenção, reabilitação ou retorno ao esporte do seu paciente.
Pilates para corredores
Durante sua execução a corrida possui apoio unipodal, isso é, um dos fatores que a diferenciam de outros esportes.
Por isso, durante a sua aula não podem faltar sequências que exigem este apoio, assim como exercícios que demandem recrutar força dos membros inferiores, principalmente glúteos que normalmente têm certa dificuldade de ativação.
Outros quesitos indispensáveis quando o assunto são as corridas para inserir na sua aula:
- Promover consciência corporal através de comando de ajustes posturais e buscar o controle motor eficiente durante a execução;
- Potencializar músculos estabilizadores do tronco para ter capacidade muscular de reduzir sobrecargas de membros inferiores;
- Viabilizar exercícios dinâmicos e em posições que se assemelham ao gesto esportivo;
- Preparar exercícios que aperfeiçoem a mobilidade articular, principalmente de quadril e tornozelo;
- Trabalhar os pés que na maioria das vezes são esquecidos por todos nós, levando a patologias como a fascite plantar.
Conclusão
Em suas aulas, use bastante afundos, agachamentos em diferentes amplitudes. Exercícios como a elevação pélvica bipodal e unipodal na bola suíça são ótimos para promover essa instabilidade que o atleta se submete em treinos de asfalto e trilhas.
O Reformer e a Chair, por sua vez, também são aparelhos aliados nessa seleção de exercício para corredores, pois possuem uma das sequências de exercícios mais próximas ao gesto utilizado durante a corrida de rua.
Por fim, diversifique a aula com acessórios, mas lembre-se que o básico bem feito já é o suficiente para ótimos resultados.
Bem detalhado em tudo que se propôs a dissertar! Parabéns !!